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Público-privadas à chinesa

O patrocínio por parte de 20 grandes empresas estatais chinesas ao Fórum das Infraestruturas, que esta semana decorreu em Macau, mostra o novo paradigma do capital chinês: das linhas de crédito estatais para a internacionalização das empresas. Muitos projetos correram mal, muitas cobranças foram difíceis… O modelo vai ter de mudar. Mas há ainda outro desígnio estratégico: contornar os tetos de endividamento.
Países sob intervenção do Fundo Monetário Internacional, ou dependentes de doadores internacionais, estão sobre-endividados, para lá dos critérios definidos pelos credores. O mérito dessa imposição é, no mínimo, controverso; mas a restrição geopolítica e o controlo que esses tetos permitem são evidentes. Mas o ponto já não é esse – o que importa é que isso é contornável.
Quando uma empresa chinesa contrai dívida na banca nacional, investindo numa autoestrada ou num porto, em Angola, Brasil ou Portugal, isso não conta para os tetos de endividamento. O promotor explora depois a infraestrutura, 30 anos ou mais, incluindo ou não rendimentos garantidos pelo Estado – as famosas PPP, que tanto endividamento geraram, por exemplo, em Portugal. Certo é que o país que acolhe o investimento aceita, pois que não tem capacidade de o assegurar por si.
A multiplicação de parcerias com empresas locais, que asseguram melhores relações políticas, laborais e sociais, permite também maior integração nesses mercados, partilha de riscos e envolvimento da banca local. Depois do músculo financeiro, a China aposta agora na promoção e gestão de projetos, com planos de negócios focados no retorno do capital.
É um dos milagres da multiplicação nas novas Rotas da Seda (terrestre e marítima): a China não quer mais desbaratar capital, nem mesmo a troco de matérias-primas e de influência política. Antes aposta na transferência do excesso de reservas financeiras para a economia real, conquistando mercados e parcerias comerciais.
A economia agradece; os países recetores ainda mais; a China sabe bem ao que vai… Talvez não contasse, porém, com a cereja no topo do bolo: Trump cai do céu aos trambolhões, atirando a Europa para o colo de China. Exceção feita ao Reino Unido, o Velho Continente vira costas ao Atlântico, fixando o olhar a Oriente. Merkel, antes parca em palavras, grita agora aos sete ventos que o amigo americano não interessa. Xi Jinping ri-se. Que mais lhe podia acontecer? Tem dinheiro, plano, e a melhor das circunstâncias.

Paulo Rego

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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