Afinal, a chave é 7-25-50-25

por Arsenio Reis

Contas feitas e fechado o Orçamento, ficamos a saber que em 2018 o Estado português vai ter um “lucro” de 4 mil milhões, um montante que, depois de pagar juros, se transforma num défice de 2 mil milhões (1% do PIB) por artes da dívida. O episódio que se segue leva-nos à Concertação Social, onde os parceiros negoceiam, por estes dias, a atualização do salário mínimo. O Governo propõe uma subida de 23 euros, para 580, mas os sindicatos pedem mais e o patronato quer contrapartidas. Se a economia cresce, e tem crescido, é legítimo repartir. Pelo que o debate estará focado na medida da repartição da riqueza criada.

Prevenindo embora para os riscos do excessivo endividamento, Bruxelas avalia positivamente o comportamento da nossa economia. Mas Portugal reprova em metade dos 14 principais indicadores de avaliação social: somos um país mais desigual que a média europeia, onde os 20% mais ricos ganham seis vezes mais que os 20% mais pobres. E temos negativa, também, no elevado abandono escolar e na aparente ineficácia dos apoios sociais contra a pobreza.

Nem de propósito, esta avaliação coincide com o anúncio das conclusões da Cimeira de Gotemburgo, onde os sócios da União acabam de aprovar um catálogo de 20 novos direitos sociais, como resposta à crise e à emergência dos populismos extremistas.

Vaidosa dos seus pergaminhos, a Europa gostava de se saracotear pelas passarelas da economia global exibindo as invejáveis medidas 7-25-50, como quem diz que 7% da população mundial acumula 25% da riqueza e representa 50% das despesas sociais em todo o Mundo. Mas os estilhaços da crise e a radicalização de crescentes extratos sociais, a toda a largura do continente, acabaram por acordar os principais dirigentes da União, sobressaltados por uma quarta medida: 7-25-50-25. Sendo que 25% é, afinal, a percentagem de europeus pobres e em risco de pobreza. E mais: que tal chaga se agravou ao longo da grande recessão devido a uma gestão desastradamente medíocre. Sim, porque nem a Comissão Europeia nem o Banco Central Europeu estão livres do pecado. Integraram a troika, com o FMI, e são cúmplices da sua receita: a sobredosagem de austeridade dizimou o pilar social, a verdadeira alma europeia. E, como consequência, cresceram por toda a Europa sentimentos de incerteza, insegurança, medo e indignação, que nalguns países se cristalizam no apoio aos populismos. A resposta aprovada em Gotemburgo, ainda que não vinculativa, é um importante sinal de esperança para os cidadãos europeus. Mas a Inglaterra está de saída e a senhora Merkel não esteve lá. A Europa continua à porta da Alemanha. 

Afonso Camões* 

*Diretor do JN

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