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Euromania

O euro estabiliza uns furos acima do dólar (1,15), mantendo uma tendência de subida que em pouco tempo o valorizou em cerca de dez por cento. Para quem vive em Macau a notícia não é brilhante, dada a indexação indireta da pataca ao dólar, por via da moeda de Hong Kong. Mas o movimento é consistente e tem pernas para andar. Mais do que a recuperação económica no Velho Continente, o fenómeno tem uma base política consistente. O comportamento positivo das economias portuguesa, grega, espanhola e italiana são para isso cruciais. Quiçá mais importante é o efeito psicológico do furacão Macron e a sua natural aliança com Merkel. Os receios do Brexit são minimizados e a afirmação de uma alternativa ocidental aos desvarios de Trump fazem renascer uma Europa há muito desfalecida.

Alguns economistas defendem que o valor natural do euro situa-se acima do 1,20 dólares, com base numa ponderação que mede o Produto Interno Bruto e as exportações. Contudo, é o poder político relativo que mostra ser decisivo na valorização do euro. As exportações asiáticas bem como os investimentos na Europa têm um custo cambial acrescido. Mas as alianças com o Velho Continente são hoje claramente mais interessantes do que a conversa surda com a arrogância e a falta de senso que tomaram conta de Washington. Como em tudo na vida, comprar mais barato não é necessariamente a melhor ideia. O que importa é que haja perceção de valor. 

A desvalorização do dólar também não é em si a pior ideia para a administração Trump. Facilita-lhes a venda de armamento e os negócios do petróleo, estratégia central para os falcões da direita tradicional. Mas o custo de oportunidade é mais alto do que parece. A Europa tem mais dinheiro para comprar produtos asiáticos. E a ascensão do eixo Paris-Berlim, bem como as alianças promovidas a Oriente isolam Washington e deitam por terra a hegemonia norte-americana. 

Escreveu esta semana um velho falcão em Washington: “Trump está a pôr em causa a nossa forma de vida.” E está. Mas está também a dar à Europa uma força que nem os europeus acreditavam ter.  

Paulo Rego

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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