Início » Macau com maior prevalência de depressão na região

Macau com maior prevalência de depressão na região

A população chinesa do território sofre mais de depressão do que a de Hong Kong e a da China continental, conclui estudo da Universidade de Macau.

Estima-se que entre 23 mil e 36 mil habitantes chineses do território sofram de depressão,  correspondendo a uma fatia maior de população do que na região vizinha e na China continental. São as principais conclusões de um estudo da Universidade de Macau intitulado “A epidemiologia da depressão atual em Macau, China: Na direção de um plano de ação para a saúde mental”, publicado em 29 de junho na plataforma Research Gate, levado a cabo por uma equipa liderada pelo investigador do departamento de Psicologia, Brian Hall.  

O estudo teve por base 1,068 inquéritos a indivíduos chineses com mais de 18 anos, realizados em janeiro de 2015. Entre as principais descobertas, contam-se a elevada prevalência de depressão no território (8 por cento), com uma ligeiramente maior incidência nas mulheres (9,3 por cento) do que nos homens (8,8 por cento), sendo particularmente visível nas mulheres mais velhas (13,4 por cento), em comparação com outros segmentos demográficos. Olhando para os escalões etários, conclui-se ainda que na meia-idade a prevalência é maior nos homens (10 por cento) do que nas mulheres (7,35 por cento). 

Os grupos em maior risco de desenvolver uma depressão são: desempregados, separados ou divorciados, indivíduos que se autodiagnosticaram como tendo uma saúde pobre, além daqueles que têm pior qualidade de vida, menor confiança na comunidade, menor percepção de justiça ou menor integração social.  

Brian Hall considera que a alta prevalência de depressão entre os chineses de Macau, “maior do que a apontada em estudos anteriores, em Hong Kong e na China continental”, revela que o cuidado com a “saúde mental deve ser uma prioridade” no território. E percebe-se que “há um desencontro entre os números de casos de depressão encontrados e o apoio que existe”, por haver “21 psicoterapeutas registados no Governo”, e apenas “quatro com doutoramento” e “um a falar cantonês”.

Saúde mental na agenda

Tratando-se este do primeiro estudo que procura analisar a prevalência da depressão no território, Brian Hall afirma que quis trazer a saúde mental para a agenda. “Estamos a começar uma discussão sobre prioridades e planeamento para a saúde [mental]”, diz, acrescentando: “A prevalência surge para perceber quão relevante é este assunto. A depressão é a mais comum das doenças mentais.”

O investigador não fica surpreendido por nunca ter sido feito este tipo de estudo em Macau, já que, por um lado, “a saúde mental é um tabu que tem associado um grande estigma no contexto chinês”, e por outro “a depressão é uma doença invisível”, que leva a que muitas pessoas desconheçam a necessidade de um estudo do género. Depois, dados os “poucos psicoterapeutas” em atividade, a saúde mental aparenta “não ser uma prioridade” num território sobretudo marcado por “uma sociedade chinesa muito tradicional”. 

No território vizinho, por exemplo, presta-se mais atenção a este problema. “Em Hong Kong, há muito trabalho a ser desenvolvido para alertar para a existência desta doença e desenvolver estratégias para perceber que é algo mais do que apenas uma má disposição, e ligar estas pessoas aos cuidados respetivos”, diz. “A depressão e o suicídio andam juntos — e sabemos que as pessoas em Macau estão a ter pensamentos suicidas”, destaca.

Outros estudos no futuro

Neste estudo, analisaram-se pontos como o género, o nível de educação, os rendimentos e a ocupação profissional. Outros fatores associados às especificidades do território ficaram por analisar, como a “insatisfação com diferentes serviços como a saúde e os transportes” ou o impacto da indústria do jogo. “Foi por uma questão de espaço — fizemos inquéritos por telefone e mesmo assim sentimos que resistiam a participar ou que não queriam partilhar informação por telefone”, explica.

Assim, Brian Hall deixou alguns indicadores de análise para estudos posteriores. “Queremos medir os sinais locais de depressão e angústia —, as diferentes maneiras de entendimento da doença mental, por exemplo, se sentem que são fantasmas dentro de um corpo”, refere. 

Depois, considerando que os homens de meia-idade são os mais atingidos por esta patologia em Macau, o investigador quer complementar este estudo com outro “sobre a saúde mental de pessoas que trabalham na indústria do jogo”.

Além disso, tendo-se notado “uma prevalência de depressão nos idosos” e, considerando que Macau tem a esperança média de vida maior do mundo, “há muitos que se sentem desconfortáveis” com esta descoberta. Cabe, por isso, “desenvolver estratégias de intervenção direcionadas aos idosos”.

Já no que toca ao tratamento, nesta fase “prematura” o investigador afirma que é ainda difícil avaliar o território. O estudo indica que há dois hospitais no território que “providenciam internamento hospitalar em caso de doença mental profunda, mas não há espaços para utentes externos”, sugerindo que “a medicação e o internamento são os métodos de tratamento prioritários, ao invés de intervenções psicossociais e preventivas”. 

Assim, realça Brian Hall, “é preciso localizar os serviços nos cuidados primários, nos hospitais, nas escolas quando se trabalha com crianças e adolescentes, na forma como se ensina a lidar com os problemas da vida, e que acabam por ser medidas preventivas para a depressão”, declara. 

Há ainda que apurar se a estratégia certa para Macau é “treinar psicoterapeutas ou treinar assistentes sociais para desenvolverem competências específicas nesse campo”. Entre as várias hipóteses avançadas por Brian Hall, este acaba por destacar uma mais inovadora, e que passa por uma estratégia alternativa de saúde mental online. “Usar aplicações de telemóvel ou software da Internet, programas de autoajuda guiada, sempre sob a supervisão de um psicoterapeuta”, sugere. 

“Neste momento, em Macau não estamos seguros do que pode ou não funcionar, já que os métodos desenvolvidos no contexto ocidental podem não ser os mais apropriados”, diz.

O estudo tomou por referência os resultados dos Censos 2011 e que davam conta da existência de 379.932 falantes de cantonês no território. 

Luciana Leitão

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!