“Queremos abrir portas para artistas lusófonos na China”

por Arsenio Reis

Um dos fundadores, o pintor local Ieng Tai Meng fala de planos para levar artistas lusófonos ao mercado e aos apreciadores de arte da China continental, começando pela Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.
Ieong também quer dar mais palco a talentos locais para que estes possam brilhar no exterior e aprender com o contacto com artistas em certames internacionais. E deixa uma sugestão ao governo: criar prémios anuais para distinguir artistas locais que se destaquem em várias área no plano internacional, à semelhança do que acontece no desporto.
– É um dos fundadores da Associação de Artistas da China, Macau e dos Países de Língua Portuguesa. Como surgiu este projeto?
Ien Tai Meng – O principal objetivo passa pelo intercâmbio cultural e artístico entre a China, Macau e os Países de Língua Portuguesa. Por um lado, levar os artistas da China e Macau para visitar os países lusófonos para troca de ideias e técnicas e, por outro, trazer artistas dos países de língua portuguesa para visitar Macau para fazer exposições na China continental. Há imenso potencial aqui para que os chineses conheçam a cultura dos países africanos, Brasil e Portugal. Este é o espírito de intercâmbio cultural.
– O que espera de Macau e das autoridades locais?
I.T.M. – Em Macau há dinheiro pelo que podemos ajudar artistas lusófonos com menos posses, sobretudo africanos, a chegarem ao mercado da China continental.
Esses artistas poderão assim ter oportunidade expor fora do país e serem conhecidos na China.
A Associação tem como missão ajudar esses artistas. E claro também queremos promover os artistas de Macau e da China continental no espaço da lusofonia, criando oportunidades de viagem e de exposição.
– Que planos tem para o futuro próximo?
I.T.M. – Vamos centrar o nosso foco na zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, onde planeamos fazer exposições. Primeiro em Guangzhou, com obras de artistas dos países lusófonos.
Queremos abrir as portas aos artistas dos Países de Língua Portuguesa para participar, na nossa associação e oportunidades para este projeto de intercâmbio na China. Repare, ao longo dos últimos anos a China formou centenas de milhares de artistas. Há muitos apreciadores de arte na China que poderão ter a oportunidade de conhecer a arte africana.
– E há também o sentido inverso neste processo…
I.T.M. – Sim, exatamente. Para o desenvolvimento dos talentos locais, precisamos de promover a presença desses talentos locais no plano internacional.
Muitos artistas afamados chineses fizeram a sua formação também através de exposições na França, Holanda. É por isso muito importante dar oportunidade a artistas para conseguirem participar nestes eventos.
– O que é preciso fazer para fortalecer o panorama artístico local? Mais espaços, mais formação?
I.T.M. – Posso dizer com base no curso que leciono na universidade (Universidade de Ciência e Tecnologia, MUST) que há uma elevação do talento artístico em Macau.
Em Macau espaço não falta para exposições, o que é preciso é encorajar os jovens a esforçarem-se para ganhar prémios e serem reconhecidos. É necessário que haja mais esforço nesse sentido. Arte e cultura são muito importantes.
O governo podia criar prémios anuais para distinguir artistas locais. Como por exemplo existe no âmbito do desporto para premiar atletas. Proponho que o governo criei esse evento para distinguir residentes de Macau que de destacam nas áreas da arte e música.
– Terá uma das suas obras em exposição no Salão de Outono em Paris no próximo mês. É um dos três artistas locais representados neste prestigiado evento. Que significado tem esta presença e a sua obra?
I.T.M. – Essa pintura é alusiva à flor de lótus como forma de promoção de cultura de Macau, sendo também símbolo de boa sorte, prosperidade, acabando também por promover o turismo de Macau. Por outro lado tem a ver também com a confluência de culturas em Macau. O facto de terem sido selecionadas três trabalhos de três artistas de Macau diz bem do talento que existe aqui.

Perfil

Ieong Tai Meng, nome artístico de Ieong Weng Kuong, é um dos nomes maiores da pintura chinesa de Macau. Nasceu há 69 anos em Shanshui, na vizinha província de Guangdong, mas tem ligações ancestrais a Macau, onde viveram antepassados seus na primeira metade do século XX. Entrou no mundo da pintura, começando por frequentar um curso de porcelana antes de aprender com mestres famosos de Lingnan a pintar paisagens, pássaros e flores. Um flor em especial, a lótus, tem sido para Ieong uma fonte inesgotável de inspiração. Teve também um mestre calígrafo de renome: Qin Esheng.
Ao longo das últimas três décadas notabilizou-se também fora de portas através de exposições na Ásia, América e Europa, tendo o seu talento sido reconhecido em certames internacionais de topo. Em França a sua arte tem sido alvo de grande atenção ao ponto de em 2014 ter ganho o Prémio de Ouro da Exposição Internacional de Arte de Paris. Ieong é ele próprio um mestre para os milhares de estudantes que o tiveram como professor em Xi’an, Zhuhai, Shenzhen, Xangai ou aqui em Macau onde é coordenador do programa de doutoramento em Belas Artes da Universidade de Ciência e Tecnologia.

José Carlos Matias 21.09.2018

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