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O fim do Facebook

A Folha de São Paulo abandonou o Facebook. Tratou-o como uma mulher enganada faz a um marido traidor. Até fico em tua casa, mas não me vês mais os dentes.

Os jornais andavam apaixonados pelo Facebook. Na difícil mudança para o digital, a rede social parecia ser a resposta divina para as angústias dos editores tradicionais. Para quem tinha um negócio baseado na venda de papel e andava perdido na equação de mudar o dinheiro dos anunciantes, da banca, para o ecrã do computador e do telemóvel, o Face parecia providencial. Nem precisavam pensar mais nisso.

Zuckerberg abriu perfis, posts e páginas aos produtores de notícias e, qual profeta disse: bem-vindos ao El Dorado digital; vinde para onde estão os vossos leitores e trazei para o meu altar os vossos anunciantes. E eles foram.

Logo começaram a medir o sucesso em clicks e likes, cegos pela alegria da multiplicação das audiências. Mas, enquanto andavam entretidos a medir o tamanho das respetivas coisas, esqueceram-se da principal razão pela qual os anunciantes fazem publicidade nos jornais: porque eles têm uma reputação.

É então que, no meio do casamento feliz entre Zuck e a imprensa, se intromete uma pérfida meretriz: a Madame Fake News. Casa roubada, trancas à porta, e logo que o estalajadeiro se viu envolvido em escândalos de vária ordem, com eleições americanas e meninos russos à mistura, decide pôr cobro à folia e “expulsa” de casa os amigos de ocasião. Desculpa-se. De notícias não percebo nada, não vos quero mais, desculpem lá o incómodo.

Os jornais depois de terem sido úteis ao negócio são relegados para segundo plano. Podem estar na rede, mas poucos vão ler o que eles dizem. Como uma mulher enganada, alguns gritaram: E agora? Que desgraça!

Mas nem todos. A Folha de São Paulo, o maior jornal diário Brasileiro, decidiu que vai deixar de utilizar o Facebook e tratou-o com o mesmo desdém. Fico em tua casa, mas não me vês mais os dentes.

O diário brasileiro é o primeiro grande jornal mundial (5,9 milhões de fãs) a desistir do Facebook. A atitude da Folha é, no mínimo, disruptiva. Se é um manifesto emocional ou apenas media intelligence, é o que vamos ver. Mas uma coisa é certa, não é por estarmos na era digital que Roma vai começar a pagar a traidores. 

Pode ser mesmo aqui o fim do Facebook.

José Manuel Diogo*  15.02.2018

* Especialista em Media Intelligence

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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