A ligação direta entre Pequim e Lisboa é um facto. Catapulta o turismo, o comércio, alianças políticas, fluxos financeiros… Mas há mais: é o curso da história a mudar, em busca do tempo perdido. Cada vez mais virada a Oriente, a Alemanha soma hoje mais trocas comerciais com a China que o resto da União Europeia. Na outra ponta do continente, Portugal é âncora de relações atlânticas e lusófonas. Pequim estende a lógica até onde pode.
Lisboa agradece; recebe com pompa e circunstância. Vem turismo, investimento, negócio… O Governo português exulta com a nova rota da seda, aposta no canal. Visto daqui, com os pés na terra em Lisboa, Portugal não é o mesmo país menor: bom colono, dócil e comportado, que entregou Macau à Grande China. Pequim agradece esse tempo, nunca se esquece. Mas agora quer mais: plataformas, know-how, informação, escala, relações, estratégia…
Surpresa no Beato: velha zona industrial transformada em base do novo mundo: ruínas remodeladas, estúdios e escritórios. A aposta é clara: navegar em tecnologia. O hub criativo – 35 edifícios em 35 mil metros quadrados de terreno – abre as águas de Lisboa a programadores, produtores, engenheiros informáticos, comunicadores… Há qualquer coisa no ar. Vê-se. No sorriso daquele e do outro, no futuro que está a chegar.
Macau tem pontes a fazer em Lisboa. Muitas. Para sua própria reflexão, diversificação… Também há pontes para a sanidade. Há as pontes com Pequim, claro; com Shanghai, Guangdong ou Banguecoque… Mas a história que nos liga a Lisboa é especial. Tem o chão do passado e o céu do futuro.
Conversa interessante: diferenças. Eles isto; nós aquilo, amanhã talvez iguais… Mas não somos; jamais seremos. A diferença importa e faz bem. Não há ponte sem que haja dois lados.
Há, de facto, dois lados; e há vontade de os juntar. Até há a tese de que Macau sabe atar a ligação. Isso está por verificar, mas talvez se aprenda. É esse o caminho a anunciar. Visto daqui, com os pés na terra em Lisboa, parece mesmo possível.
Paulo Rego