Única âncora

por Arsenio Reis

Como a nação dominante do mundo, os EUA possuem uma força económica e militar capaz de fazer frente ao resto do mundo, e, por essa razão, o país impõe a supremacia sobre outras nações. Em qualquer parte do mundo em que haja uma guerra, os EUA estão envolvidos, e caso o país em questão não esteja em linha com os ideais americanos, serão utilizados vários métodos para fazer com que essa nação se submeta. As sanções sobre o Irão são um exemplo. 

As medidas americanas sobre o Irão têm sido extremamente duras, muitos ficando surpresos com a decisão de abandonar o acordo nuclear. Esta parece ser a única forma de os EUA imporem algum domínio sobre o país. A estratégia de Trump tem sido utilizar os poderes económico e militar para afetar a economia iraniana, restringindo o acesso do resto do mundo ao petróleo iraniano. É de aplaudir esta atitude insidiosa do presidente americano, que usou a influência internacional para delegar um boicote mundial, enfraquecendo assim a economia iraniana e criando tensões a nível interno. Foi assim que conseguiu manter o Irão sob controlo sem ter de recorrer à força militar.

Esta atitude americana tem, no entanto, recebido críticas de várias outras nações, especialmente dos aliados na Europa, que já tinham mostrado descontentamento com a saída americana do acordo nuclear. Para estes, as medidas deixam-nos numa posição de risco, mas a reação em nada influencia os EUA. E o resto do mundo, por medo e respeito aos americanos, fica em silêncio. 

A China e a Rússia são assim as principais âncoras para o Irão, que tem sofrido com as sanções americanas. É do conhecimento público que a China dá grande importância a recursos de petróleo, sendo estes, em grande parte, importados do Irão. Mesmo alguns dias antes de o boicote americano ao petróleo iraniano ter início, a China escolheu continuar a importar do Irão, ajudando-o a ultrapassar as atuais dificuldades. Numa altura extremamente importante, a Rússia tomou uma decisão inesperada que chocou o Irão. O boicote americano recai apenas sobre este país, não afetando outros exportadores de petróleo. No entanto, sendo o Irão um dos maiores exportadores a nível mundial, o mercado será afetado, e os EUA só poderão contar com a Arábia Saudita, expandindo a exportação deste país para o espaço vazio deixado pelo Irão. Na mesma altura, a Rússia decidiu alargar a exportação de petróleo. Decisão esta que tem um impacto grave sobre o Irão e abala os EUA. O Irão e a Rússia possuem uma relação próxima, por isso seria de esperar que numa situação como esta os dois países estivessem do mesmo lado. Mas a Rússia vê a crise iraniana como uma oportunidade para impulsionar o mercado de exportação. Num momento tão crucial como este, é sem dúvida uma medida perigosa, sendo agora a China o único país em que o Irão pode ter em conta. No entanto, é ainda difícil de prever se com a ajuda chinesa o país conseguirá ultrapassar esta fase complicada, ainda que, por si, já seja de alta relevância.  

David Chan 03.05.2019
Editor sénior

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