Hong Kong fez com que fosse substituído por Shenzhen

por Arsenio Reis

Na passada quinta-feira, após a agência Xinhua ter publicado a “Opinião do Comité Central do Partido Comunista Chinês sobre o seu apoio a Shenzhen como Zona de Demonstração de Socialismo com Características Chinesas”, Li Zimeng, locutora da CCTV, levantou a seguinte questão: Shenzhen, como Zona de Demonstração de Socialismo com Características Chinesas, estará direcionada para quem? Ainda assim, enquanto Hong Kong continua a sofrer com violentos protestos, o jornal Ta Kung Pao publicou que esta notícia sobre Shenzhen deverá causar alguma reflexão em Hong Kong. Desde há muito tempo que Hong Kong serve como janela da China, tem sido uma plataforma de contacto do país com o resto do mundo e parte importante do seu desenvolvimento.

Em fevereiro deste ano, quando foi publicado o plano de desenvolvimento da Área da Grande Baía, a cidade de Hong Kong era apontada como uma dos motores da região, sendo alvo de várias medidas políticas e de apoio privilegiadas. Ainda que, na verdade, no ano passado o PIB de Shenzhen já tivesse ultrapassado o de Hong Kong, e a cidade tenha uma indústria de tecnologia superior à de Hong Kong, tal como uma indústria de fabrico e serviços fortes.

Mesmo com um ambiente favorável e de grande apoio, há um grande inimigo: a autodestruição. Da leitura dos anúncios publicados por Li Kashing sobre a “opinião” do Governo central, podemos concluir que a China não irá mais restringir o desenvolvimento de Shenzhen em prol de Hong Kong. De forma natural, Shenzhen vai ressurgir. Ao longo do processo de rejuvenescimento e luta por um lugar importante na sociedade mundial, este reposicionamento de Shenzhen é também uma forma de a China dizer aos norte-americanos que o país não tem medo de intervir em Hong Kong, porque na verdade a sua função como centro financeiro ao serviço dos Estados Unidos da América e do Reino Unido não é assim tão importante para a China. O mais importante é a existência de um centro financeiro internacional ao serviço da população chinesa.

A alteração no papel de Shenzhen revela ainda que o Governo central não irá, devido ao espírito anti-China, controlar todos os recursos financeiros de Hong Kong, incluindo o investimento estrangeiro. O Governo irá, sim, diminuir o uso de serviços financeiros de Hong Kong e passará a usar os de Shenzhen. Shenzhen, ao substituir Hong Kong, irá a curto prazo deixar furiosos muitos grupos anti- -China em Hong Kong furiosos, podendo a cidade acabar por sofrer. É por isso que várias forças policiais se concentraram na cidade de forma a prevenir a entrada de manifestantes violentos de Hong Kong.

O Governo central também já tinha em tempos anunciado a criação de um limite de investimento das instituições financeiras no Continente, de forma a reduzir o estatuto de comprador. Estas empresas estrangeiras podem perfeitamente criar bases de negócio no Continente, basta seguirem as regras nacionais. Assim sendo, porquê passar por Hong Kong? Na altura a medida foi vista como uma forma de atrair investimento internacional para o Continente chinês e combater a guerra comercial com Trump, porém, analisando agora a situação, podemos também assumir que Hong Kong deixou de ser tão importante para instituições financeiras estrangeiras quando comparam Shenzhen e Hong Kong. É fácil compreender que se a pequena burguesia de compradores em Hong Kong não fosse tão anti-China talvez o Governo central não tivesse decidido privilegiar a posição de Shenzhen tão cedo. Com o ambiente incerto e violento de Hong Kong, o Governo decidiu oferecer a Shenzhen um papel mais importante, quase como um contra-ataque ao estilo da Huawei.

David Chan 30.08.2019

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!