Clínica de Paul Pun vai ter novo espaço

por Arsenio Reis

Paul Pun quer abrir uma nova clínica que garanta apoio e acompanhamento psicológico. O secretário-geral da Caritas diz que se deu conta que esta é a principal necessidade dos pacientes que têm aparecido no espaço que abriu há cerca de um ano.

A clínica de apoio a migrantes e não-residentes que abriu em outubro passado na Rua da Caldeira, na zona do Porto Interior, foi pensada para ser um pequeno hospital dos trabalhadores não residentes e migrantes, que veem o acesso ao serviços de saúde públicos limitados pelos custos elevados a que estão sujeitos por não serem locais, tanto ao nível das consultas como dos medicamentos. No espaço de Paul Pun, cada não-residente pagaria 100 patacas por uma consulta e por três dias de medicação, mas a doação de um cidadão permitiu que os preços descessem e que os migrantes passassem a pagar apenas 70.

Todos os meses, passam pelo espaço cerca de 20 novos pacientes, um número abaixo do que Paul Pun esperava. Mais do que consultas médicas, os trabalhadores não residentes procuram apoio psicológico. “É por isso que estamos a tentar mudar-nos para outro local. Agora só temos dois consultórios e portanto não podemos ter mais especialidades médicas. A ideia é mudarmo-nos e oferecer apoio psicológico/psiquiátrico. Demo-nos conta que vêm à clínica muito mais por problemas do foro emocional e psicológico. Fisicamente parecem aguentar e estar bem, o mesmo já não acontece emocionalmente”, explica Paul Pun ao PLATAFORMA. 

A hipertensão é a doença mais frequente nos pacientes que têm passado pela clínica, fora os problemas emocionais. “Queremos ter mais pessoal que os possam acompanhar e seguir nestas questões”, realça.

O objetivo é ter pelo menos mais uma sala além das duas que o espaço actual tem, assim como mais médicos que por enquanto também são só dois a tempo inteiro. Em vista estão espaços na zona norte da cidade, como na zona do Lam Mau. Quando abrir a nova clínica, Paul Pun fechará a clínica privada que abriu, um projeto próprio e não da Cáritas. 

O apoio aos trabalhadores não residentes tem sido uma das prioridades da Caritas. Neste momento, a organização dá apoio a cerca de dez mil. “É difícil ajudar mais com os meios que temos. A solidão é do que mais sofrem. Tentamos ajudá-los a ter uma rede de amigos. Depois há os tais problemas emocionais e psicológicos. Alguns não descansam e é muito difícil a vida no dia-a-dia. Outros sofrem de ameaças e não têm a quem recorrer”, detalha Paul Pun. 

Questionado se não acha que Caritas acaba por fazer o trabalho do Governo no sentido de proteger um grupo mais vulnerável da sociedade, Paul Pun limita-se a reforçar que os trabalhadores não residentes são um grupo que contribui muito para Macau. A propósito da proposta de salário mínimo, da qual as empregadas domésticas, que são sobretudo trabalhadores não residentes, foram excluídas, Paul Pun volta a lamentar mas ressalva que percebe o dilema. “O salário mínimo devia ser para toda gente, incluindo as empregadas domésticas. O problema é que havendo salário mínimo para estas trabalhadoras, muitas podem correr o risco de ser despedidas porque as famílias podem não suportar”, avisa. 

E por isso, para o secretário-geral da Caritas, a solução passa por alterar a lei de contratação dos trabalhadores não residentes e permitir que as empregadas domésticas trabalhem para mais do que uma família ao mesmo tempo, em vez de estarem limitadas ao responsável pelo visto de trabalho que lhes permite estar em Macau. “Se assim for, o salário que ganha em duas casas já atinge o montante do salário mínimo. Chegavam duas famílias, três já pode ser demasiado cansativo, uma de manhã e outra de tarde”, sugere.

Nova fase

A ajuda aos migrantes tem sido uma das prioridades da Caritas, que no próximo mês inicia uma nova fase. Em outubro, a Caritas de Macau e a homóloga de Portugal vão assinar um acordo de cooperação com enfoque nos migrantes. “Na Caritas Macau trabalhamos com migrantes todos os dias, portanto podemos partilhar a nossa experiência, por exemplo de como agir legalmente”, exemplifica Pun.

O ensino do Mandarim aos migrantes da Caritas de Portugal será uma das apostas da cooperação, como forma de lhes garantir uma mais-valia para entrarem no mercado de trabalho. “Há muitos investidores chineses em Portugal e poderão precisar de recursos humanos que saibam mandarim, e isto pode ser uma oportunidade para eles. As aulas serão dadas por chineses e pessoas de Macau que estão em Portugal. Vamos tentar localizá-los e ver se estão na disponibilidade de fazer trabalho voluntário ou que não exija um grande ordenado”, antecipa. 

Catarina Brites Soares 20.09.2019

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