Centro Internacional do delírio

por Arsenio Reis

A elite local quer tomar conta da governação dos casinos. Escusam de acenar com a proteção do emprego – quando não há desemprego – ou com uma estranha forma de meritocracia étnica. Não há sequer em Macau quadros suficientes para, no seu todo, garantirem o sucesso de uma grande operadora; quanto mais a de todas elas, com a panóplia de operações em que estão envolvidas – gamming e non gamming. O investimento estrangeiro é sequestrado por quadros locais como se os houvesse em quantidade e qualidade, ao menos sofrível. É um delírio conceptual que impõe o poder, arruinando a estratégia da diversificação económica, da atração do investimento e do Centro Internacional de Turismo e Lazer. Negar a realidade é fácil; não falta gente especializada nisso. Mas a verdade está lá: as consequências são incontornáveis.

Chui Sai On disse-o na Assembleia; Lionel Leong lá tentou explicar o inexplicável e o silêncio dos operadores é sintomático. Na reta decisiva para a renovação das (sub)concessões, eis a grande novidade: passar a governação para as ávidas mãos locais. Tudo o resto, por boas ou más razões, é segredo. Aí está a grande estratégia do Centro Internacional de Turismo e Lazer: localizar a gestão, como se o jogo e o turismo estivessem nas mãos de um colono que tem de partir.

Vai acontecer. Negar essa evidência é outra forma de alienação. Quem acha que não vão ser espremidas as quotas, ou que os operadores não estão a negociar pressionados com essa imposição étnica, é porque não quer ouvir o que diz o poder. Resta apenas uma dúvida: ou a elite local – de saída – tenta transferir a sua influência do Palácio para os casinos; ou Pequim quer controlar as operadoras estrangeiras e o dinheiro que fazem circular.

Moralismos à parte, porque não fazem sentido nem levam a lugar algum, Pequim e Macau sabem bem o que estão a fazer – seja quem for o agente ativo e o passivo. Há muito se percebeu que a renegociação das concessões coincidiria com decisões de fundo sobre o que vai ser afinal a Região Administrativa Especial, daqui até 2049. Do ponto de vista formal, a decisão cabe a quem cabe; está fora de discussão a legitimidade de Pequim e do Palácio da Praia Grande. Do ponto de vista estratégico, não vale a pena fazerem uma coisa e quererem resultados que só se atingem, fazendo o seu contrário. Do ponto de vista da imagem e da comunicação, não esperem que, fazendo uma coisa, toda a gente veja outra – ou não veja seja o que for.  

Paulo Rego

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