Em busca de uma cultura de responsabilidade social

por Arsenio Reis

Macau está uns passos atrás de Hong Kong e de cidades vizinhas no Continente.  Novo instituto dedicado à responsabilidade social empresarial quer mudar a situação.

Responsabilidade social empresarial. A expressão está na moda, mas nem sempre as empresas e organizações a levam à letra. O recém-criado Instituto para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau nasceu da constatação de que há muito caminho por fazer em Macau neste campo. 

Carlos Noronha, professor associado na Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau, tem dedicado parte do tempo a investigar a responsabilidade social das empresas na região. Juntamente com um grupo de investigadores locais, Noronha esteve na origem da criação  deste instituto assumindo a vice-presidência da Direção. A missão é promover uma cultura de responsabilidade social empresarial e nas organizações à escala regional, com um foco e base em Macau, uma cidade que “se move ainda devagar”  na resposta a uma tendência cada vez mais global, afirma o académico macaense, numa entrevista ao PLATAFORMA, juntamente com a Secretária da Direção Tiffany Leung.  

Na vizinhança, Macau pode encontrar exemplos mais avançados de práticas empresariais, motivadas, em grande medida, pelos requisitos impostos pelas autoridades bolsistas em Hong Kong e Shenzhen. Na região administrativa especial vizinha, as empresas listadas passaram a ter de produzir relatórios sobre responsabilidade social em áreas como ambiente e segurança dos produtos e serviços prestados, a partir de 2017. 

Antes, em Shenzhen, as companhias já  tinham sido obrigadas a cumprir com exigências, um processo que está relacionado com os escândalos de segurança alimentar na China continental, explica Carlos Noronha. 

Em Macau, as operadoras de jogo têm, nos anos mais recentes, registado avanços a este nível, com a criação de unidades dedicadas à ligação coma comunidade e com projetos de sustentabilidade. Tiffany Leung sublinha que esta nova atitude está relacionada com a “necessidade de garantir a renovação das concessões de jogo” e, nos casos das operadoras norte-americanas, há também uma influência positiva das empresas-mãe dos Estados Unidos. “A necessidade de assegurar um bom nível de aceitabilidade social entre a comunidade local também tem sido um fator”, acrescenta. Neste sentido, “as operadoras de jogo estão a procurar reforçar a sua legitimidade e menorizar alguns dos aspectos negativos como o jogo patológico e impacto ambiental e  nível energético”, considera Leung. 

Muito por fazer em Macau 

Os académicos não têm dúvidas que há muito a fazer para que Macau esteja ao nível das melhores práticas internacionais ou mesmo regionais. Para isso sugerem uma série de medidas que passam pelo exemplo que o Governo e as empresas concessionárias de serviços públicos devem dar até incentivos e leis que punam quem não cumpre com determinados requisitos, e recompense as organizações e companhias que se destacam nesse cumprimento.  

Carlos Noronha alerta que “não se deve olhar para a responsabilidade social empresarial como sendo somente de cariz ambiental, uma vez que inclui também questões importantes ao nível laboral e de segurança dos produtos”.  Um dos principais problemas, segundo o académico, é que “ não há em Macau um sistema integrado de responsabilidade social empresarial, apenas abordagens individuais”, o que dificulta a obtenção de resultados mais visíveis. A resposta pode estar na criação pelo Governo de um instituto que impulsione uma nova cultura e prática empresarial de sustentabilidade.

A par desse passo, os incentivos fiscais provaram ser eficazes em vários países e regiões, tal como leis que tornem obrigatório que empresas a partir de uma determinada dimensão passem a ter de publicar relatórios sobre atividades e iniciativas relacionadas com responsabilidade social, à semelhança do que acontece em Hong Kong e na China continental.

Práticas regionais  em debate 

Esta agenda estará presente na primeira iniciativa pública do Fórum para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau: um evento sobre o papel do Governo, operadoras de jogo e o sector da contabilidade no desenvolvimento sustentável da Grande Baía, a ter lugar no domingo, dia 10 de novembro, no Wynn Palace Cotai. 

Académicos, empresários e consultores de Macau, Hong Kong e Guangdong  vão debater as abordagens que cada região tem adotado. Uma vez que “o projeto da Grande Baía contempla dimensões de integração e cooperação, podemos aprender com as melhores práticas das regiões vizinhas”, salienta Carlos Noronha. Além disso, existe uma necessidade por parte de empresas listadas na bolsa de Hong Kong com fábricas em Guandgong de obter informação sobre as atividades de responsabilidade social “de modo a promover maior transparência e credibilidade para os investidores”, acrescenta Tiffany Leung. 

José Carlos Matias 08.11.2019

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