O Dia D de ataque a Kim Jong-un, 18 de dezembro, já passou, e durante este período de tempo a Coreia do Norte, através do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, comunicou na Suíça que estava disposta a negociar com os Estados Unidos.
O lado americano respondeu, através do Secretário de Estado, Rex Tillerson, dizendo que também eles estavam dispostos a dialogar sem condições prévias. Afirmaram que primeiro poderiam “falar sobre o tempo”, mas depois teriam de seguir as intenções do presidente Trump. Adicionaram ainda que a Coreia do Norte deve parar com as suas provocações se quiser que os Estados Unidos continuem a garantir a segurança de Pyongyang. Ambos os lados estão abertos ao diálogo, mas nenhum mencionou o destronar de Kim Jong-un marcado para dia 18 pelos Estados Unidos.
Na verdade, o destronar de Kim Jong-un é apenas uma estratégia por parte dos Estados Unidos de resolver o problema da península coreana. Os EUA têm consciência de que lhes falta legitimidade para tal ataque, sendo que a comunidade internacional não o iria aprovar e compreender. Kim Jong-un não é Osama bin Laden, e embora apresentem a Coreia do Norte como Estado terrorista, essa categorização ainda é posta em causa.
Além do mais, o problema da Coreia do Norte não é algo de resolução rápida. Se o ataque à Coreia do Norte falhar, territórios como Coreia do Sul, Japão ou a ilha Guam irão sofrer ataques de retaliação, e até mesmo os Estados Unidos correm o risco de ser alvo de um ataque nuclear norte-coreano. Mesmo tendo fortes capacidades de defesa antimíssil, não há garantias de que estarão completamente a salvo de um ataque desta dimensão.
Além do mais, se os Estados Unidos forem atacados, o presidente Donald Trump já não poderá ser responsabilizado. Se a Coreia do Norte declarar guerra contra os EUA, os últimos ganharão sem sombra de dúvida. No entanto, se, devido a interesses internos, a China e a Rússia também declararem guerra, os EUA e a sua dita capacidade de lutar em duas ou três frentes irá ser posta à prova. Cabe aos Estados Unidos o iniciar de uma Terceira Guerra Mundial? O que acontecerá ao mundo nessa altura? Estas são responsabilidades que o governo dos Estados Unidos não está disposto a assumir.
Por outro lado, se este ataque for bem-sucedido, os eventos que se irão suceder também não serão facilmente resolvidos. Os EUA já tiveram experiências semelhantes no passado, com o Afeganistão, o Iraque e até com a Líbia. Além disso, a Coreia do Norte é um estado soberano, ocupando o norte da península coreana, e, logo, está entre dois grandes poderes, a China e a Rússia.
Se Kim Jong-un desaparecer, colocar-se-ão as questões: Quem irá governar Pyongyang? Quem irá garantir a estabilidade de Pyongyang? Poderá haver uma unificação da península? Qual será a atitude da China? Qual será a atitude da Rússia? Consta que este ataque a Kim Jong-un inclui um total de 500 objetivos específicos, como centrais nucleares e centrais de mísseis. Sendo assim, o que fazer quanto aos problemas de radiação? Todas estas questões não são simples.
Por isso, acredito que esta operação contra a Kim Jong-un seja como os constantes exercícios militares. É uma forma de o assustar, de criar uma guerra psicológica. A mensagem transmitida pelo ministro Sergey Lavrov de que a Coreia do Norte está disposta a dialogar mostra que a estratégia está a resultar. Estamos por isso, neste momento, numa fase de negociação. A acrescentar a tudo isto, o presidente sul-coreano mostrou-se disposto a adiar exercícios militares durante os Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, Coreia do Sul.
Os Estados Unidos talvez possam, assim, aproveitar para adiar os seus planos numa demonstração de boa-fé e vontade de dialogar e, aquando de um diálogo com a Coreia do Norte, não discutir “apenas o tempo”.
DAVID Chan