Sob o mesmo céu

por Arsenio Reis

Ho Iat Seng começou a levantar a ponta do véu relativamente ao futuro. Numa semana em que recebeu o decreto de nomeação como Chefe do Executivo das mãos do primeiro-ministro Li Keqiang, a composição do Governo ganha centralidade. As próximas semanas serão decisivas na dança dos nomes entre Macau e Pequim, num jogo de equilíbrios cujos contornos são deveras opacos. As mais diversas teses fervilham na cidade, fruto de análises, suposições e palpites sobre quem serão os cinco secretários que acompanharão Ho Iat Seng a partir de 20 de dezembro. Há dez anos, a opção foi por uma mudança mínima, na medida em que apenas houve uma substituição inevitável –  a do próprio Chui Sai On que abandonara  o cargo de Secretário para os Assuntos Sociais e Justiça e passaria a Chefe do Executivo, sucedendo a Edmund Ho. Cinco anos depois, a abordagem foi substancialmente diferente com a alteração dos cinco titulares, mantendo-se apenas o Chefe do Executivo. 

Chegados a 2019, perante contextos interno e externo muito exigentes, não basta encontrar soluções que vão ao encontro da delicada balança dos poderes fáticos. A margem de erro é reduzida e as expectativas foram elevadas por Ho Iat Seng que na campanha eleitoral ensaiou um novo estilo, e sugeriu inovação e mudanças na substância das políticas, sem rejeitar o legado de Chui. Mas, mais do que nomes, é preciso um novo rumo de políticas e capacidade de execução que remeta para o passado a cultura de não decisão e receio de enfrentar interesses estabelecidos. Não é compreensível que um Governo não tenha uma coordenação política mínima. Não faz sentido que haja uma cultura de desresponsabilização  por parte dos secretários. A este respeito, Ho Iat Seng deixou nestes dias mensagens importantes: há que clarificar os direitos e responsabilidades dos secretários que devem assumir um papel de liderança perante os seus diretores de serviços que têm demasiado poder. Simultaneamente, entre as características essenciais dos cinco “ministros”, Ho enfatizou a integridade,  competência e capacidade de auscultação e comunicação com a população. Na verdade, os erros evitam-se e corrigem-se através dessa arte de ouvir bem, as mais diversas vozes de forma sincera e consequente. Todas as vozes devem chegar ao céu.  

José Carlos Matias 13.09.2019

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