China define nova globalização com as suas características

por Arsenio Reis

Quando criei pela primeira vez o termo “Chiglobalização” em 2009, tratava-se de um conceito visionário inspirado pelos conceitos de Niall Ferguson de Anglobalização britânica e de Ameriglobalização norte-americana, assim como pelo sucesso dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. 

Oito anos mais tarde, o conceito de globalização de iniciativa da China está a materializar-se, e a definição é mais válida e credível do que antes.

O conceito capta exatamente aquilo que a liderança da China tem feito desde 2013, particularmente com a visão do sonho chinês e a Iniciativa Faixa e Rota propostas pelo Presidente Xi Jinping.

Na altura, defini a Chiglobalização como “a crescente relevância, presença, influência e liderança globais da China na formação de uma nova visão global para a humanidade, na criação de um novo modelo para o desenvolvimento económico, na elaboração de um modelo alternativo de governação global e nacional, na criação de um novo modelo para o desenvolvimento científico e tecnológico, e na criação de uma cultura verdadeiramente cosmopolita caracterizada pelo multiculturalismo, interculturalismo e pragmatismo.”

A Chiglobalização também sugeria que “se refere a um processo liderado pela China de busca global por um esclarecimento global através de um modo de vida alternativo para a humanidade com base no modelo eurocêntrico, mas mais expandido e desenvolvido”, ou até mesmo com base no modelo anglo-americano.

Os bens de consumo exportados para todo o mundo ajudaram a aprofundar a relevância global da China e definiram a sua presença como fábrica global depois de o país se ter juntado à Organização Mundial do Comércio em 2001. Mais de 500 institutos Confúcio e mil Salas de Aula Confúcio espalhadas por cerca de 130 países ou regiões colocam a “China Cultural” no cenário mundial, participando num diálogo cara-a-cara com o mundo.

O esforço inicial da China em exercer influência global é subsequentemente solidificado pelo recente crescimento exponencial do seu peso económico no exterior. A China é descrita de forma conservadora como a segunda maior economia do mundo. Com quatro biliões de dólares em reservas em moedas estrangeiras e poupanças nacionais no valor de 155 biliões de yuans, o equivalente a mais de 22 biliões de dólares, a China tem nos últimos anos tentado ferozmente adquirir imobiliário e investir em fusões e aquisições de empresas por todo o mundo.

Com um total de um bilião de dólares em investimento direto estrangeiro (IDE), a China investiu diretamente mais de 150 mil milhões de dólares por todo o mundo, ficando apenas atrás dos Estados Unidos e representando cerca de 10 por cento do total de IDE global em 2015. Tal é acompanhado pelos crescentes números de turistas chineses no estrangeiro que fazem um bilião de dólares de despesas turísticas por todo o mundo.

Tomemos como exemplo a influência da China nos Estados Unidos. Enquanto o termo “Chimérica” foi criado para descrever a crescente interdependência económica entre os Estados Unidos e a China, “Chinafórnia” é usado para ilustrar este dinamismo estrondoso: como epicentro da tendência nacional, a “Chinafórnia é o ecossistema fluido de empreendedores, estudantes, investidores, imigrantes e ideias trocadas entre o estado dourado e o Império do Meio.”

Além disso, estão aparentemente em curso discussões com os Estados Unidos para que a China invista nos planos de um bilião de dólares de Donald Trump para desenvolvimentos de infaestruturas por todo o país, provavelmente como parte da Iniciativa Faixa e Rota da China. O poder da China em defesa nacional, influência global e indústrias culturais está a encurtar a sua disparidade com os Estados Unidos. Yanzhong Huang, membro do Conselho de Relações Externas, conclui que a China é uma superpotência, mas ainda não um líder global.

Talvez seja mais correto dizer que a China está a avançar em direção à liderança global. A Iniciativa Faixa e Rota, proposta pelo Presidente chinês Xi Jinping em 2013, é um plano para investir um bilião de dólares como capital de arranque e atrair mais nove biliões de dólares para construção de infraestruturas por todo o mundo, particularmente na Ásia. Isto pode ser interpretado como um exercício revolucionário da liderança global da China, navegando uma nova onda de globalização com o objetivo de conceber uma melhor governação global. O Presidente Xi expressou essas aspirações em discursos de abertura no Fórum Económico Mundial em Davos e na sede europeia da ONU em Genebra.

A China possui uma estratégia central. Em vez de construir bases militares por todo o mundo como os Estados Unidos, está a basear-se em estratégias vastas de comunicação e conectividade que vão da política às finanças, das infraestruturas e comércio à cultura e religião, para construir zonas de cooperação económica e centros de intercâmbio cultural.

O Presidente Xi e o Presidente Trump poderão ter concebido um mecanismo internacional de elite  para facilitar o diálogo e negociações nas relações sino-americanas, nos assuntos globais e nos da Ásia-Pacífico, na estância de Mar-a-Lago em abril, e o Fórum Faixa e Rota pode ser visto como uma solução de nível médio para estabelecer uma estrutura de diálogo global com as pequenas e médias potências para o desenvolvimento e a segurança comuns. Tal estrutura dual indica e facilita a formação de uma nova cultura global – uma comunidade mundial de futuro partilhado.

Com base nas vantagens dos predecessores, como a ordem mundial neoliberal, a Chiglobalização poderá definir e sustentar uma nova onda de globalização e governação global com sotaque chinês no século XXI, de forma mais benigna, mais igualitária e equitativa, mais aberta e pluralista, mais pacífica e harmoniosa do que os modelos predecessores.

Dado o valor central de coletivismo da China, o conceito de Chiglobalização coincide com o de multilateralismo, um tipo de globalização comum, e até mesmo com a Chiglocalização – envolvendo a renovação da modernização e da globalização sob a forma de melhorias infraestruturais para países desenvolvidos e de uma efetiva primeira modernização para países em desenvolvimento.

A globalização não tem um termo e também não pode dar-se ao luxo de procurar a homogeneidade. A Chiglobalização, tal como os conceitos seus predecessores, está a tornar o fenómeno mais completo, menos parcial ou homogéneo e mais diverso. Todos os países devem ter uma oportunidade de navegar esta nova onda de globalização.

Os líderes ocidentais, incluindo o anterior Presidente Barack Obama, e os meios de comunicação dominantes dos Estados Unidos criticaram a China por surgir passivamente à boleia da governação global. Contudo, a China está agora a assumir a Iniciativa Faixa e Rota, um novo bem público global para sustentar a globalização e a governação global.

O mundo ocidental, particularmente os Estados Unidos, deveriam ter dado as boas-vindas à iniciativa. Entretanto, a China aprendeu uma lição a partir da experiência negativa de rejeitar a Anglobalização e Ameriglobalização e da experiência positiva de as aceitar posteriormente.

* Professor na Faculdade de Comunicação da Universidade Chapman e membro da Academia Nacional para o Desenvolvimento e Estratégia da Universidade Renmin da China.

Jia Wenshan

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