Futuro comum

por Arsenio Reis

sangue é mais espesso que a água. Mesmo a água que separa os dois lados do estreito de Taiwan. Todavia, o horizonte de reunificação pacífica da China parece agora mais distante. A fórmula Um País Dois Sistemas desenhada por Deng Xiaoping para cumprir esse objetivo tem, nesta altura, pouco apoio na ilha.

Isso mesmo tem sido demonstrado em estudos de opinião e nas eleições que  reconduziram – com uma margem expressiva  – Tsai Ing-wen como líder de Taiwan. A crise em Hong Kong acabou por ser um fator determinante, na medida em que há um ano o candidato do Kuomintang (KMT), Han Kuok-yu, aparecia como favorito nas sondagens. 

Na cabine de voto, a identidade local, relação com a China continental e a situação em Hong Kong pesaram bem mais que factores domésticos  como alguma insatisfação com a governação de Tsai.  A presidente reeleita tem um mandato popular significativo num ato eleitoral que decorreu de forma bem sucedida, confirmando o vigor do sistema democrático em Taiwan. 

É agora, mais do nunca, crucial dar passos para um diálogo político direto entre Taipé e Pequim. Tsai expressou vontade em dar esse passo, mas sem cumprir o requisito de Pequim – aceite pelo KMT –  de adesão ao princípio de Uma China (sujeito a interpretações diferentes de cada lado), que decorre do chamado “Consenso de 1992”.  

Sendo evidente que a política Um País Dois Sistemas não é, nesta fase, vista com bons olhos na ilha, os estudos de opinião continuam também a indicar uma maioria favorável à manutenção do “status quo”, ou seja contrária à declaração formal de independência. 

A prioridade deverá ir agora para a procura de um novo caminho, que faça sair Pequim e Taipé das posições inamovíveis.  Por um lado, Pequim terá de apostar numa abordagem nova que vá ao encontro da vontade expressa pelos eleitores nas urnas (com especial incidência nos jovens), corrigir os erros e melhorar a implementação do princípio Um País Dois Sistemas nas regiões administrativas especiais e abandonar o tom ameaçador; por outro, em Taipé Tsai deverá furtar-se a gestos provocatórios, ter uma abordagem mais conciliatória, construtiva e pragmática face à China Continental e evitar ser instrumentalizada por Washington. As águas no estreito  deverão continuar agitadas no curto-prazo, mas uma nova visão, um outro contexto, de respeito  e conhecimento mútuo, valorização de direitos e liberdades e de criatividade na fórmula a ser encontrada poderão, no longo-prazo, levar à desejada reunificação pacífica e desenvolvimento partilhado. 

José Carlos Matias 17.01.2020

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!