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“A Rota das Letras tem óbvio potencial no espaço da lusofonia”

Com uma estimativa de público a rondar os 10 mil visitantes na edição do ano passado, o festival literário de Macau Rota das Letras mantém a fasquia alta em 2017. Há mais de meia centena de convidados, com um numeroso contingente de escritores da China e de países de língua portuguesa de onde ressaltam nomes firmados e outros em afirmação como Yu Hua, Ouyang Jianghe, Pedro Mexia, Bruno Vieira do Amaral, Djamilia Pereira de Almeida, Abdulai Silá, ou ainda Dércia Sara Feliciano. Nesta edição, o festival de Macau associa-se a Cabo Verde e ao Encontro de Escritores de Língua Portuguesa da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, percorrendo uma rota de óbvio potencial, explica o diretor de programação Hélder Beja.

– Como é que avaliam a participação de público na edição anterior e que expectativas têm para este ano?
Hélder Beja – A participação de público no festival tem vindo a aumentar de ano para ano, um processo gradual e natural numa cidade que não tem hábitos de leitura muito visíveis, que praticamente não tem livrarias, mas que felizmente várias e boas bibliotecas. Desde a mudança para o Edifício do Antigo Tribunal, de longe a melhor e a mais central localização que o festival já teve, a participação do público aumentou visivelmente. No último ano não houve uma única sessão em que possamos dizer que não houve público ou que houve muito pouco público – todas estiveram bastante compostas. Outra questão que merece a pena frisar é a diversidade de públicos, que também tem crescido, não só no que toca à sua língua materna como ao escalão etário. O festival consegue hoje atrair pessoas da comunidade chinesa de Macau, da comunidade de falantes de língua portuguesa e alguns falantes de inglês e de outras línguas. Claro que para isso contribui o modo trilingue que sempre fez parte da nossa forma de comunicar, bem como a diversidade do programa, que abrange autores de diferentes nacionalidades e backgrounds sociais culturais. As expectativas no que toca a público para este ano são as que a edição do ano anterior colocou como fasquia – queremos ter sessões com muita gente, várias. Haverá sempre uma ou outra sessão mais desafiante nesse aspecto, mas acredito que repetiremos no que toca ao público o sucesso do ano anterior.

– Como surgiu a parceria com o festival de Cabo Verde? Que planos há para esta parceria em termos da experiência que o vosso evento em Macau pode emprestar à programação cabo-verdiana?
H.B. – Fomos abordados pela organização do Festival Morabeza, em Cabo Verde, para estabelecer esta parceria. Este novo festival vai estabelecer parcerias com vários festivais e feiras do livro pelo mundo. Ficamos muito satisfeitos por termos sido considerados como parceiros e por termos já este ano a visita de Abraão Vicente, autor e atual ministro da Cultura. Mais tarde este ano, quando o Morabeza acontecer, pensaremos em quem enviar ao festival. Será necessariamente um autor “de Macau”, no sentido de que resida cá. Será interessante haver esta troca de experiências entre autores de Macau que viajem até Cabo Verde e escritores de outras proveniências. Esta será mais uma forma de divulgar a literatura de Macau no exterior, concretamente neste caso no espaço lusófono.

– Há também a inclusão do programa da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, o Encontro de Escritores Língua Portuguesa. São duas formas de o festival se afirmar no espaço de língua portuguesa. Como é que veem o futuro do Rota dos Letras nestas geografias todas?
H.B. – A vinda do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa para Macau, numa iniciativa que acontece excepcionalmente este ano, aconteceu na sequência da visita do diretor da Rota das Letras, Ricardo Pinto, à edição anterior deste evento, em Cabo Verde. O encontro circula entre vários espaços da lusofonia e este ano chega a Macau, viajando depois para outras paragens. A Rota das Letras, enquanto conceito, tem óbvio potencial no espaço da lusofonia. Com tempo, e não menos esforço, tentaremos desenvolver projetos que possam interligar cada vez a literatura e a cultura dos países lusófonos com a de uma cidade como Macau e um país como a China.

– A capacidade de financiamento de Macau garante eventuais planos de crescimento ou será necessário também mais envolvimento de instituições e agentes do exterior?
H.B. – O envolvimento de instituições exteriores já acontece, como o apoio que recebemos de diversas representações consulares, da entidade Literature Across Frontiers e de outras instituições. Essa diversificação de apoios esteve na génese do festival e está no seu ADN – permite que não dependamos exclusivamente de uma instituição, ainda que haja parceiros públicos e privados, locais, que têm um peso maior que os outros. Mais do que crescer, importa aperfeiçoar. Julgo que a escala atual do festival já é extremamente ambiciosa.

– O festival tem produzido muito debate e também, ele próprio, literatura. Estes resultados estão a sair de Macau, a alcançar outros públicos?
H.B. – Os debates e as sementes que o festival planta correrão certamente o mundo com os convidados e o público – mais de 10 mil pessoas no ano passado, em 104 eventos diferentes – que por ele passa. Em relação à literatura que o festival tem produzido, a nossa coleção de Contos e Outros Escritos vai para o quinto volume. Esta coleção está acima de tudo disponível em Macau, mas temos a intenção da fazê-la chegar a outros territórios do espaço lusófono e do mundo chinês. É um projeto que está por desenvolver, mas acontecerá. As edições em e-book de todos estes livros ficarão também disponíveis na Amazon nos próximos meses.

MC

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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