A importância de preservar os clientes

por Arsenio Reis

A China e os Estados Unidos chegaram a um consenso, ambos concordaram em largar a ideia de imposição de tarifas e de guerra comercial. Os dois países acordaram também adotar medidas eficazes de redução do défice comercial americano face à China. O lado chinês irá agora aumentar a aquisição de serviços e produtos americanos. Para alguns, esta é uma derrota para a China, mas os factos indicam o contrário. Analisando a situação em grande plano, é fácil de compreender a importância desta decisão para a China. Chegando a um acordo final nesta direção, é óbvio que os EUA irão receber alguns benefícios comerciais. No entanto, Donald Trump, conhecido como o “presidente do Twitter”, manteve o silêncio em relação a este veredito, abandonando a habitual atitude orgulhosa. 

A China estava revoltada com as exigências americanas iniciais pois os Estados Unidos tencionavam suprimir o plano chinês “Made in China 2025” e o desenvolvimento da indústria tecnológica chinesa. Porém, os EUA sabem que neste assunto a China não irá ceder de forma alguma. A China tem direito ao seu desenvolvimento, desde que mantenha em mente o excedente comercial que tem com os EUA. Isto porque os EUA são um dos maiores e melhores clientes da China, e como todos sabemos é muito importante salvaguardar os clientes principais. Por isso, é também importante para a China diminuir o défice comercial americano. 

Não é muito pragmático assumir uma atitude de jogo de soma zero. É muito mais realista assumir uma atitude mais flexível e ao mesmo tempo lutar pelos interesses principais. Ambos os países não estão numa luta até à morte, nem querem um conflito que dê oportunidades a terceiros como a Rússia, a União Europeia ou o Japão de atacarem. O objetivo de ambos é, considerando as necessidades de cada um, maximizar os interesses mútuos através de um meio-termo. 

Este “jogo” entre a China e os EUA representa uma guerra centenária e é também um dos principais acontecimentos desta primeira metade do séc. XXI que irá, com certeza, ter consequências a nível mundial. Esta guerra comercial é apenas um campo da batalha, por isso, durante esta fraqueza temporária do lado chinês, não nos devemos preocupar com lucros ou prejuízos parciais ou tomar medidas impulsivas e suicidas. É necessário ter um pensamento estratégico, global e de longo prazo, e paciência face a conflitos prolongados. O poder económico, tecnológico e militar chinês duplicou de tamanho apenas na última década, por isso é importante para a China desenvolver uma estratégia para a próxima década ou ainda para os próximos 30 anos. A China tem meios suficientes para deslocar para o país os centros internacionais de poder e economia. Não faz sentido perder a oportunidade de renascimento apenas para manter as aparências. Neste momento, o país está a atravessar a maior oportunidade dos últimos 200 anos, uma oportunidade na qual se prevê um resultado positivo, e por isso não existe razão para não a aproveitar. Devemos reconhecer a necessidade e importância a nível estratégico deste acordo com os EUA. A China, para já, ainda está empenhada na construção e desenvolvimento e irá investir na modernização com um espírito ainda mais forte. 

DAVID Chan  25.05.2018

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