Admirável Mundo Novo

por Arsenio Reis

Uma das características mais notáveis da ficção é imitar a vida e projetar o futuro nas suas diversas formas, levando-nos a pensar na relação entre tempos. Algumas das ficções mais arrojadas, como as de Aldoux Huxley, descrevem mundos futuros em que a humanidade dá lugar a sociedades civilizadas que rejeitam todas as formas de passado e onde, por exemplo, ter filhos será obsceno. Também o extraordinário filme de Stanley Kubrik, “2001: Odisseia no espaço”, mostra a luta do homem com a máquina o que, nessa altura, se revolveu desligando a máquina.

Cada vez mais o futuro é já agora, porque os tempos longos tendem a acelerar: aquilo que demorava séculos, acontece em décadas.

Embora tenha uma rejeição visceral a “livros do ano”, li nestas férias “Homo Deus. História breve do amanhã”, do filósofo israelita Yuval Noah Harari. Quanto à procura da imortalidade, é uma busca antiga que está plasmada nos mitos e na arte desde que há registo. Também a procura da chave para a felicidade se encontra desde tempos imemoriais, com a novidade de que se discute hoje se o PIB per capita não deveria ser substituído pelo FIB (Felicidade Interna Bruta), como instrumento para avaliação do sucesso das nações. O ponto essencial da reflexão de Harari é que o grande projeto da humanidade será adquirir poderes divinos de criação e destruição, transformando o “Homo sapiens” em “Homo deus”. Confrontamo-nos, de facto, com muitos desafios e ameaças, mas quanto mais conscientes da nossa humanidade, melhor construiremos a sociedade futura, o que inclui integrar as artes como repositório da história comum.

O canal 2 da RTP está a transmitir a série documental de 20 episódios, “Sonhar o futuro”, que nos leva à descoberta das inovações científicas e tecnológicas do quotidiano em 2050. Esta semana o quinto episódio foi dedicado à “Escola do futuro”, antecipando a generalização de experiências que já estão em curso. Mais do que a digitalização do ambiente escolar e a utilização de tecnologias, o ponto essencial reside na enorme mudança no modelo de aprendizagem, em que cada criança ou jovem aprende ao seu ritmo e desaparece o conceito de “mau aluno”, aquele que não consegue atingir os objetivos comuns. O mecanismo desta pedagogia consiste em lançar questões e estimular o prazer da descoberta, transformando todos em pequenos ou grandes inventores. Chegou a escola das questões, em vez da escola das respostas. 

Ana Paula Laborinho* 31.08.2018

* Professora Universitária 

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