A China está a intrometer-se nos assuntos de Myanmar?

por Arsenio Reis

Desde que os conflitos militares começaram a 25 de agosto no estado de Arracão, em Myanmar, mais de 600 mil pessoas de etnia Rohingya fugiram para o país vizinho, o Bangladesh. 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, no dia 18 de novembro fez uma visita oficial ao Bangladesh para se encontrar com Sheikh Hasina, atual primeira-ministra, e com Abul Hassan Mahmud Ali, atual ministro dos Negócios Estrangeiros de Bangladesh. Depois dessa reunião ambos os ministros das relações externas comunicaram que a China está disposta a prestar ajuda como país fraterno na questão do povo Rohingya.

Depois do encontro de Wang Yi, em Myanmar, com a Ministra dos Negócios Estrangeiros birmanesa, Aung San Suu Kyi, ambos apresentaram em conferência de imprensa as medidas em três fases que a China tenciona tomar para ajudar nesta questão. 

Numa primeira fase consta pôr em prática um cessar-fogo e reestabelecer a ordem, de forma a criar segurança para a população e retirá-la da categoria de refugiados; numa segunda fase, encorajar ambos os lados a desenvolver e reforçar a comunicação mútua, fazendo com que através de uma relação amigável seja encontrada uma solução para o problema; finalmente, numa terceira fase, confrontar diretamente a raiz do problema e procurar uma solução para o mesmo. Além disso, a China apela ainda a toda a comunidade internacional para dar apoio a estas áreas necessitadas, de forma a diminuir a pobreza e ajudar ao desenvolvimento das mesmas.

Após o encontro entre os dois, Wang Yi deu claramente a entender à ministra Aung San Suu Kyi que não estava a fazer um discurso unilateral. Este falou do problema do povo Rohingya, adotando um ponto de vista histórico. Wang yi não julgou o Myanmar como se estivesse numa posição moralmente superior, ao contrário de outros países que adotaram esta atitude e apontaram o dedo ao Myanmar. Wang Yi e Aung San Suu Kyi discutiram durante o encontro estas três fases propostas pela China. 

A proposta é simples: primeiro é necessário um cessar-fogo, caso contrário irá continuar a haver feridos e mortos, o que afetará consequentemente a imagem do governo de Myanmar, incluindo a de Aung San Suu Kyi. A segunda fase é o diálogo. De momento, a comunicação é algo difícil de realizar, visto que a maior parte do povo Rohingya fugiu de Myanmar e, por isso, é primeiro necessário possibilitar o seu regresso. Aqui surge o problema da recuperação das habitações originais, e aqui talvez a China possa intervir. Na terceira e última fase, a China pode ter um papel ainda mais ativo. Os problemas existentes, e que ao longo deste tempo não têm sido resolvidos, surgem na forma de questões religiosas, étnicas e de soberania, mas a raiz está na pobreza. Assim que é seguida uma via de desenvolvimento, independentemente do lugar, torna-se mais fácil debater todas as outras questões. Nesse sentido, as medidas do projeto “Uma Faixa, Uma Rota” irão prestar uma ajuda.

Para Myanmar e para Aung San Suu Kyi, esta visita de Wang Yi aconteceu, precisamente em tempo de necessidade. Esta ajuda chinesa deu uma luz de esperança ao Myanmar, que não sabia como cumprir aquilo a que se tinha comprometido. A China conseguiu nesta situação adotar uma posição correta. Em vez de seguir a postura adotada pela restante comunidade internacional, a China, pelo contrário, deu resposta aos problemas e forneceu uma ajuda que tanto necessitavam. No futuro, a China não será apenas capaz de articular a sua iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, mas também poderá encontrar resolução para os conflitos de longo prazo entre o Myanmar e o povo de etnia Rohingya. 

DAVID Chan 

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