“Não vejo qualquer motivo para [Sulu Sou] não se recandidatar”

por Arsenio Reis

Scott Chiang defende que o deputado Sulu Sou continua a ser a pessoa certa para representar a Associação Novo Macau na assembleia. Ao processo-crime em que é arguido juntamente com Sulu, à acusação do Ministério Público e decisão do tribunal caso o condene na terça-feira, responde com ironia. O ativista reconhece que Pequim e Macau estão mais atentos aos democratas, mas não mostra preocupação. Diz que está a fazer a coisa certa: Vigiar um Governo incompetente.

– Como interpreta a decisão do Ministério Público de pedir pena de prisão para si e Sulu Sou com o argumento de que uma pena de multa seria insuficiente?

Scott Chiang – Faz parte do trabalho deles pedir o que acham que é mais indicado ou o que querem. Neste caso específico, não sei bem porquê, preferem uma pena mais pesada face a casos anteriores.

– Algumas individualidades, incluindo o presidente da Associação de Advogados Neto Valente, defendem que é cada vez mais claro que o processo em que é acusado de desobediência qualificada, juntamente com Sulu Sou, é um caso político. Qual é a sua opinião?

S.C. – Tendo a achar que a maioria das coisas são de certa forma políticas quando entramos no campo do “quem decide quem recebe o quê”. Questões completamente apolíticas são uma raridade quando se trata do Governo. O cumprimento da lei, incluindo a elaboração e a implementação geral da legislação, é obviamente parte da operação política da nossa sociedade. Fora deste caso, no entanto, não há como negar de que há um esforço para marginalizar e intimidar os democratas. Disso tenho a certeza.

-O que acha que vai suceder e qual será a decisão do Tribunal Judicial de Base, no dia 29 de maio?

S.C. – Tendo a acreditar que apenas provas visíveis podem determinar o resultado. Mas, estou preparado para aprender coisas novas todos os dias. 

– Imaginemos que o tribunal lhe aplica pena de prisão. Quais serão os próximos passos e como imagina o seu futuro?

S.C. – Altura perfeita para reescrever o meu currículo.

– Qual é a sensação que tem relativamente à forma como as pessoas olham para a Associação Novo Macau, para si e para Sulu Sou desde que o caso se tornou público? Sente que há mais apoio? Ou acha que, por causa de acabar acusado de um crime de desobediência qualificada, as pessoas têm ainda mais medo de defender opiniões diferentes e ser críticas face ao Governo?

S.C. – Sinto as duas coisas. Como referi antes, o esforço para nos afastar passa também por nos marginalizar, retratando-nos como desrespeitadores da sociedade e infratores da lei. Macau tem sido uma terra pacífica e a perceção da população pode ser afetada por este trabalho. Contudo, tendo em conta que cada vez mais pessoas se apercebem da incompetência do nosso querido Governo, entenderão que estas são apenas consequências de quando continuamos a fazer o trabalho de oposição e a ser inconvenientes para o Executivo. As pessoas percebem e, como tal, levantam-nos o polegar como sinal de apoio e de que temos de continuar. 

– Pode adiantar mais pormenores sobre os restantes casos em que está envolvido?

S.C. – Um deles sou acusado dos crimes de dano e introdução em lugar vedado ao público por ter posto uma faixa no antigo Hotel Estoril. É o único que já seguiu para a fase de julgamento. Os restantes dois ou três ainda estão em fase de investigação.

– Sente que a pressão e atenção de Pequim e lobbies de Macau são agora maiores porque mostrou que não desiste? Sofreu alguma ameaça entretanto?

S.C. – Consigo imaginar os democratas de Macau a serem retratados como pró-independência ou uma ameaça para a região. É um exagero tão grande. Fora isso, o olhar que recebemos lá de cima é tão mais “cuidadoso” e “amoroso” do que realmente merecemos. Em Macau é fácil desistir, tendo em conta que não somos uma sociedade com um anseio forte por democracia e equilíbrio de poderes. Ainda assim, acaba por ser fácil continuar uma vez que não sinto que as pessoas se esforcem, avidamente por nos tirar o emprego, e o Governo continua a cometer erros graves numa base diária. A verdadeira ameaça é interna. O perigo de nos sentirmos satisfeitos com o status-quo, e de abdicarmos de lutar por sermos melhores indivíduos e termos uma Macau melhor. 

– Alguma vez lamentou ter-se tornado democrata por causa das consequências dessa opção e, sobretudo, pelo desfecho que pode ter o processo-crime de desobediência qualificada fruto da manifestação contra o Chefe do Executivo, em 2016?

S.C. – Com tanto divertimento, não trocaria isto por nada deste mundo. 

– A Novo Macau já tem uma estratégia se Sulu Sou for condenado a uma pena de prisão superior a 30 dias e a Assembleia Legislativa decida retirar-lhe o mandato? Consideram candidatar-se às eleições que surgirão entretanto, e apontá-lo como candidato?

S.C. – Não tenho ideia do que fará a associação. Pessoalmente, não vejo qualquer motivo para não se recandidatar, a não ser que a lei o impeça. 

C.B.S.  25.05.2018

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