Verdade e confiança

por Arsenio Reis

Há uma batalha no mundo das notícias que parece não ter sido ainda percebida pela maioria dos meios de Comunicação Social. Essa batalha vai acabar por ter vencedores e vencidos. É a batalha pela verdade. Poluída pelos vícios das redes sociais, empurrada para o terreno digital onde ainda não consegue gerir com eficácia a opção pelas assinaturas e os modelos de publicidade, muita da Comunicação Social deixou-se colonizar, da pior forma, pelo sensacionalismo, na busca dos títulos “espertos”, que convocam o “clickbait” para mostrar as visitas aos anunciantes.

É impressionante como órgãos sérios e responsáveis parecem, no dia a dia, convertidos em adeptos de truques para iludir o leitor. Ao fazê-lo, ao “venderem gato por lebre”, esses meios de Comunicação Social não se dão conta de que estão a cavar a sua própria sepultura. É que, podendo ganhar algumas vantagens no domínio publicitário imediato, através de um público seduzido pelo sensacionalismo, perdem progressivamente crédito e bom nome. E isso, como é dos livros, dificilmente se volta a recuperar.

Como frequentador de muitos “sites” e espaços digitais, dou comigo a fazer, cada vez mais, uma separação do joio que está no meio do trigo. Porque alguns desses espaços me dão, por sistema, notícias ilusórias, me tentam iludir através de títulos “hábeis” e “leads” enganadores, vou tendendo, quase inconscientemente, a deixá-los de parte. Tenho a sensação de que, a cada dia que passa, crio uma espécie de “lista positiva” daqueles produtores de informação de onde saio com a sensação (porventura ilusória, dirão alguns) de que o produto que me é servido tem uma relação mais forte com a verdade. Estou perfeitamente convicto de que este será o caminho do futuro.

Com efeito, mergulhado num manancial de notícias, o leitor tende a apreciar cada vez mais a informação abalizada, com a apresentação equitativa da posição das partes, mesmo se acompanhada por uma opinião bem identificada, por uma assinatura prestigiada, em que o leitor sabe que pode acreditar, com vista a formar a sua própria opinião. O leitor do futuro – curiosamente, tal como o do passado confiava em que “se já saiu na Imprensa é porque é verdade” – vai tender a aceitar que uma coisa é verdadeira se acaso a leu num órgão de comunicação em que, por amostragem cumulativa, se habituou a confiar. E, com toda a probabilidade, na lógica que fazia o sucesso dos “anchors” das TV anglo-saxónicas, vai olhar a cara da pessoa que lhe lê ou escreve as notícias e nela vai encontrar a empatia que credibiliza aquilo que ouve ou lê e em que acredita.

Os órgãos de informação devem entender que o seu sucesso, a prazo, passa por serem reconhecidos como “pessoas de bem”. A confiança vai ser a chave da informação no futuro.

Francisco Seixas da Costa*  26.01.2018

* Embaixador

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