O caminho de Roma para Pequim

por Arsenio Reis

Em março de 2013, no espaço de pouco mais de 24 horas, os dois assumiram a chefia de dois estados que se encontram de relações cortadas desde 1951. Os caminhos de Francisco e Xi Jinping pareciam estar destinados a cruzar-se. Desde que assumiu o papado que Francisco encara a aproximação à China e à comunidade católica chinesa como uma prioridade. Sendo o primeiro Papa Jesuíta, Jorge Bergoglio dava sinais de querer trilhar esse mesmo caminho iniciado há cinco séculos pelos seus antepassados da Companhia de Jesus na abordagem ao Império do Meio, pautada por uma estratégia de “acomodação” e tolerância face à cultura chinesa.
Independentemente dos contornos que ainda estão por vir a lume, o acordo provisório para a nomeação de bispos anunciado esta semana reveste-se de um significado histórico que suscita um fundado otimismo apesar das compreensíveis críticas levantadas pelos céticos. Estamos perante um primeiro passo que implicou coragem, habilidade diplomática e determinação dos dois lados e para o qual o empenho das lideranças no Vaticano e em Pequim foram, naturalmente, determinantes. Para a Santa Sé, começou o caminho para a comunhão plena e reunificação da Igreja Patriótica com a Igreja “clandestina”. Por outro lado, há a salientar, nesta fase, a dimensão eminentemente pastoral e não demasiado política deste acordo, dado que para este entendimento provisório Pequim não colocou como condição o fim das relações diplomáticas entre a Santa Sé e Taiwan, uma questão que será revisitada num futuro não muito distante.
Ao longo dos meses que antecederam este acordo, várias vozes levantaram-se contra o entendimento com Pequim, alertando que a situação dos fiéis da Igreja “clandestina” não seria salvaguardada e que as autoridades chinesas davam sinais preocupantes de intolerância religiosa a vários níveis, com relatos de demolições de igrejas e derrube de cruzes. É certo que este acordo surge neste contexto e não numa fase de abertura, mas talvez seja por isso mesmo particularmente significativo. Sendo este um primeiro passo, a porta que agora foi aberta não poderá voltar a fechar-se. Este é o lado certo da História. Como bem salientam os padres Luís Sequeira e Joey Mandia nesta edição do Plataforma, Macau tem sido um bom exemplo de liberdade religiosa e de prática do catolicismo na China. E a História tem-nos mostrado que o caminho de Roma para Pequim também passa por aqui.

José Carlos Matias 28.09.2018

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