“Estamos nisto juntos”

por Arsenio Reis

Em resposta ao PLATAFORMA, o porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tarik Jašarević, realça que a decisão de declarar o “estado de emergência global de saúde pública” implica coordenação, cooperação e solidariedade globais. “A decisão é um alerta de que estamos nisto juntos e que a melhor forma de resolver o problema é trabalhando em conjunto”, refere Tarik Jašarević por escrito ao PLATAFORMA. O responsável acrescenta que: “O Conselho de Emergência assim como a OMS acreditam que ainda é possível impedir que o vírus se espalhe, tendo em conta que os países implementaram cedo fortes medidas para detetar a doença, isolar e tratar pacientes, identificar as pessoas que tiveram contacto com alguém com o vírus assim como promoveram medidas de distanciamento social proporcionais ao risco”. Ao jornal, Tarik Jašarević insiste numa mensagem que a OMS tem reiterado desde que o surto se tornou preocupação mundial: a de que a maioria dos casos foi registada na China continental e que os restantes que surgiram noutros territórios tinham ligação direta a Whuhan ou outras partes da China. “Agradecemos a liderança e compromisso político de todos os altos oficiais do Governo chinês, o compromisso e transparência, e os esforços que fizeram para investigar e conter o surto”, remata a OMS. 

– A OMS tem sido alvo de críticas pela forma como tem agido. Há quem vos acuse de terem sido negligentes, por exemplo, por não decretarem “emergência global de saúde pública” logo e por terem afirmado que era precipitado a decisão de fechar cidades na China. Como respondem às críticas?

Tarik Jašarević– Nos dias 22 e 23 de janeiro, o diretor da OMS convocou o Comité de Emergência para que lhe explicasse até que ponto a situação na China constituía uma situação de “emergência global de saúde pública”. O comité estava dividido, e o diretor decidiu não decretar. Isso não significa que a OMS não esteja a levar com extrema seriedade o que se está a passar. Estamos a trabalhar em contra relógio na China, regional e globalmente para perceber tudo sobre o vírus o mais rápido possível, e apoiar os países no sentido de se prepararem e responderem. 

– Não havia motivos para decretar emergência global?

T.J. – Com base no aumento contínuo do número de casos, e depois de provado que houve transmissão humana fora da China, o diretor da OMS decidiu reunir com o Comité de Emergência de novo a 30 de janeiro. O comité voltou a reunir-se depois para analisar até que ponto teria de se declarar “emergência global”.

– E sobre o encerramento de cidades chinesas?

T.J. – Sobre esse assunto, o diretor afirmou: “O papel da OMS é dar diretrizes e recomendações de saúde pública racionais e cientificamente provadas  aos países, comunidades e indivíduos. A China é uma nação soberana com autonomia para tomar decisões que acredita serem do interesse do país e da população. A China tomou as medidas que considerou serem efetivas. Esperemos que sejam tanto efetivas como breves”.

– Como é que se volta a repetir um cenário destes tão pouco tempo depois do Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla inglesa), que há 17 anos afetava esta zona do mundo? Houve negligência por parte dos Governos e organizações como a OMS?

T.J. – Novos coronavírus aparecem de tempos a tempos por todo o mundo, como o SARS em 2002, e o Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS, na sigla inglesa), em 2012. Os coronavírus são zoonóticos, o que significa que são transmissíveis entre animais e pessoas. Há vários coronavírus que circulam entre animais e que ainda não afetaram humanos. À medida que o controlo aumenta, mais coronavírus são potencialmente identificados.

– Insisto, houve negligência?

T.J. – No caso do coronavírus, os esforços da China e a resposta rápida para conter o surto no epicentro foram essenciais para prevenir uma maior disseminação. O rápido diagnóstico e a partilha do genoma ajudaram outros países a diagnosticar com rapidez novos pacientes.

– Estão previstas consequências e sanções contra um país quando surge um vírus que pode colocar a população mundial em risco?

T.J. – Quando é declarada “emergência global”, a OMS emite recomendações temporárias. São medidas não vinculativas mas politicamente significativas relativa a viagens, comércio, quarentena, triagem e tratamento. Também podem definir parâmetros de práticas globais nessas áreas.

– O que deve fazer a China para que situações como esta não se repitam?

T.J. – Isto não se aplica só à China. Governos e parceiros devem investir em preparação, diagnóstico precoce e resposta de maneira a prevenir que uma emergência global aconteça. Esta é a chave para responder cada vez melhor a situações como esta para todos os países. 

– Quando e como pode a situação de alerta com o novo vírus terminar? Há previsões que apontam para abril, maio. 

T.J. – Neste momento, não é possível prever porque ainda não sabemos tudo sobre o vírus. A OMS está a monitorizar esta emergência a todo o momento, todos os dias, 24 horas, sete dias por semana com redes de cientistas, clínicos, especialistas em detetar novas doenças, Governos, entre outros, e com parceiros dos setores público e privado para coordenar uma resposta ao novo coronavírus. 

À terceira foi de vez

Após três reuniões, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu que o surto do coronavírus deve ser classificado como uma emergência de saúde pública de interesse internacional. A decisão pouco vai mudar porque as autoridades de saúde de cada país já avançaram com todas as medidas de controlo, sob o princípio da precaução. Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) é o sinal mais importante que a OMS pode dar. Para a declarar, têm de estar reunidos três critérios: ser um acontecimento extraordinário, com um risco que represente um perigo elevado à saúde pública de outros países e que exija uma resposta internacional coordenada. “Sejamos claros, esta declaração não é um voto de falta de confiança na China”, sublinhou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “A nossa maior preocupação é o potencial do vírus se espalhar para países com sistemas de saúde mais frágeis”, acrescentou. “Este é o momento dos factos, não do medo. Este é o momento da ciência, não de rumores. Este é o momento da solidariedade, não do estigma”, realçou.

‭ ‬‭ ‬Catarina Brites Soares 07.02.2020

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