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Relações de investimento China-EUA mais assimétricas

O investimento bilateral China-Estados Unidos mais do que duplicou no ano passado, mas há uma crescente relação assimétrica nos fluxos de financiamento entre Pequim e Washington com um forte aceleramento das aquisições por empresas chinesas de interesses americanos – um ponto de inflexão que poderá levar os decisores políticos à tomada de novas medidas protecionistas apesar do entendimento recente entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump para maior abertura de mercados.

Em 2016, o investimento direto chinês mais do que triplicou, correspondendo a mais de dois terços de um investimento bilateral global de mais de 60 mil milhões de dólares – um valor superior a 46 mil milhões de dólares –, enquanto que os fundos canalizados por empresas americanas para a economia chinesa se mantiveram inalterados face ao ano anterior. 

Os dados constam do segundo relatório sobre a evolução das relações de investimento bilaterais da consultora norte-americana Rhodium Group, produzido em conjunto com a Comissão Nacional sobre as Relações Estados Unidos-China, organização não-governamental que favorece a aproximação entre Washington e Pequim, e divulgado na última semana.

“A diferença entre o investimento direto chinês nos Estados Unidos e o investimento direto americano na China alargou-se dramaticamente, alimentando o debate sobre a assimetria nos fluxos bilaterais e sobre a reciprocidade no acesso ao mercado de investimento”, escreve a consultora americana.

De acordo com o documento (“Two-Way Street: 2017 Update – US-China Direct Investment Trends”), no último ano as empresas chinesas investiram mais de 46 mil milhões de dólares nos Estados Unidos, a grande maioria – 44 mil milhões de dólares – na compra de ativos pré-existentes, destacando-se os sectores do imobiliário e hotelaria.

Mais de três quartos do valor, 79 por cento, foram investidos por empresas privadas chinesas, com o maior negócio do ano a ser o da compra da Ingram Micro, na área das infraestruturas e transportes, pela chinesa HNA num valor de seis mil milhões de dólares.

Por comparação, a Rhodium contabiliza um investimento direto total dos Estados Unidos na China de 13,8 mil milhões de dólares, composto maioritariamente pela expansão de operações em investimentos anteriores e novos investimentos de raiz (10,1 mil milhões de dólares). A compra de ativos chineses representou um investimento de 3,8 mil milhões de dólares, no nível mais baixo desde 2009. Os dados dão conta de uma quebra do investimento em sectores tradicionais como a indústria automóvel e o fabrico de maquinaria, ao mesmo tempo que cresce o interesse americano no sector de serviços e manufatura avançada.

Se o volume de investimento americano na China em 2016 se mantém praticamente inalterado face a 2015, o mesmo não sucede com o investimento chinês nos Estados Unidos, a triplicar face aos valores do ano anterior, e a crescer mais de dez vezes relativamente a 2005 – ano do primeiro grande negócio chinês em território americano com a compra dos computadores pessoais da IBM pela Lenovo num valor de 1,75 mil milhões de dólares.

A Rhodium nota porém que o stock dos investimentos acumulados dos Estados Unidos na China continua a suplantar largamente a iniciativa chinesa no sentido oposto. A aceleração do investimento chinês nos Estados Unidos, sobretudo a partir de 2010, construiu um império emergente de interesses chineses num valor de 110 mil milhões de dólares, quando os ativos detidos por empresas americanas na China se contam ainda em mais do dobro – 240 mil milhões de dólares. No entanto, a tendência está a inverter-se.

“Estamos a aproximarmo-nos de um ponto de inflexão, e os decisores políticos de Pequim e de Washington terão a oportunidade de reexaminar e reformular políticas no interesse quer da prosperidade económica quer da segurança lacional”, afirma na abertura do relatório Stephen A. Orlins, presidente da Comissão Nacional sobre as Relações Estados Unidos-China desde 2005. “Há a possibilidade destas novas políticas reduzirem o fluxo de financiamento ou mesmo de fecharem a torneira do investimento recebido ou feito no exterior”, antecipa o responsável.

Para 2017, a Rhodium antecipa uma quebra no investimento bilateral, para a qual contribuirá uma redução do investimento de empresas chinesas nos Estados Unidos, ainda que o investimento direto americano na China evolua mais favoravelmente. A tendência, diz a consultora, é já visível nos dados do primeiro trimestre deste ano, com uma quebra de 20 por cento no número de negócios e de 50 por cento no valor de investimento oriundos da China, por comparação com o mesmo período do ano passado.

Em grande medida, a redução reflete as medidas de controlo da saída de capitais que têm vindo a ser adoptadas por Pequim como forma de combater a depreciação da sua moeda, assume o relatório.

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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