O centro do Mundo

por Arsenio Reis

Na última semana, decorreu no Porto a Cimeira do Clima que teve como uma das figuras mediáticas Barack Obama, embora os outros intervenientes não fossem de somenos, como a ex-diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, ou o Prémio Nobel da Paz, Mohan Munasinghe. Sabemos que Portugal pode ser um dos países mais afetados pelas alterações climáticas e esta iniciativa não deixou de pensar o problema nos seus efeitos locais, mas é o alerta global que se destaca, neste caso com um expressivo envolvimento das empresas por entenderem as perdas que podem resultar das mudanças aceleradas do clima. A cidade do Porto coloca-se, assim, no centro de um dos mais determinantes debates internacionais que decidirão o futuro coletivo.

Nos mesmos dias, Lisboa acolheu as celebrações do jubileu de diamante do príncipe Aga Khan que ali estabeleceu a sua sede mundial, depois de ter preterido outras cidades. Desde 1983 que a Fundação Aga Khan, criada em 1967, tem representação em Portugal até pelas relações da comunidade ismaili com Moçambique. A sua vasta atividade internacional representa um investimento anual de 600 a 900 milhões de euros em educação, cultura e combate à pobreza. Portugal não será apenas sede mas servirá de plataforma para muitas destas ações.

Longe vai o tempo em que o estigma de país periférico parecia tolher-nos a capacidade de criar e inovar. Longe vai o tempo em que tínhamos medo de nos lançar em desafios internacionais. São cada vez mais aqueles que ocupam lugares em organizações globais, começando pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o recém-nomeado diretor-geral da Organização Internacional das Migrações, António Vitorino, e, nesta semana, Catarina Albuquerque para a Unicef.

Não somos o centro do Mundo, mas a condição de país do Sul não é mais um estigma. Se olharmos o mapa com olhos contemporâneos percebemos que o desenho a partir do centro europeu e ocidental é uma cartografia datada. EUA e alguns países europeus protegem-se das mudanças reconstruindo fronteiras e fechando-se dentro delas. Felizmente somos um país euro-atlântico que tem relações de longa data com África, Ásia e a América Latina. Não se trata de um dom universalista, mas de trabalho árduo e continuado de construção de pontes e a crença absoluta no multilateralismo. Não somos o centro do Mundo. Longe disso! Mas há centros no Mundo que ainda não perceberam que vão deixar de o ser. 

Ana Paula Laborinho* 13.07.2018 

*Professora universitária

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