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“A projeção internacional de Macau está cada vez mais patente”

Quase um ano depois de ter assumido funções como coordenadora do Gabinete de Apoio ao Fórum Macau, o balanço é positivo. Teresa Mok contraria as críticas ao fórum, muitas vezes acusado de ser inútil, com o trabalho que tem sido desenvolvido nos últimos 15 anos, desde que foi criado. 

– Quais são as perspetivas e objetivos para a função que agora ocupa?

T. M. – As metas para o ano de 2018 são, no âmbito externo, acompanhar atentamente as atividades comemorativas do 15º aniversário do Fórum de Macau, intensificar a divulgação e promoção do mesmo e de Macau como plataforma, e reforçar os trabalhos ligados à juventude. No âmbito interno, queremos consolidar a equipa de trabalho, estabelecer um sistema de gestão aperfeiçoado e assegurar de forma contínua um serviço de excelência. O objetivo no longo prazo é reforçar o intercâmbio e a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, ligando a plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países lusófonos e a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

– Qual é a diferença entre o Gabinete de Apoio e o Fórum Macau?

T. M. – A função do gabinete passa por apoiar os trabalhos do Secretariado Permanente e fornecer os recursos necessários. O Fórum de Macau é um mecanismo multilateral de cooperação intergovernamental e tem como objetivo a consolidação do intercâmbio económico e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, utilizando Macau como intermediário. 

– Que lhe foi pedido quando assumiu funções?

T. M. – Continuar a implementar ativamente os trabalhos definidos nas Linhas de Ação Governativa, dando apoio ao Secretariado Permanente, proporcionando-lhe os recursos necessários para a concretização dos trabalhos, nomeadamente na implementação do plano de ação assinado na Conferência Ministerial, na concretização dos projetos de cooperação definidos pelos países participantes, assim como na concretização das atividades organizadas ou que contam com a participação do Secretariado Permanente, anualmente.

– É responsável por atividades como promoções comerciais, formação de recursos humanos, língua e intercâmbios culturais. O que já fez e o que pretende fazer em cada uma destas áreas? O que acha que deve ser melhorado? Qual é a importância de cada uma destas áreas para o sucesso do Fórum Macau?

T. M. – No que diz respeito à promoção da cooperação bilateral nas vertentes económica e comercial, e de convenções e exposições, há que integrar mais elementos dos países de língua portuguesa nas convenções e exposições realizadas em Macau e no interior da China. Também temos como fim a organização de delegações compostas por representantes dos diferentes territórios para participarem em atividades e eventos, nomeadamente exposições, feiras, visitas, intercâmbios, captação de investimento e capitais. Em 2017, por exemplo, foi organizada uma delegação com empresários das províncias de Hunan, Jiangsu, Shangdong e de empresas e setor bancário de Macau, que se deslocou a Moçambique, Cabo Verde e Portugal para participarem em eventos como o “Encontro sobre a Cooperação da Capacidade Produtiva entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, em Moçambique; o “Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, em Cabo Verde, e o “Fórum Empresarial das Oportunidades de Negócio entre Portugal, China e a RAEM”, em Portugal. Durante a estada nos três países, a delegação visitou os respetivos ministérios e embaixadas, órgãos responsáveis pelos assuntos do Fórum de Macau, institutos para a promoção de investimento e empresas locais. 

– E na área dos recursos humanos?

T. M. – As áreas de formação incluem gestão de hotelaria e turismo, gestão de saneamento e saúde pública, modernização dos serviços públicos, captação de comércio e investimento, convenções e exposições, Direito Comercial e Internacional, capacitação das pequenas e médias empresas, administração pública, políticas tributárias e fiscais, cooperação financeira, cooperação da capacidade produtiva, e cooperação na área de medicina tradicional. O Secretariado Permanente tem colaborado com os Serviços de Turismo de Macau, desde 2012, no sentido de organizar formações e oportunidades de estágios aos funcionários dos seis países africanos e asiáticos de língua portuguesa, respetivamente Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste, registando um total de 131 participantes. 

– Por último, e ao nível do intercâmbio cultural?

T. M. – O Fórum de Macau realizou, com sucesso, as nove edições da “Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa”, para a qual foram convidados artistas de música e dança, artistas plásticos, chefes de cozinha, artesãos e artistas de teatro provenientes das nove regiões de língua portuguesa.

– Quantas pessoas emprega o gabinete e de quantas precisaria para operar na perfeição? Ao nível da formação dos recursos humanos, quais são as principais carências e em que áreas deve assentar a aposta?

T. M. – Temos de reforçar o intercâmbio e a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, ligando a Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Também temos de potencializar o papel de Macau como ponte de ligação entre os respetivos territórios. O Gabinete de Apoio tem 30 pessoas, e continua a consolidar a equipa de trabalho com vista a estabelecer um sistema de gestão aperfeiçoado e assegurar de forma contínua um serviço de excelência. No ano de 2017, o Gabinete, em conjunto com o Secretariado Permanente do Fórum de Macau, organizou e participou em 90 atividades – 75 na área da promoção económica e comercial, nove na área de formação e educação, e seis na área do intercâmbio cultural.

– Qual é a situação dos três centros que estavam previstos serem criados? 

T. M. – No que diz respeito ao Centro de Distribuição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa, a rede de exposição dos produtos alimentares dos países tem vindo a ser alargada, tanto no interior da China como em Macau. Em 2017, foram realizadas 65 atividades promocionais alusivas aos produtos dos países de língua portuguesa. Com vista a aumentar a eficácia da passagem nas fronteiras do interior da China dos produtos alimentares desses países, o Governo da RAEM criou, em 2015, um grupo de trabalho que conta com a participação dos Serviços de Alfândega, do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, dos Serviços de Finanças, dos Serviços de Economia e do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, com o objetivo de facilitar a entrada no mercado chinês. O intuito é criar facilidades nas formalidades alfandegárias, de inspeção e quarentena. Em agosto de 2017, os primeiros produtos de comércio eletrónico transfronteiriços de Macau foram exportados para Nansha através da fronteira Flor de Lótus, marcando a abertura do novo canal dos produtos de Macau e dos países de língua portuguesa, agenciados pelas empresas de Macau para distribuírem a todas as cidades da China.

– O que tem sido feito com o Centro de Convenções e Exposições para a Cooperação Económica e Comercial?

T. M. – Os elementos dos países de língua portuguesa têm vindo a ser enriquecidos nos diversos eventos de convenções e exposições de Macau. A “Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa” realiza-se de modo independente desde 2017, quando aumentou de 134 stands, em 2016, para 200 stands. A par disso, desde 2016, a Feira Internacional de Macau começou a convidar um país lusófono e uma província do interior da China para serem parceiros. Já no que diz respeito ao Centro de Serviços Comerciais para as pequenas e médias empresas continuamos a organizar workshops sobre as oportunidades de investimento, com o intuito de dar a conhecer o ambiente e oportunidades de comércio e investimento às empresas de Macau e do interior da China nos países lusófonos. Com o objetivo de as apoiar no processo de internacionalização, foram organizadas delegações que integraram empresas do Continente e de Macau para estarem nas exposições e feiras nos diferentes países. Também foi organizada a delegação do Pan-Delta do Rio das Pérolas para visitar Portugal e o Brasil.

– A antiga responsável pelo gabinete, Echo Chan, dizia que “não pode ser o Fórum a fazer tudo”, em relação à responsabilidade que outras entidades, como as universitárias, também têm de ter. Como é que olha para o papel de cada entidade envolvida nesta cooperação e como tem sido a relação do fórum com as mesmas?

T. M. – O Gabinete de Apoio poderá encorajar os serviços públicos e entidades privadas a participarem no intercâmbio e cooperação económica e cultural entre a China e os países de língua portuguesa.

– Mas que papel devem ter e têm as outras entidades e empresas?

T. M. – Devem intensificar a divulgação e encorajar as empresas para participarem na cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, e criar oportunidades de negócios.

– Qual é o papel do fórum e que importância tem de facto em Macau, para a China e PALOP, e nas relações entre os territórios? 

T. M. – Passados 15 anos do estabelecimento do Fórum de Macau, a RAEM desenvolveu, através das próprias valências, serviços de alta qualidade nas vertentes linguísticas, financeiras, jurídicas e de convenções e exposições. A projeção internacional de Macau está cada vez mais patente. Foram desenvolvidas as indústrias de convenções e exposições, de turismo e do trânsito de mercadorias dos países lusófonos, sendo melhorado o papel de Macau enquanto intermediário de serviços financeiros para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa.

– O que mudou na relação entre esses territórios desde que o Fórum Macau foi criado? O que passou a existir que não existia?

T. M. – As áreas de cooperação têm aumentado significativamente, passando de sete, definidas na 1ª Conferência Ministerial, para 20, anunciadas na 5ª Conferência Ministerial, e que abrangem várias áreas da economia nacional e desenvolvimento social.

– Como é que são as relações e a comunicação do Fórum com outras entidades dos PALOP e da China?

T. M. – A cooperação intergovernamental é mais estreita. A partir do estabelecimento do Fórum de Macau, as relações têm-se desenvolvido a um ritmo constante.

– O ano passado, as trocas comerciais entre Portugal e Macau, por exemplo, desceram substancialmente (mais de 80 por cento). Como é que se explica a queda tendo em conta que o fórum procura o sentido inverso?

T.M. – A cooperação económica e comercial são apenas partes da função dessa plataforma. Na verdade, Macau também se concentra em disponibilizar serviços de qualidade, talentos e promover o intercâmbio cultural, portanto, não podemos dar atenção só aos dados comerciais entre Macau e Portugal. De facto, o comércio e o investimento entre a China e os países de língua portuguesa têm apresentado um crescimento rápido. De janeiro a novembro de 2017, o valor global das importações e exportações entre a China e os países de língua portuguesa totalizou 107,755 mil milhões dólares americanos, representando um aumento de 29,47 por cento em comparação com o período homólogo, ultrapassando o valor global de 90,87 mil milhões dólares americanos em 2016. O valor global das importações da China dos países de língua portuguesa foi 74,756 mil milhões dólares americanos, representando um aumento de 32,21 por cento em comparação com o período homólogo; o valor global das exportações da China para os países de língua portuguesa foi 32,999 mil milhões dólares americanos, representando um aumento de 23,66 por cento em comparação com o período homólogo. O valor global do investimento da China nos países de língua portuguesa também aumentou de 56 milhões dólares americanos em 2003 até 50 mil milhões dólares americanos em 2016.

– Depois de 30 anos de carreira na função pública, como encara este novo desafio?

T. M. – A minha nomeação para o cargo da coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente é uma nova experiência e um novo projeto. É uma entidade diferente de outros serviços públicos. É necessário tomar decisões imediatas quando surgem imprevistos urgentes. A nomeação para o cargo da coordenadora é uma preciosa oportunidade que muito irá contribuir para aumentar as minhas capacidades pessoais. Estou empenhada em envidar os maiores esforços para concretizar as tarefas do Gabinete de Apoio. Darei o meu melhor para tornar Macau num elo e ponte para a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. 

Sou Hei Lam  09.02.2018

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