Macau é o que é

por Arsenio Reis

A capacidade eleitoral de Chan Meng Kam, agora multiplicada por duas listas, permite antecipar quatro a cinco deputados eleitos pelo magnata de Fujian, de longe o mais votado em 2013. A ambição de Mak Soi Kun – segundo no último sufrágio – e a sua rede de influência em Cantão potenciam um eventual terceiro deputado, para além dos atuais dois. À partida, metade dos 14 assentos eleitos por sufrágio direto estão garantidos pelo status quo de origem étnica e oligárquica. Depois, o mundo dos casinos garante pelo menos Angela Leong e Melinda Chan; os tradicionais Operários e Kaifong valem outros dois ou três lugares; os dois eternos pró-democratas – Ng Kuok Cheong e Au Kam San – são resilientes e devem sobreviver; e Pereira Coutinho, único que se expressa em português, mantém o apoio decisivo dos trabalhadores da função pública. Não há verdadeira disputa, não há espaço para renovação, surpresas nem disrupções. 

O sistema, constitucionalmente dominado pelo poder Executivo, está ainda assim desenhado para diminuir a função alegadamente fiscalizadora da Assembleia Legislativa, já de si controlada por doze representantes de câmaras corporativas mais sete nomeados pelo Chefe do Executivo. A esses juntam-se os tais 14 do sufrágio universal, numa eleição curta no tempo, cheia de restrições e dificuldades impostas por uma Comissão Eleitoral que tudo faz para que a campanha seja anódina, higiénica e o menos consequente possível. Haver eleições há, e importa muito que haja. Porque sempre faz pulsar alguma coisa e formata a diferença da Região Administrativa Especial. É uma espécie de farol, mais ou menos visível na neblina da autonomia e da liberdade. Mas não muda nada. Do ponto de vista do sonho da modernidade política, valem zero.

Onde está então a dinâmica potencial de mudança? Na escolha do Chefe do Executivo, feita por um colégio eleitoral conservador e controlado por Pequim; na eventual mudança do sistema político, apenas possível por vontade e aval da Assembleia Popular Nacional; ou na pressão teórica que as novas elites possam teoricamente exercer, estando maioritariamente interessadas no seu bem-estar económico e na proliferação das relações políticas e comerciais com os poderes continentais.

Não vale a pena dramatizar. Também não é o fim do mundo; é o que é. E é com isso que tem de lidar quem queira contribuir para esta terra com mais do que ela parece querer de si mesma. 

Paulo Rego

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