O meu 4-3-3, sem bola

por Arsenio Reis

Bem sei que há quem não goste de bola, coitado do amarelo, mas a dose vai aumentar. O Mundial de Futebol só começa a jogar-se daqui a 193 dias, mas as luzes já se acenderam em Moscovo, palco para onde vão convergir atenções, sonhos e as melhores seleções do planeta.

Noutro campeonato, ainda que aproveitando-se deste, a Rússia joga aí uma oportunidade soberana para romper o seu isolamento político. Não por acaso, o próprio presidente Vladimir Putin veste a pele de mestre de cerimónias e abriu o Palácio do Kremlin à gala que assinalou o sorteio das seleções. Ele, de quem sabemos preferir desportos mais solitários – como nadar, esquiar ou montar a cavalo -, sabe que o Mundial de futebol é certamente um dos mais populares espetáculos desportivos, seguido por muitos, muitos, milhões de fãs e adeptos, a toda a largura do mapa.

A imagem e posicionamento da Rússia perante o Mundo não são hoje os mesmos de há sete anos, quando a votação em Zurique confirmou os desejos de um Putin a falar inglês, numa operação de charme para atrair o campeonato para o seu país. De então para cá, a anexação da Crimeia e a intervenção política e militar no Leste da Ucrânia condenaram os herdeiros do império soviético a um novo isolamento. Ora, o presidente russo antevê neste Mundial a oportunidade para quebrar o bloqueio. Para Putin, além da ambição política e reputacional, a afirmação da Rússia como destino turístico também é um dos objetivos do campeonato, que ocorre quando Moscovo sofre sanções que lhe penalizam severamente a economia. Aos olhos do Mundo, ele há de querer que os fãs de todas as geografias sejam bem acolhidos por um país amigável, que neutralize a imagem negativa de uma Rússia agressiva, hostil e militarista. E que a festa do futebol ajude a esquecer a humilhação sofrida por grandes figuras do desporto russo, desqualificados e a quem foram retiradas medalhas como resultado das acusações de doping nas olimpíadas de inverno, em Socchi.

É precisamente aí, nessa mesma cidade da costa do mar Negro, junto às montanhas nevadas do Cáucaso, que a seleção portuguesa vai disputar o seu primeiro jogo do Mundial de 2018. É a 15 de junho, contra a Espanha. Ora, se o Mundial serve a Putin como oportunidade para promover a Rússia, não se vê porque não havemos nós, também, de fazer render a oportunidade dessa enorme montra. Por exemplo, associando à campanha da nossa seleção as melhores marcas de Portugal, seja como destino, seja pela excelência de alguns dos nossos melhores produtos. Afinal, chegamos lá com a responsabilidade de sermos campeões europeus e de, entre os nossos, na indústria do futebol, contarmos alguns dos melhores do Mundo. Desde que ganhem. 

Afonso Camões*

Diretor

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