Pátria, Povo

por Arsenio Reis

República Popular da China (RPC) comemora o 70o aniversário num contexto particularmente exigente. A guerra comercial lançada por Washington e o desafio da crise em Hong Kong enquadram indelevelmente as celebrações do próximo dia 1 de outubro. A última meia dúzia de anos foi marcada por uma ascensão cada vez mais saliente da China como potencial líder mundial em vários vetores económicos e tecnológicos de ponta. A Era de Xi Jinping descolou da receita de Deng Xiaoping  pautada por um perfil mais discreto nas questões internacionais. Ao “Sonho Chinês”  e ao “Rejuvenescimento Nacional” somou-se não apenas a  dinâmica global com incidência na Iniciativa Faixa e Rota, mas também a narrativa em torno da civilização ecológica e a “Comunidade de um Destino Comum para a Humanidade”.  Estes conceitos serão certamente elevados e exaltados nas celebrações do Dia Nacional, ao mesmo tempo que sobressai uma tónica de cariz patriótico omnipresente. A designada missão histórica de modernização da China após o “século de humilhação” tem raízes profundas na memória coletiva chinesa. Compreende-se tendo em conta os efeitos dos chamados  “tratados desiguais”. A RPC sinalizou um projeto de reunificação nacional de algo mais que um estado nação; a China enquanto estado-civilização e não apenas estado-nação. Não obstante os momentos traumáticos que o país viveu na segunda metade do século XX, há motivos de sobra para a celebração do progresso social e prosperidade económica da RPC ao fim destas sete décadas. 

Por outro lado, este é também o momento para uma reflexão do posicionamento da China enquanto cidadão global e da forma como o Ocidente se relaciona com Pequim. Os problemas estão à vista, mas há que levar a cabo um esforço comum para evitar o chamado “Conflito de Civilizações”. 

Neste processo, o patriotismo enquanto sinal de orgulho de pertença e dos progressos económicos registados ao longo das últimas décadas na China é saudável. Bem menos é a transformação desse sentimento num nacionalismo com uma retórica agressiva e que conduza a jogos de soma zero.

Nas regiões administrativas tem proliferado um discurso que replica abordagens ao patriotismo que não são apenas acríticas como artificiais. Abundam “falsos” patriotas – homens de negócios que transacionam juramentos de fidelidade – que se revelam espinhos na construção de uma sociedade mais justa e de bem estar para a população. Amar a Pátria é Amar o Povo.  

José Carlos Matias 27.09.2019

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