Arrumar a casa

por Arsenio Reis

Para o Chefe do Executivo eleito a reforma da administração pública e um plano para a habitação são as prioridades. Analista salienta que Ho Iat Seng vai precisar de trabalhar para obter apoios amplos para avançar com as reformas.

Foi eleito no passado domingo por 98 por cento dos 400 membros do Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo. Ho Iat Seng é o senhor que se segue para um novo ciclo após as primeiras duas décadas de Região Administrativa Especial marcadas por um crescimento económico inaudito que faz com que a cidade esteja prestes a tornar-se na jurisdição líder a nível mundial em termos de Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

No entanto, na missão que Ho Iat Seng vai assumir no dia 20 de dezembro emergem desafios, tendo em conta as incertezas resultantes da “guerra comercial” entre os Estados Unidos e a China e da crise social e política – que ganha cada vez mais contornos económicos – em Hong Kong. Na conferência de imprensa que se seguiu à eleição, Ho reconheceu que os acontecimentos na região vizinha têm impacto negativo em Macau dando como exemplo o que já se verifica ao nível dos guias turísticos. Todavia, está confiante que “os protestos vão terminar e o tufão também vai passar”.

Apoio para as reformas

Por outro lado, a equação do novo Chefe do Executivo centra-se igualmente dentro de portas. Eilo Yu, professor de Ciência Política na Universidade de Macau, destaca a importância do tipo de relacionamento de Ho Iat Seng com as forças dominantes na cidade. “Durante a campanha, Ho procurou mostrar alguma distância face às forças do campo pró-establishment, projetando uma imagem de reforma”, observa o académico. No entanto, de modo a avançar com reformas, o futuro líder do Governo poderá afectar interesses estabelecidos e encontrar resistências de sectores da sociedade, pelo que Yu salienta que o ex-presidente da Assembleia Legislativa terá que encontrar apoio amplo de atores que não estarão no seu núcleo mais próximo. “Terá de obter o apoio para concretizar o programa político, nomeadamente no que diz respeito à reforma administrativa e à política de habitação”.

A enorme dificuldade de acesso a casa própria por parte da juventude foi aliás destacada como um dos principais problemas no discurso de Ho ao longo das últimas semanas. No domingo, reafirmou ser necessário um plano para a habitação dado que “agora é impensável um jovem comprar casa”. Num artigo de opinião e análise publicado no dia seguinte à a eleição de Ho Iat Seng, a agência de notícias estatal chinesa Xinhua elogiava a capacidade e o discurso do futuro Chefe do Executivo e os resultados económicos registados desde 1999, ao mesmo tempo que chamava a atenção para os desafios que se avizinham.

“Alguns problemas sociais emergiram no contexto do rápido desenvolvimento”, fazendo com que a RAEM se depare com determinados riscos e desafios com origem interna e externa. Os desafios incluem “diversificação económica, habitação, inflação, desenvolvimento da juventude e capacidade turística”. Para a Xinhua, a resolução destes problemas implica o aproveitamento das oportunidades oferecidas pela estratégia de desenvolvimento nacional.

Cinco chegam

Uma questão que sobressai nesta fase diz respeito à futura equipa de secretários. O processo só deverá estar concluído oficialmente entre o final de novembro e início de dezembro, tendo em conta o que sucedeu há cinco anos, aquando do anúncio dos principais titulares dos cargos políticos da equipa que acompanhou o segundo mandato de Chui Sai On como Chefe do Executivo. Para já Ho Iat Seng apenas indica o que parece ser uma certeza. Não haverá alteração à estrutura de cinco secretários, que está em vigor desde a transição de 1999. “Este número acho que vou mantê-lo, não vou alterar”, afirmou. Relativamente à escolha dos nomes, Ho Iat Seng assegurou que, após uma pausa para descansar, irá começar a analisar os nomes para a equipa, num processo em que a sociedade irá ser ouvida.

José Carlos Matias 30.08.2019

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