Macau prefere esperar

por Arsenio Reis

O ano novo, a ocidente, simboliza a renovação, celebra um futuro melhor. A festa, rija e longa, anuncia a mudança, novas conquistas. E a nostalgia: saudade do tempo que passa, lamentos perdidos… Entre golos de champanhe borbulha a consciência, o balanço, a lista do que está por fazer. Doze desejos; nem mais nem menos: dinheiro, paz, amor, saúde, viagens… dá para tudo e é de graça. Basta fechar os olhos, sem compromisso moral, ideológico ou religioso. 

O ritual é pagão, feito de reflexão interior e comunhão emocional com a natureza. Vem aí a mudança de ciclo chinesa. Outra História, também ela faz contas ao passado, sorrindo a um futuro melhor. Novas energias. Como em todos os ciclos, com princípio, meio e fim, chegará um dia a rotina, a decadência… finalmente a renovação.

O tempo hoje é diferente. Cada vez mais rápido. Como são as emoções, os medos, os sonhos. O tempo de Macau, por exemplo, continua lento e pastoso… à espera de um futuro como se o presente nada tivesse a ver com isso. Macau sabe esperar. Entretanto, o resto do mundo acelera a grande velocidade. A memória não é assim tão curta. Não há muitos anos, atravessar a fronteira era andar para trás no tempo. Hoje o futuro emerge do lado de lá. Não assim há tanto tempo, Macau estava nas capas do mundo, era exemplo e transição, símbolo da afirmação da China e do pragmatismo de Portugal. Depois foi montra económica, mestre da liberalização do jogo. Sobra hoje uma conversa pastosa, protecionista, conservadora. Macau parece encolher.

Cresce na economia ocidental uma nova paixão: génios do futuro. Vestem de ganga, andam de ténis, pensam rápido, em algoritmos… dirigem empresas. Também eles são formatados: decoram processos, falam por siglas, digitam. Mas o seu formato é diferente: fresco, novo, acelerado, focado no sucesso. Há muitos desses na China. Cada vez mais. Mas não em Macau. Aqui não há espaço, interesse, nem condições. Novo ano, vida nova, diz-se. Mas não vai ser assim. Macau prefere esperar.  

Paulo Rego

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