Pressão sobre renmimbi ainda tem folga

por Arsenio Reis

A moeda tem mantido a tendência de desvalorização frente ao dólar, mas por enquanto a atividade do banco central sugere pouca saída de capitais.

O dólar tem, desde o início do ano, destabilizado o campeonato das grandes economias emergentes. Primeiro, tombou o peso na Argentina. Seguiu-se a crise da lira turca, ainda em curso, enquanto os analistas anotam os sinais vitais do restante mundo em desenvolvimento à procura das vulnerabilidades que poderão ditar a próxima crise cambial. A China resiste com o renmimbi a oscilar apenas na banda admitida pelo Banco Popular da China, e por enquanto sem um movimento significativo de saída dos capitais do país.
Em julho, as reservas cambiais chinesas superaram o nível do mês anterior, a valerem mais de 3,11 biliões de dólares e sem indicação de atividade do Banco Popular da China para suster a depreciação do renminbi frente à moeda dos Estados Unidos. Desde o início do ano, o dólar escalou mais de cinco por cento contra a moeda chinesa no câmbio doméstico controlado por Pequim. No câmbio offshore, livre de restrições e que serve de referência ao banco central chinês, o afastamento das moedas não chegava, mas estava perto dos cinco por cento até ontem.
A guerra comercial com os Estados Unidos e o efeito da lira turca nos mercados, aliados à força do dólar, levaram o renminbi a um mínimo de 19 meses na passada semana (6,93 yuans por dólar), com o banco central a impor reservas mínimas de 20 por cento para contratos de moeda, sem tomar, aparentemente outras medidas. Ao mesmo tempo, poderá estar a incentivar as empresas do país a recorrerem a crédito no exterior como medida de reversão dos fluxos.
“A intervenção oficial não foi até aqui agressiva”, afirma Chang Liu, economista da Capital Economics. “O facto de estas medidas terem sido suficientes para superar outros fluxos de saída em julho sugere que as pressões não eram fortes para começar”, escreve em nota da consultora.
A Capital Economics diz que os indicadores preliminares de agosto apontam ainda para uma pressão reduzida sobre a moeda. O nível mais elevado deste ano de retirada de capitais terá ocorrido em junho, num volume equivalente a sete mil milhões de dólares distante das saídas mensais superiores a 50 mil milhões de dólares ocorridas em 2016.
Já o Instituto de Finanças Internacionais estimou uma retirada de capitais de ativos em renminbi equivalente a 500 milhões de dólares na semana entre 9 e 15 de agosto, período de turbulência forte nos mercados com a crise turca. Os fluxos de saída do renminbi terão afetado as ações de empresas cotadas nas praças chinesas, sem impacto no mercado de obrigações que, de resto, é alvo de maior controlo de capitais. O valor que saiu da moeda chinesa terá representado um terço do total que fugiu aos mercados emergentes na semana analisada, de 1,4 mil milhões de dólares.
Em 2015 e 2016, registou-se o último grande movimento de fuga ao renminbi. Terão escapado à economia do país somas equivalentes a 1,2 biliões de dólares. Na reação, as autoridades centrais impuseram novos controlos à saída de capitais, inclusivamente limitando os investimentos por parte de multinacionais chinesas no estrangeiro. As barreiras à saída de dinheiro tiveram também impacto na atividade dos casinos de Macau. As receitas brutas de jogo caíram mais de 34,3 por cento em 2015, e 3,3 por cento em 2016.
A tensão na moeda chinesa é para já ténue, em comparação com esses anos. A Capital Economics admite que, “com as tensões comerciais ainda elevadas, o renminbi pode enfrentar nova pressão no curto prazo”. “Mas os decisores políticos ainda têm muitos instrumentos à disposição, incluindo venda direta de reservas cambiais e um aperto no controlo de capitais”, nota Chang Liu. Por enquanto, as ferramentas estão por usar.

Maria Caetano 24.08.2018

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