Nova face

por Arsenio Reis

O novo presidente do Instituto Politécnico de Macau quer apostar na formação pós licenciatura. O objetivo é abrir mestrados próprios, incluindo na área do ensino do português. Para agora já está fechada mais uma cooperação com a Universidade de Coimbra. A língua, garante Marcus Im, vai continuar a ser a mais-valia do instituto.

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em como ambição tornar o Instituto Politécnico de Macau (IPM) “ainda mais conhecido e forte”. Abrir mestrados e programas de Doutoramento próprios, também na área do português, como forma de atrair investigadores do Continente e lusófonos é uma das apostas do presidente do instituto. Marcus Im é o rosto de uma nova fase do IPM. O objetivo é crescer, respeitando características que fazem a identidade da instituição. A liberdade académica e o pensamento crítico, garante, continuam a ser prioridades. 

– Como começou a ligação ao IPM e chega a presidente?

Marcus Im – Comecei a minha carreira no IPM em 2001. É um longo período de tempo, durante o qual assumi diferentes funções. A experiência permitiu que me tornasse presidente. Foi um longo caminho, com diferentes deveres. Aprendi muito. Acho que fiz algo de significativo pelo IPM.

– Quem lhe fez o convite?

M.I. – É uma decisão do Governo.

– Estava à espera?

M.I. – Limito-me a fazer o meu trabalho todos os dias de forma a dar o máximo. Sendo uma decisão do Governo, não pensei muito.

– Quais são as suas prioridades?

M.I. – Tenho uma série de prioridades como o desenvolvimento do ensino e investigação pós-licenciatura; e a aposta ainda maior no desenvolvimento de cursos de formação profissional, para responder às necessidades da sociedade.

– O antigo presidente esteve à frente do IPM 20 anos. É um legado difícil?

M.I. – Não sinto que haja um legado. Há sim uma cultura e um bom sistema que foram desenvolvidos pelo presidente anterior. Temos um bom nível de qualidade, uma boa equipa e um bom ambiente. Foram patamares alcançados que tenho de manter e desenvolver ainda mais.

– De que maneira quer posicionar o IPM no plano universitário de Macau, do Continente e da lusofonia?

M.I. – O IPM tem uma base muito sólida no que diz respeito ao ensino do português. Somos um elo entre a China e os países de língua portuguesa. Fazemos isso há muito e somos muito bem sucedidos. Temos de nos focar no que somos fortes, como a área do português, para reunirmos bons académicos que usem o IPM como forma de ligação ao Continente e ao mundo de língua portuguesa. Somos uma ponte que os coloca a todos em contacto.

– O IPM vai conseguir manter o protagonismo no ensino do português agora que há um investimento cada vez maior no Continente na área?

M.I. – A cultura de Macau faz de nós especiais. É verdade que a aposta é cada vez maior no Continente. Mas pode ver-se por exemplo que os livros para o ensino de português foram todos feitos por nós. Temos um sistema de ensino que se baseia nos manuais. Fomos nós que o desenvolvemos e permitimos ao Continente que use os nossos livros. Ajudamo-los diretamente. Por outro lado, temos um laboratório de tradução assente num sistema de computorização. Com o tempo, o sistema vai tornar-se cada vez mais eficiente. O IPM vai crescer na área da tecnologia da informação (IT, na sigla em inglês) para o ensino do português, manuais e formação. Além disso, os docentes de português no Continente vêm a Macau para receber formação. Todos os anos, temos um concurso mundial de tradução. Trazemos professores dos países de língua portuguesa e do Continente, e organizamos workshops. Queremos manter esta aposta nos próximos 10 a 20 anos. O mundo está a mudar, mas o IPM também se está a desenvolver.

– Fala do português como área chave.

M.I. – Temos uma escola muito boa de línguas. O IPM está a crescer rapidamente. Próprios, só temos programas de licenciatura por agora. Mas já temos programas de mestrado e PHD conjuntos com outras universidades, como a de Lisboa. No futuro, vamos ter programas de pós-graduação e mestrados próprios de forma a atrair mais professores e alunos do Continente e dos países de Língua Portuguesa, para fazerem investigação e publicarem os trabalhos que desenvolvem aqui. O objetivo é tornarmos o IPM ainda mais conhecido e forte na área do ensino do português.

– Há perspetiva de novas cooperações com universidades lusófonas?

M.I. – Vamos ter um novo programa de PHD conjunto na área de tecnologia da informação com a Universidade de Coimbra, focado na inteligência artificial. O acordo já foi aprovado pelo Governo e agora é uma questão de meses. Também estamos a trabalhar em programas de intercâmbio. Queremos ter mais alunos dos países de língua portuguesa. Vamos aproveitar ao máximo a nossa rede no sentido de absorver os alunos desses países para fazerem investigação. Vai tornar o IPM mais forte porque teremos mais alunos e professores.

– Numa altura de evidente mudança em Macau, como vai o IPM conseguir preservar aspetos que sempre foram prioridades no instituto, como a liberdade académica?

M.I. – É muito claro que é um ponto que atingimos. A liberdade académica vai continuar a ser muito importante no futuro do IPM. Temos um sistema que permite aos nossos investigadores, professores e alunos, prosseguirem o trabalho académico de forma livre e protegidos. As decisões não são individuais. São tomadas por um grupo de académicos. A decisão não é só do orientador da investigação ou coordenador do programa, há um comité que discute e decide coletivamente. O mecanismo de decisão é avaliado frequentemente, incluindo por organismos exteriores. Em 2013, o IPM foi avaliado por uma autoridade internacional em matéria de garantia de qualidade para o ensino superior [a Quality Assurance Agency for Higher Education, do Reino Unido] e tornou-se a primeira instituição de ensino superior de Macau com avaliação institucional, o que implica que sejamos avaliados constantemente para garantir que os parâmetros continuam a ser cumpridos. 

– É difícil gerir o apoio económico do Governo e a liberdade académica que deve existir num espaço universitário?

M.I. – Não há contradição. O Governo apoia bastante nas mais diferentes áreas, como a do ensino do português. O apoio faz com que consigamos chegar ainda mais longe e tornarmo-nos ainda mais fortes. Não sinto que haja um problema ou contradição entre o apoio do Governo e a liberdade académica.

– Alguma vez sofreu algum tipo de pressão?

M.I. – A pressão não vem do Governo, mas de nós próprios. Conseguirmos fazer boa investigação ou não depende apenas de nós, porque o financiamento existe. 

– Sente que que existe um ambiente de total liberdade?

M.I. – Se tiver tempo e boas ideias, há sempre apoio.

– Numa entrevista ao jornal Hoje Macau, disse: “Amar o país é muito importante, porque se não se ama o país pode-se pensar negativamente sobre muitos assuntos. Se um estudante amar o seu país tem uma vida muito positiva e a possibilidade de se concentrar no trabalho académico, em vez de pensar em coisas políticas todos os dias. Pode passar a maioria do tempo a estudar, em vez de alimentar pensamentos negativos.”. Não é suposto a educação estimular o pensamento crítico?

M.I. – Uma vez mais, não há qualquer contradição. O pensamento crítico é uma das apetências que os nossos alunos devem adquirir quando terminam os cursos. Garantimos que desenvolvem essa capacidade. Além disso, temos o sistema de garantia de qualidade para o ensino superior. De tempos a tempos, vêm examinadores ao IPM para avaliar se o conteúdo do nosso ensino respeita critérios como esse. O desenvolvimento do pensamento crítico é muito importante.

– No discurso de abertura do ano, falou da importância do amor à Pátria. Porque sentiu a necessidade de passar essa mensagem?

M.I. – Quando estudava no Reino Unido, o reitor também dizia esse tipo de coisas de amar o país e o sistema. É uma situação normal em todo o mundo. Não é exclusiva de Macau ou da China. É bastante normal que um professor peça aos alunos que tenham esse tipo de postura.

– Há a intenção do IPM de apostar no recrutamento de alunos do Continente?

M.I. – A nossa prioridade são os alunos locais. O IPM serve Macau e os alunos de Macau. É esse o nosso objetivo e não vamos mudar.

– Uma das ambições do antigo presidente era que o IPM se tornasse universidade. Vai continuar a lutar pelo estatuto?

M.I. – O próprio antigo presidente já disse que o nome não é importante. O mais importante para uma instituição de ensino superior é a qualidade. Podemos ter bons programas para os estudantes locais e de fora, ter uma investigação que cumpra parâmetros internacionais, ser uma entidade respeitável sem ser uma universidade. É só um nome. 

– O que faz de si um bom presidente para o IPM?

M.I. – É uma pergunta difícil… A capacidade de motivar as pessoas; fazer com que trabalhem em equipa; ser uma ponte útil entre o instituto e o resto do mundo: Governo, sociedade, professores e alunos. Finalmente, ser uma inspiração para os nossos estudantes. Cresci em Macau e hoje sou presidente do IPM. Posso mostrar-lhes que se trabalharem arduamente, podem tornar-se presidentes de entidades importantes ou aspirar a posições ainda mais altas. 

– E o presidente, tem aspirações mais altas?

M.I. – A minha aspiração agora é trabalhar o mais que puder para o IPM. 

Catarina Brites Soares 12.10.2018

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