Indústria de convenções e exposições ainda por desenvolver

por Arsenio Reis

O Governo de Macau tem adotado uma política de promoção da indústria de convenções como uma importante atividade fora do setor do jogo. Peritos da área acreditam que ao longo dos anos a indústria tem evoluído, mas ainda necessita, claramente, de apoio governamental. 

Alguns representantes desta indústria não se candidatam aos subsídios oficiais e têm explorado novas áreas ligadas ao entretenimento, além das tradicionais feiras comerciais. 

Os subsídios existentes para esta indústria, tal como outras medidas de apoio relacionadas, são coordenados e implementados pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). Irene Lau, vogal executiva do IPIM, disse em junho à imprensa que desde que o Instituto começou a coordenar esta indústria, em 2016, foi possível compreender a eficácia da estratégia de “priorizar convenções” e, por isso, os subsídios não serão “nem reduzidos, nem aumentados”, colocando grande ênfase na qualidade da indústria. 

Ho Hoi Meng, presidente da direção da Associação de Convenções e Exposições de Macau (MCEA), disse acreditar que depois de anos de desenvolvimento, e com a ajuda e apoio do Governo, tem sido cada vez mais visível a melhoria da qualidade desta indústria, especialmente no que diz respeito a conferências. 

“No que toca a conferências, assistimos a vários eventos com aprovação da ICCA – Associação Internacional dos Congressos e Convenções, com Macau a passar de 59ª cidade da zona da Ásia-Pacífico na lista da Associação em 2012, para o 34º lugar em 2013. No ano passado subiu até ao 16º, e a previsão é de que no ano de 2021 entre nos dez primeiros lugares.”, disse Ho Hoi Meng ao Plataforma.

Segundo dados dos Serviços de Estatística e Censos, entre 2012 e 2017, houve um aumento nas receitas totais de convenções e exposições em Macau, incluindo também as organizadas pelo Governo. Também a percentagem destas receitas relativas a subsídios governamentais desceu dos 70 por cento, em 2012, para 39 por cento em 2017. 

Para Ho Hoi Meng, estes dados não refletem, inteiramente, a situação atual da indústria, principalmente por não abrangerem instituições organizadoras de eventos localizadas em Hong Kong ou no estrangeiro. 

“Porém, o Governo tem definida uma política muito exata para esta área e, por isso, podemos ver ao longo do tempo que o número de subsídios governamentais está em constante descida. No ano de 2017, fizemos uma sondagem sobre algumas exposições comerciais, onde foi revelado que o apoio governamental apenas ocupava 10 por cento das receitas”, salientou Ho. 

Ho no entanto acredita que, em matéria de exposições na cidade, ainda são necessárias medidas de apoio governamentais.

E exemplificou: “Existem algumas convenções com apoio da indústria que são lucrativas, como por exemplo a G2E Asia. E outras de exibição de produtos, como a anterior exposição da Hello Kitty ou atualmente a da Line Friends, inteiramente comerciais e autofinanciadas. Porém, devido à pequena população de Macau e ao número reduzido de visitantes profissionais, a médio ou a longo prazo grande parte das exposições na cidade necessitam de receber apoios do Governo”.

Não existem dados públicos oficiais completos sobre a percentagem das receitas de convenções em Macau que provêm de subsídios governamentais, no entanto Ho Hoi Meng acredita que as receitas desta indústria já se encontram numa “posição saudável”. 

“Até ao momento, a indústria tem tido um desenvolvimento saudável, e os subsídios governamentais são a ‘cereja no topo do bolo’. Porém, esta indústria ainda necessita de apoio nos próximos três a cinco anos até conseguir continuar a desenvolver-se completamente,  e de forma independente. Depois de a ponte entre Hong Kong, Zhuhai e Macau estar em funcionamento, poderemos tirar melhor partido da região vizinha. Para um evento com cinco mil pessoas em Hong Kong, poderá ser necessário reservar quartos em vários hotéis, mas em Macau basta um ou dois hotéis no Cotai e o problema está resolvido”, lembrou Ho Hoi Meng. 

Novas áreas de exposição

A Seer Entertainment Production, criada há aproximadamente quatro anos, é uma empresa local que organiza convenções e exposições, planeia e produz atividades de promoção e ainda está ligada ao ensino de basquetebol. Entre os eventos mais conhecidos do público estão o “Slide the City Macau”, o “Tokyo Horror Experience Macau” e espetáculos de desenhos animados como “Winnie The Pooh”,  “Shinchan” ou “Kamen Rider”, atualmente em exposição no Broadway Macau. 

Marcus Lam, diretor-geral da Seer Entertainment, refere que este tipo de exposições de entrada paga, além de atraírem visitantes locais, trazem também público de Hong Kong, do Continente, de Taiwan, do Japão, de Singapura e até da Malásia, não tendo a empresa, até ao momento, candidaturas a qualquer subsídio ou apoio governamental. 

“Porém, estamos muito gratos à Direção dos Serviços de Turismo (DST) pelo apoio que nos tem dado. A DST ofereceu-nos várias plataformas para apresentarmos os nossos eventos. Por exemplo, os escritórios da DST em Hong Kong ofereceram-nos este mês a oportunidade de dar a conhecer os eventos a agências de viagens de todo o mundo. Já é uma grande ajuda, porque depois podemos crescer sozinhos através de vendas e canais de marketing”, disse Marcus Lam. 

Marcus trabalhou num casino durante vários anos, e há seis decidiu largar o emprego estável e criar um negócio. Desde então tem, gradualmente, explorado o mercado de exposições pagas ligadas ao entretenimento em Macau. “Macau está neste momento a promover áreas não relacionadas com o jogo, por isso decidi explorar esse caminho. Além disso, queria também ter algum lucro, por isso escolhi o entretenimento. Foi assim que entrei nesta área”, recordou Marcus Lam. Lam disse ainda que exposições ligadas a personagens fictícias estão em grande crescimento no mercado. 

“Primeiro analisamos a popularidade da personagem, ou se está perto de algum aniversário para uma comemoração dos 15 ou 20 anos, pois dessa forma o mercado irá , naturalmente dar a conhecer o evento.”. 

Marcus Lam acrescentou ainda que estes eventos não estão limitados a personagens conhecidas ou desenhos animados japoneses. A empresa, nos próximos anos, está até a pensar produzir  exposições originais. 

Problema de recursos humanos

Outra área de atividade em Macau que não necessita de grande apoio governamental está relacionada com as viagens de incentivo. Para Ho Hoi Meng, com a ajuda de hotéis já bem estabelecidos em Macau, o turismo de incentivos é uma área de “sucesso quase garantido”, acrescentando ainda que “atualmente várias empresas do setor financeiro, especialmente seguradoras, utilizam Macau como destino das viagens de incentivo.”

Filipe de Senna Fernandes, vice-presidente da Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos Especiais (MISE, na sigla inglesa), concorda. Para o dirigente, este tipo de eventos atraem cada vez mais visitantes, e à medida que estas pessoas visitam várias áreas de Macau, impulsionam também a economia local. 

Tanto Ho Hoi Meng como Filipe de Senna Fernandes disseram acreditam que para o  desenvolvimento da indústria de exposições e de incentivos, Macau precisa de investir e dar importância ao problema de recursos humanos.

Para Filipe de Senna Fernandes, “embora Macau continue a ter uma taxa de desemprego relativamente baixa (2 por cento em 2017), existe uma escassez de profissionais qualificados na indústria hoteleira, turística e de eventos que, dificilmente, são encontrados localmente. Este problema faz com que os custos dentro destas indústrias estejam (e continuem) inflacionados”. “Macau, apesar de ser uma cidade fascinante para quem a visita, irá a certa altura perder em comparação com outras cidades da região por se tornar num destino cada vez mais caro”, concluiu. 

Shao Hua  20.07.2018

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