Juros de habitação: Macau deve seguir tendência de Hong Kong

por Arsenio Reis

Os custos com o crédito da casa podem subir, mas as taxas baixas cobradas em Macau poderão ainda assim continuar a suportar a procura e os preços do imobiliário.

Os bancos de Hong Kong começaram a cobrar mais pelos créditos à habitação este mês e admitem aumentos nos juros cobrados aos clientes de até 0,75 pontos percentuais este ano. Em breve, poderá ser a vez de Macau, cuja taxa de juro diretora tem acompanhado as subidas de Hong Kong e dos Estados Unidos. A taxa que os bancos pagam pelo dinheiro continua a subir, e tal como em Hong Kong as instituições financeiras locais poderão decidir começar a passar o custo acrescido aos clientes.
“É bastante provável que acompanhem os bancos de Hong Kong na subida das taxas de juro”, afirma Rose Lai, professora de finanças da Universidade de Macau e especialista no mercado imobiliário. A académica nota no entanto que “as condições económicas em Macau e Hong Kong são cada vez mais diferentes”, não sendo líquido que a subida da região vizinha se verifique também em Macau.
Desde que a Reserva Federal dos Estados Unidos começou a fazer subir os juros, em dezembro de 2015, têm-se multiplicado os avisos de prudência em Macau. O último Relatório de Estabilidade Financeira e Monetária da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), de julho, volta a insistir na mesma tecla.
No final de junho, a taxa de juro do mercado interbancário local estava em 2,1 por cento, tendo subido 1,3 pontos percentuais desde o ano passado, e “a pressão para que os bancos de Macau aumentem as taxas de juro do retalho tem estado a acumular-se”, nota a AMCM. O ajustamento deverá seguir-se.
“No atual ciclo de subidas de taxas de juros, os titulares de crédito à habitação devem avaliar prudentemente a sua capacidade de pagamento uma vez que um ajustamento de subidas graduais aumentará os custos dos pagamentos, e os titulares de outros tipos de créditos devem também prestar atenção ao risco financeiros associado à subida dos juros do crédito”, afirma a instituição.

“Uma pequena subida não vai demover”

As taxas prime dos bancos, em 5,25 por cento, mantêm-se inalteradas há muitos anos, mas não são estas taxas aquelas que os titulares de créditos para imobiliário conhecem. Em Macau, os créditos para habitação mantêm-se baixos. Os dados dos novos empréstimos concedidos durante o primeiro trimestre deste ano mostram que mais de dois terços dos novos clientes de crédito para casa (71,4 por cento) obtiveram taxas de 2,75 por cento, com 1,7 por cento dos créditos a terem taxas que vão até 3,25 por cento.
Ainda assim, a proporção dos que obtêm a taxa mais favorável de 2,75 por cento está a cair – eram três quartos dos créditos, 75,6 por cento, no primeiro trimestre do ano passado. E, segundo as últimas estatísticas da AMCM, “virtualmente” todos os créditos à compra de casa na região estão sujeitos a taxa variável – ou seja, os encargos poderão subir mais facilmente.
Apesar disso, para Rose Lai, o preço do dinheiro para comprar habitação é suficientemente baixo em Macau para não fazer esmorecer a procura na eventualidade de aumentos de juros. “É natural ver o mercado imobiliário arrefecer quando as taxas de juro sobem. No entanto, uma vez que as taxas estão baixas à partida, uma pequena subida não vai demover muito quem quer comprar, especialmente quando a procura é sólida e forte – e isto já não é notícia”, diz.
O mercado do crédito à habitação, que conheceu uma desaceleração no final do ano passado, voltou a disparar já no início de 2018. No primeiro trimestre, os bancos locais concederam 12,3 mil milhões de patacas para compra de casa, num aumento de 20,5 por cento. A maior parte, 28,7 por cento, foram créditos de entre três a quatro milhões de patacas, e os residentes dominaram – 10,67 mil milhões de patacas. Mas o crédito aos não residentes mais que quintuplicou, chegando a 1,6 mil milhões de patacas.
O crédito para imobiliário comercial e construtores disparou ainda mais, com uma subida de 135,7 por cento no primeiro trimestre, para 25,6 mil milhões de patacas. A grande parte destes créditos, 62,2 por cento, está indexada à Hibor, a taxa do mercado interbancário de Hong Kong, oscilando com ela, indica a AMCM.

Margem dos bancos desacelera, mas lucros sobem

O relatório da Autoridade Monetária de Macau indica que os bancos de Macau têm vindo a reduzir a exposição ao imobiliário, situada em 40,3 por cento no conjunto do crédito concedido a privados no final de maio deste ano, e 1,6 pontos percentuais abaixo da proporção registada no mesmo período do ano passado.
E, se a pressão dos custos maiores do dinheiro é acompanhada de uma descida do ritmo de aumento dos ganhos que os bancos fazem com a diferença entre o que cobram por empréstimos e a taxa a que remuneram os depósitos, as instituições continuam a expandir lucros de forma substancial. Cresciam até maio 12,7 por cento, para 6,8 mil milhões de patacas.
Segundo a AMCM, no primeiro trimestre deste ano, o crescimento da margem dos bancos desacelerou para 7,1 por cento, contra uma taxa de crescimento de 12,7 por cento registada em 2017. As receitas líquidas de juros das instituições de crédito de Macau somaram 4,9 mil milhões de patacas.
Mas, no mesmo período, os bancos encaixaram mais em taxas, comissões e no retorno sobre investimentos financeiros, com estas receitas a expandirem-se em 27,2 por cento para 1,7 mil milhões de patacas. Em todo o ano passado, as receitas de comissões e com a gestão de instrumentos financeiros subiram apenas 0,3 por cento, para 6,5 mil milhões de patacas.

Maria João Caetano 31.08.2018

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