Rui Leão diz que infraestruturas são desafio central para Macau na Grande Baía

por Arsenio Reis

O presidente do Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP), Rui Leão, entende que o plano da Área da Grande Baía (AGB) vai obrigar Macau a perceber e definir uma série de infraestruturas, designadamente ao nível das fronteiras e acessibilidades com a China.

O arquiteto e também coordenador da Comissão Temática de Ambiente, Cidade e Territórios da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, antecipava ao PLATAFORMA Macau o arranque, hoje, dos dois dias de trabalhos do VII Fórum promovido pela CIALP e co-organizado com a Associação de Arquitectos de Macau, subordinado ao tema “Cidades Melhores: O contributo das infraestruturas”.

“Olhando para o futuro há uma área de infraestruturas muito importante e que passa pela integração de Macau na Grande Baía. É preciso perceber e definir uma série de infraestruturas, que vão das fronteiras às acessibilidade e mega-acessibilidades com a China e a respetiva integração com as cidades à volta de Macau, no âmbito da AGB”, defendeu.

O plano visa criar uma metrópole mundial entre Macau, Hong Kong e nove cidades da província de Guangdong (Jiangmen, Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan e Zhaoqing). Para Rui Leão, Macau tem de “passar a sentir e operar como parte de um território que não é imediatamente a China toda, mas a AGB, em que os interesses, o investimento, a network, o know-how serão partilhados através da capacidade de circulação e acesso a um território maior. Ora isso passa pelas infraestruturas e pela capacidade de a cidade sentir esse caminho como uma prioridade nas políticas futuras”. Participam no encontro delegações denove países e territórios de língua portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Goa.

A iniciativa Faixa e Rota, lançada por Pequim para recriar as antigas rotas da seda (por terra e mar) e que visa a construção de conexões entre a Ásia a Europa e África, “é algo que muda completamente a dinâmica política nos países africanos e a própria relação da China com o mundo”.

“É importante, estando em Macau, perceber que há aqui uma vontade de estabelecer relações entre a China e o bloco africano que é muito importante. Trata-se de uma componente que passa e deveria passar sempre e cada vez mais por Macau quando falamos das relações entre o território, Pequim e os Países de Língua Portuguesa (PLP). A construção dessa relação é muito importante numa perspetiva de equilíbrio global de futuro”, defendeu. Para o arquiteto, Macau “pode e deve ter um papel muito importante em todo este universo de iniciativas”.

“Por isso – prosseguiu – todos os profissionais ligados ao setor das infraestruturas e da economia deviam debater ativamente estas iniciativas [Faixa e Rota, e AGB], no âmbito das plataformas transversais que juntam profissionais de língua portuguesa”.

E justificou: “O status quo deve passar por aí, porque nenhum de nós – arquitetos, engenheiros, urbanistas – deve sentir-se exterior a essa iniciativa. Não devia ser visto como uma ponte entre Pequim e o continente africano, mas algo que passa, de facto, por todos nós como objeto de reflexão e trabalho”.

Macau: ponto de encontro

Esta é a terceira vez que Macau acolhe o Encontro do Conselho Internacional dos Arquitetos de Língua Portuguesa (CIALP), que já vai na 23.ª edição. A primeira vez aconteceu em 1999 e a segunda em 2010. Para Rui Leão, o tema do encontro de Macau “é importante para o CIALP” porque “há grandes assimetrias entre os PLP, nomeadamente no trabalho de implementação de infraestruturas básicas, de capacidade de as construir e de aplicar políticas que qualifiquem as cidades”.

“Quando se fala de infraestruturas está-se a falar, nomeadamente de estradas, de portos, de parques, de espaço público, de habitação ou de transportes”, lembrou, considerando tratar-se, por isso, de uma “componente que está sempre, ligeiramente, marginal à prática comum do atelier, mais focado na arquitetura e numa outra escala”. A tomada de decisões envolvida nas infraestruturas “não passa muito pelos ateliers de arquitetura, embora os arquitetos acabem depois por estar envolvidos em vários pontos dos processos”. “Trata-se de um tema que hoje em dia e cada vez mais justifica ser objeto de estudo e debate entre arquitetos”, defendeu.

No fundo, esclareceu, com estes debates pretende-se trazer os arquitetos para a área da tomada de decisões em matéria de infraestruturas.

“Os arquitetos têm uma formação pluridisciplinar, multifacetada, que está muito concentrada na prática do pensar, não só o espaço físico das cidades e do território, mas também nas questões que se prendem com a sociedade, as pessoas e o espaço que lhes é destinado. Não é só quantificação. Não pensamos o urbanismo como os urbanistas, como um exercício de pura quantificação ou de distribuição equitativa de equipamentos no território”, acentuou.

Rui Leão defendeu que a participação dos arquitetos “é importante para aproveitar as mais-valias que qualquer grande infraestrutura traz às cidades, já que nos processos centrados apenas na tomada de decisão à grande escala essas oportunidades acabam, muitas vezes, por se perder”. Para o arquiteto, “estes são desafios que se vão colocando aos arquitetos e aos ateliers”.

“Veja-se, exemplificou, a questão que desde 2010 tem vindo a ser central para Macau, a chamada habitação pública, a custos controlados ou económica. Os projetos que o Governo tem lançado – Patane, Toi San, Seac Pai Van – têm uma escala muito grande e têm sido um desafio para pensar a cidade”. E concluiu: “Os arquitetos de Macau têm colaborado. Há muitos projetos que têm apresentado soluções bastante interessantes e sensatas na relação entre como desenhar mil fogos e criar espaço de ruas e equipamentos como parques e jardins para a população em geral”.

António Bilrero 25.10.2019

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