As pessoas e os projetos

por Arsenio Reis

Não será exagero afirmar que a década que se inicia se reveste de crucial importância para a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Faz a ponte entre a primeira fase pós-1999 e o rumo que nos guiará até 2049, sendo que será estruturante para a definição da forma e conteúdo do que vigorará após o período especial de 50 anos previsto na Declaração Conjunta. A margem de erro é cada vez mais curta. 

Sendo que o plano geral está traçado a partir do topo – Pequim – há que garantir não apenas uma implementação eficiente das políticas públicas, mas também uma capacidade de afirmação da perspetiva e dos interesses locais, mormente no contexto do projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Não do conluio e negociatas de interesses privados, mas do interesse público, do bem comum de Macau, da população, dos jovens. Para isso é preciso que o futuro Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, tenha consigo uma equipa de secretários com visão e capacidade de execução. O desenho da equipa governativa continua aparentemente fechado a sete chaves. Terá certamente elementos de continuidade e de mudança. Na continuidade é importante que seja dado seguimento aos passos firmados nas ligações educacionais, linguísticas e culturais com o universo dos países de língua portuguesa. Por outro lado, urge dar mais consistência à vertente económica e comercial que foi aliás o leitmotiv da criação do Fórum Macau há 16 anos. 

A cidade precisará igualmente de dar um salto em termos de infraestruturas. Não faz sentido que uma região que se prepara para ser líder mundial ao nível de Produto Interno Bruto per capita continue a demonstrar claras fragilidades, não apenas no que diz respeito às infraestruturas sociais e de transportes, mas também em termos de tecnologias amigas do ambiente. Basta olhar à volta para percebermos o quão atrasados estamos. Isto passa por uma outra mentalidade e cultura de responsabilidade social do Governo e das empresas. Ho Iat  Seng deu a entender que irá dar prioridade a algumas destas matérias, com destaque para o problema da habitação e as políticas para os jovens. Não há tempo a perder. 

É disto que é preciso falar. E não somente da “forma exemplar” como Macau tem cumprido os desígnios da segurança nacional. A RAEM é retratada pelas autoridades centrais como o “bom aluno” do princípio Um País Dois Sistemas, contrastando com Hong Kong. Mas não fiquemos ofuscados com o barulho das luzes. Macau não pode deixar-se dormir à sombra da bananeira.   

José Carlos Matias 08.11.2019

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