Grande Delta de culturas em comum

por Arsenio Reis

A ideia lançada pelo presidente da Fundação Macau visa dar um substrato cultural forte ao projeto de integração regional. Artistas e agentes culturais de Macau e Hong Kong falam em obstáculos na realização de eventos culturais no continente.
O presidente da Fundação Macau, Wu Zhiliang, defendeu a construção de uma comunidade cultural na área da Grande Baía, tendo em conta que as três regiões – Guangdong, Hong Kong e Macau – compõem o centro da cultura Lingnan (originária do Sul da China).
“Quando duas pessoas se juntam, tornam-se cada vez mais semelhantes. Todos temos a mesma origem, falamos a mesma língua, partilhamos a mesma alma”, justificou Wu Zhiliang, num debate sobre desenvolvimento cultural na Grande Baía, no âmbito do 12º Fórum de Cooperação do Pan-Delta do Rio das Pérolas, realizado em Cantão, Província de Guangdong.
Das palavras do presidente da Fundação Macau conclui-se que essa é a natureza da ecosfera cultural e, por isso, esta região tem um espírito natural comum de identidade e afinidade cultural.
Para Wu Zhiliang, Macau e Hong Kong, que foram governados durante um largo período de tempo por duas nações diferentes – Portugal e Reino Unido – desenvolveram características únicas em termos culturais, económicos e sociais.
Estas duas regiões estão agora inseridas no modelo “um país, dois sistemas” e por isso, para Wu, é de grande importância dar luz à singularidade das mesmas para a promoção de um ambiente cultural na região da Grande Baía.
“Macau herdou os valores da cultura chinesa, e o desenvolvimento desta cultura foi sempre passado ao longo de gerações, preservando em completo a sua essência”, disse.
O responsável não tem dúvidas de que essa tradição está profundamente enraizada no povo de Macau e é por isso refletida, constantemente, na vida quotidiana do território.
Talvez por isso, Wu Zhiliang, não se esqueceu de acentuar que Macau já vive em contacto com a cultura ocidental há mais de 400 anos, acumulando experiência de diálogo com o Ocidente, para concluir que se essas qualidades forem desenvolvidas de forma correta, poderá ser construída uma comunidade cultural na região.

Liza Wang Ming-chuen: “É demasiado complicado atuar no continente”

A presidente do Teatro de Ópera Cantonense e da Associação de Artistas Chineses de Hong Kong, Liza Wang Ming-chuen acentuou que aquela região possui um poder cultural extremamente forte, em áreas que vão da música ao cinema, passando ainda pela televisão.

Para a responsável, a criatividade do povo de Hong Kong está refletida em vários campos, “cheia de vivacidade e sabedoria”.
Liza Wang advertiu, porém, que a população de Hong Kong é muito pequena, e por isso o seu mercado é também reduzido.
“A área da Grande Baía oferece assim um mercado muito mais vasto, além de meios”, disse, admitindo que uma partilha mútua de recursos entre as regiões, resultará num efeito de sinergia.
Revelou ainda que que propôs ao governador da província de Guangdong, Ma Xingrui, a criação de um parque no continente para servir de base para novos empreendedores, trocas culturais, formações de recursos humanos e desenvolvimento criativo.
A isto, acrescentou, juntava-se a simplificação de processos burocráticos, entre outras medidas que classificou como relevantes.
Na sua opinião tudo isso iria contribuir para aumentar o número de atuações no continente, constituindo uma ajuda para a promoção da cultura chinesa pelo resto do mundo, utilizando Hong Kong como plataforma.

Lei Chin Pang : O valor da cultura está na diferença

O crítico cultural Lei Chin Pang, em declarações ao PLATAFORMA, considerou que cultura Lingnan de Guangdong, Hong Kong e Macau sempre foi algo muito valioso apesar de não ser toda ela homogénea.
Para o académico, cada cidade da zona da Grande Baía possui as suas próprias particularidades.
“Para promover a cultura da Grande Baía é preciso explicar as suas diferenças. O mais precioso valor da cultura está na diferença”, enfatizou Lei, especialista em estudos culturais e professor no Departamento de Comunicação da Universidade de Macau.
E continuou: “Diferentes cidades da província de Guangdong, como Kaiping ou Jiangmen, possuem caraterísticas próprias especiais, e o desenvolvimento deve valorizar e promover estas mesmas diferenças. Quanto mais variada for a cultura, melhor. Não devemos procurar misturar tudo num grupo homogéneo, isso não é bom para a cultura.”

Gigi Lee:Faltam espaços de exposição em Macau

Ouvida pelo PLATAFORMA, Gigi Lee, artista de Macau da Associação Artes sem fronteiras, que trabalha, principalmente, com arte contemporânea, afirmou que embora a arte moderna não tenha uma ligação direta com a cultura de Lingnan, as suas bases são semelhantes.
Para a artista, Macau tem falta de locais de exposição e ao abrir-se a possibilidade de haver espaços de criação artística a curto prazo na Grande Baía pode fornecer diferenças em termos de ambiente. Na opinião da artista, o impacto da ligação de obras de diferentes artistas é maior.
Lee referiu que ainda existem problemas nos dois lados quando se fala de intercâmbio artístico, dando como exemplo, em particular, o transporte de obras de arte que qualificou como “bastante complicado”.
“Já aconteceu um caso de um artista da China continental que criou obras em Macau e, posteriormente teve dificuldades no regresso e transporte para o continente.

Johnson Chao 14.09.2018

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