Sem boa vontade e sinceridade não há diálogo

por Arsenio Reis

No passado dia 24 de setembro, segunda-feira, houve mais evoluções na guerra comercial entre os Estados Unidos (EUA) e a China. O presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a jogar a carta das tarifas, cobrando impostos extra sobre produtos chineses no valor de 200 mil milhões de dólares. No mesmo dia, como resposta, a China impôs também tarifas entre 5 por cento e 10 por cento sobre produtos americanos no valor de 60 mil milhões, fazendo com que o convite do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos à China para mais uma sessão de diálogo por volta do dia 20 de setembro ficasse sem efeito.
Tendo recebido o convite, o Governo chinês tencionava fazer uma visita aos EUA, primeiro através do vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, e posteriormente, no final desta semana, pelo vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, para discussões com autoridades norte-americanas. Porém, logo após o convite por parte do Departamento do Tesouro americano, o presidente Donald Trump anunciou a imposição de tarifas sobre produtos chineses, voltando a salientar no dia 20 que iria assumir uma posição firme em relação à China de forma a defender os interesses a longo prazo dos EUA. Isto quando um próprio membro do Governo americano revelou à Bloomberg News que se o país não agir, a economia americana e os seus consumidores irão sair prejudicados a longo prazo. A China, porém, continua a afirmar que as ameaças americanas de tarifas e táticas de pressão não irão fazer com que o país ceda. A rejeição do convite americano para diálogo está em linha com a ênfase que Pequim tem dado ao princípio de “nunca negociar sob pressão”. Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse no passado dia 21 que “os EUA não demonstraram qualquer boa vontade ou sinceridade com as suas ações”, sendo que, por isso, a China espera que os norte-americanos façam um esforço para corrigir esta atitude, brevemente. Também no passado dia 19 o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, durante o Davos de Verão na cidade de Tianjin comentou o assunto, dizendo que o comércio global tem passado por uma série de transformações e, inevitavelmente, estas transformações irão também afetar a economia chinesa. Recentemente, a taxa de crescimento de investimento e consumo nacionais têm vindo a desacelerar, o número de empresas que enfrentam dificuldades económicas aumentou e a economia nacional foi também afetada. Todavia, o próprio comentou que “o desenvolvimento chinês tem sempre, ao longo dos tempos, enfrentado dificuldades e obstáculos, e nada é insuperável”. Desde a entrada da China para a Organização Mundial do Comércio (OMC), a quantidade de taxas pagas por empresas relacionadas com direitos de propriedade intelectual aumentou em 14 vezes, e a China irá continuar a reforçar leis do tipo e implementar um sistema rígido e sólido de compensação por danos ou infrações que protejam a inovação em qualquer área. Trump e os seus colaboradores falam, constantemente, do excedente comercial existente, acusam empresas chinesas de roubo de propriedade intelectual e de forçarem empresas norte-americanas a transferirem tecnologia em troca de acesso ao mercado. Embora nas suas palavras Li Keqiang não tenha mencionado diretamente Trump, estas foram claramente dirigidas ao presidente norte-americano.
Todavia o Governo chinês ainda não recusou, por completo, qualquer diálogo, quer seja apenas por uma questão de imagem, por necessidade política, ou ainda por outros motivos. Nenhum dos lados está disposto a ser o primeiro a ceder, e com as eleições intercalares americanas de novembro a aproximarem-se, a China prefere não entrar já em negociações, de forma a evitar fazer parte desta campanha eleitoral e trazer ainda mais desvantagens ao país. Por isso, o mais provável é que estes diálogos só tenham continuação depois do final das próximas eleições americanas.

DAVID Chan 28.09.2018

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