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“É preciso promover a sustentabilidade da sociedade de Macau”

A Associação Novo Macau, que sempre defendeu a democracia, formou para estas eleições legislativas a Associação do Novo Progresso de Macau, que procura eleger, pela via direta, Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi. Em entrevista ao PLATAFORMA, Sulu Sou refere que o organismo que representa pretende criar espírito de coesão em Macau e fala sobre o crescimento dos membros mais jovens, na sequência da anterior derrota eleitoral.

– Recolheu em conjunto com a sua associação opiniões do público  sobre o programa político. Pode dizer-nos mais sobre esse trabalho?

Sulu Sou – Por volta de março deste ano, efetuamos uma recolha de opiniões em vários locais. Ao recolher opiniões na rua já era previsível que surgissem sugestões sobre a habitação ou o trânsito, mas o que nos surpreendeu pela positiva foi que os cidadãos puderam apresentar alguns exemplos reais. Estes casos, que passam despercebidos a quem não sai à rua, reforçam a diferenciação da nossa associação em relação aos outros grupos. As opiniões de especialistas, contudo, não são obtidas na rua. Ao irmos ao encontro de professores universitários para discutir questões sociais estamos a reforçar a nossa capacidade como organização política de elaborar propostas.

– Quais são os pontos fortes da vossa associação?

S.S – Em comparação com os outros grupos, a nossa vantagem é que não estamos comprometidos. Não recebemos subsídios do Estado e não temos quaisquer ligações de interesse a grandes grupos financeiros ou organizações. Há muitos pontos que geram contestação dos cidadãos , como alguns subsídios da Fundação Macau, recentes contratações ilegais do Governo, a existência de muitas lacunas em projetos subcontratados. Nestes pontos, os cidadãos também esperam que as associações possam fazer mais, e nós somos aquela que está menos comprometida, tendo, por isso, mais liberdade para levantar estas questões perante o Governo.

– Sob a sua liderança e a de Jason Chao e Scott Chiang, como tem mudado a base de apoio da associação?

S.S. – Quero que não estejamos restritos ao nosso círculo, ao mesmo ponto de vista e ideologia. Dando um exemplo, há quatro anos a geração jovem da associação acreditava fortemente nas muitas capacidades da Internet ou no seu apoio em diversas situações, mas muitas coisas passaram-nos ao lado. A maioria dos assuntos que levantámos nas eleições de 2013 centravam-se em questões discutidas na Internet e houve muitas matérias que não conseguimos apresentar às pessoas. A Internet é um recurso importante, mas também é preciso sair à rua e ver os problemas reais. Uma das grandes mudanças na associação nos últimos anos tem sido a transição do apoio concentrado nas camadas jovens ativas na Internet para uma tentativa de obter um maior número de apoiantes mais velhos e ganhar a sua confiança.

– Pode de forma concisa descrever as vossas políticas?

S.S. – É preciso fazer com que Macau tenha uma existência sustentável. Nos últimos anos, o ambiente social tem levado muitos residentes — em particular, as gerações mais jovens — a sair de Macau e a não regressar, e aqueles que estão cá também querem sair. Para Macau seguir em frente é necessário que aqueles que estão cá não abandonem o território. Esse é o principal ponto que queremos defender. Se a vontade de sair continuar a crescer, as políticas não terão importância, pois não lhes irão prestar atenção.

– Quais são então as vossas propostas para aumentar o espírito de coesão em Macau?

S.S. – Independentemente de se tratar de questões de terreno, habitação, sistemas de especialização, conservação cultural, planeamento urbano ou proteção das liberdades e direitos humanos, estes assuntos giram em volta de propostas concretas por parte de um programa em constante desenvolvimento. Para as camadas jovens, por exemplo, atualmente a maior questão é a insuficiência, ou mesmo ausência, de sistemas que permitam criar especializações. Já abordamos a questão do trabalho social, mas em Macau não existe este setor. Macau tem muitas pessoas que não querem trabalhar para o Governo e que também não querem trabalhar no setor do jogo, mas não têm qualquer alternativa.

– A associação sofreu mudanças na sua presidência. Anteriormente, surgiram rumores de divergências dentro do grupo, que resultaram também na saída de Au Kam San e de Ng Kuok Cheong. Teme que estes incidentes prejudiquem a confiança do público na associação?

S.S. – Nos passados dois ou três anos, não temos respondido diretamente a estes rumores, mas temos respondido através do nosso esforço no prosseguimento do trabalho, mostrando a todos que não estamos aqui para travar batalhas interpessoais, mas sim para travar batalhas pelas pessoas. Olhando para trás, na resolução dos problemas, houve alguma falta de maturidade ou tomaram-se decisões incorretas, mas estes foram gradualmente resolvidos. A instabilidade e as divergências causaram a derrota da associação nas eleições. Na realidade, estas experiências resultam no amadurecimento dos membros do grupo. No passado, tivemos a adesão de membros mais novos do que eu. Se estes não tiverem confiança em nós, ou se acharem que criamos turbilhões devido a interesses pessoais, não se irão juntar a nós.

– Como vê a aparente tendência atual de destacar as matérias relacionadas com as camadas jovens por parte dos grupos políticos e sociedade?

S.S. – Nestes quatro anos, tenho vindo a constatar que as esperanças e exigências que a sociedade põe sobre a nossa geração são desproporcionais em relação aos recursos dispostos a apoiá-la. Em todas as eleições, é possível ver os políticos mais velhos a declarar o seu apoio aos jovens e a referir a existência de muitos membros jovens entre os seus grupos. Porém, estes membros jovens são sempre um número nove ou 10, e os líderes são sempre as caras maduras. Por isso, acho que não devemos ceder ou ser influenciados, devemos simplesmente dar a ouvir a nossa voz.

Este ano, um ponto de destaque em termos organizacionais foi o conflito entre as gerações mais velhas e mais novas e as estratégias de agrupamento e posicionamento. Nos últimos quatro anos, tem sido exercida uma forte vigilância sobre nós, havendo o receio de que surjam pessoas ou ações indesejadas no nosso grupo. Isso constitui um grande desafio. 

Shao Hua

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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