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O que a Iniciativa Faixa e Rota significa para o mundo

Dentro de menos de um mês, o Presidente Xi Jinping irá presidir ao Fórum Faixa e Rota para Cooperação Internacional – o programa histórico para investir milhares de milhões de dólares em projetos infraestruturais ao longo da Ásia, África e Europa. A visão dos projetos da Iniciativa Faixa e Rota (a Faixa Económica da Rota da Seda e a Rota da Seda Marítima do Século XXI) é essencialmente uma  de conectividade – facilitada pelas infraestruturas.

Se, ao trabalharem juntos, as vantagens comparativas dos respetivos países puderem ser exploradas – sejam elas o capital, o know-how tecnológico, as capacidades de construção ou logística, as matérias-primas ou até mesmo os bens industriais da China –, as infraestruturas poderão ser construídas de forma eficiente e económica. Esta abordagem cooperativa pode liderar o desenvolvimento em países de baixo rendimento e retirar as economias emergentes da armadilha do médio rendimento.

Mas investir em infraestruturas é difícil. É algo que requer grande financiamento e acarreta riscos políticos, soberanos e financeiros significativos. Muitos governos estão a tentar resolver este problema melhorando a sua governação estatal, mantendo a continuidade política e oferecendo um ambiente propício ao investimento em infraestruturas. Os governos fazem um grande esforço para promover a parceria público-privada, mas os sucessos são poucos e infrequentes.

Numa altura em que o grande défice de financiamento nas infraestruturas mundiais impede o progresso económico, em que a política orçamental expansionista é particularmente forte na criação de emprego e estímulo da economia – alguém tem que assumir a liderança. O objetivo é claro: o mundo necessita de despolitizar as decisões infraestruturais e criar um agregado internacional dedicado de capital de longo prazo não dependente de impostos ou dotações anuais de fundos.

A China está plenamente consciente da urgência do desenvolvimento infraestrutural em muitas economias de baixo rendimento de mercados emergentes. A ideia da conectividade surgiu inicialmente da cooperação com os membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático. Tornou-se então rapidamente óbvio que a conectividade entre países asiáticos não era suficiente para alcançar melhores resultados económicos. Para desempenhar o seu papel máximo, as infraestruturas terão de transpor vastas fronteiras territoriais.

Antes do Fórum Faixa e Rota, são necessárias algumas clarificações. A China, em primeiro lugar, não se acanha em propor ideias e em iniciar subsequentes debates e discussões. Mas é necessário existir alguém para iniciar, organizar e assumir um papel de liderança. Em segundo lugar, a China tem de realçar a abordagem participativa na implementação da Iniciativa Faixa e Rota. Não existem restrições geográficas. Ela é inclusiva e baseia-se na integração global. Em terceiro lugar, a iniciativa não pretende substituir o papel de uma superpotência dominante.

A sequência de eventos revela que a China propôs primeiramente a iniciativa quando Barack Obama era Presidente dos Estados Unidos, muito antes de Donald Trump ter sido eleito. É pouco provável que a sua intenção tenha sido a de preencher a vaga de superpotência à medida que o país se retira do cenário mundial. A questão é apenas que alguém tem de realizar esta tarefa.

E os Estados Unidos não estão a desempenhar a tarefa mesmo no que diz respeito à sua própria modernização infraestrutural. Os americanos estão “presos” entre congestões, pontes em ruínas e estradas dilapidadas. Os debates bipartidários sobre como gastar impostos e a falta de liderança são razões para os atrasos do país mais rico do mundo em termos de infraestruturas. Deixaram a política tornar-se um obstáculo.

Por isso, a China surge como um candidato óbvio – com capital, experiência e uma visão de integração global. Tal como escreve o economista Jeff Sachs: “A China provou que é altamente eficaz na construção de infraestruturas grandes e complexas (como portos, ferrovias, cabos de fibra ótica e autoestradas) que complementam o capital industrial, e as suas infraestruturas por sua vez atraíram capital e tecnologia do sector privado estrangeiro.”

Existem coisas que a China poderia ter feito melhor. O país poderia ter efetuado uma campanha melhor para ajudar a fazer avançar o argumento económico. Uma estratégia económica e diplomacia engenhosa teriam atenuado grande parte das preocupações. Por vezes, a falta de compreensão e consideração em relação aos costumes e culturas locais por parte da China criou barreiras e tensões com os povos locais. O comportamento de algumas empresas chinesas tem sido uma causa de preocupação. A falta de atenção adequada à proteção e sustentabilidade ambiental e aos interesses da comunidade local têm sido uma desculpa conveniente para algumas pessoas desacreditarem a Iniciativa Faixa e Rota.

É reconfortante constatar que o Governo chinês está a resolver os problemas, e que as empresas chinesas a investir no estrangeiro, sejam elas empresas estatais ou privadas, demonstraram o seu empenho em fazer um trabalho melhor.

Em última análise, não podemos deixar a política tornar-se um obstáculo a uma iniciativa verdadeiramente global e economicamente sensível no século XXI. A Iniciativa Faixa e Rota é como uma orquestra. Ela precisa de um maestro e escolhe os seus membros de todas as partes do mundo. Naturalmente, é importante quem é escolhido para ser o maestro ou o primeiro violinista. Mas o mais crucial é a orquestra poder tocar – e atuar. 

Keyu Jin*

*A autora é professora de economia na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, uma jovem líder do Fórum Económico Mundial.

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