Qu Yuan e Camões

por Arsenio Reis

Passado o Festival dos Barcos-dragão do calendário lunar, homenageando o poeta patriótico chinês Qu Yuan, chega agora o Dia de Camões, celebrando o grande poeta patriótico português. Embora Camões e Qu Yuan não sejam duas figuras diretamente interligadas, tendo entre si uma diferença de mais de dois mil anos, estes possuem algumas semelhanças. Para além de serem poetas, os dois deixaram este mundo de formas pouco risonhas, com Qu Yuan a atirar-se ao rio e Camões falecendo na pobreza. A celebração das duas figuras foi feita pelas gerações posteriores, que admiraram o patriotismo expressado nas suas obras literárias. O poema “Li Sao” (Encontrando a Tristeza) de Qu Yuan, embora escrito em estilo clássico, foi descrito como “uma sátira social, expressando a nobreza das virtudes morais, os princípios da ordem e integridade”. “O seu texto é conciso, a linguagem é implícita, a sua intenção é nobre e a sua conduta é honesta. Os temas, embora do quotidiano, possuem um objetivo muito importante e um significado profundo. Relativamente à nobreza das intenções são usadas metáforas de figuras belas e plantas perfumadas. Com uma conduta íntegra, o poeta manteve-se longe da lama da sociedade, libertando-se desta impureza como uma cigarra que deixa para trás a sua velha pele. A pureza e virtude de Qu Yuan equivalem à do Sol e da Lua”.

Camões foi também considerado o melhor poeta português e um dos maiores poetas do Ocidente. Os seus poemas são comparáveis aos de Homero, Virgílio, Dante ou Shakespeare. A sua obra “Os Lusíadas” é considerada um hino à pátria portuguesa, à exaustão com a guerra, e à busca incessante pelo futuro e pelo desconhecido. Este elogio às conquistas marítimas de Vasco da Gama e à resistência contra a ocupação espanhola enalteceu o orgulho e espírito heroico dos portugueses. “Os Lusíadas” são também considerados como a obra que assinala o final da Idade Média e o princípio da era moderna.

Crê-se que Camões tenha completado “Os Lusíadas” em Macau, a obra tem uma ligação muito profunda com o local. Por esta razão, na altura da governação portuguesa, eram realizadas em Macau atividades extremamente aparatosas na ocasião do dia 10 de junho. Da parte da manhã realizavam-se paradas militares (em frente ao Palácio da Praia Grande) e uma cerimónia de oferta de flores na gruta do Jardim de Luís de Camões, na qual alguns alunos de escolas luso-chinesas liam poemas do autor, e da parte da tarde realizava-se no Palácio da Praia Grande um banquete comemorativo. Com o passar do tempo e o crescimento deste dia em termos de significado, o Dia de Camões passou a ser o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Depois da transferência de soberania, estas cerimónias tornaram-se mais simples. Tendo as paradas militares sido eliminadas depois do 25 de abril, nos anos recentes apenas tivemos o banquete na residência oficial do cônsul-geral de Portugal em Macau .

DAVID Chan 

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