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China americana

Os Estados Unidos foram o principal destino do investimento direto chinês em 2016, captando 45,6 mil milhões de dólares. A consultora Rhodium estima que a tendência continue em 2017, mas sob maior incerteza política.

O investimento por empresas chinesas nos Estados Unidos terá no último ano ultrapassado os valores aplicados na Europa, com um valor recorde de 45,5 mil milhões de dólares canalizados para economia norte-americana. Um relatório divulgado na última semana pela consultora Rhodium Group, com sede em Nova Iorque, indica que a compra de participações e os investimentos em nova capacidade produtiva nos Estados Unidos praticamente fizeram triplicar o volume do investimento direto chinês no país em relação aos valores de 2015 – ano em que foram realizadas transações no valor de 15,3 mil milhões de dólares e em que a Europa liderava a afectação de capital chinês, captando mais de 23 mil milhões de dólares.

O volume recorde de investimento direto do último ano fez com que o valor acumulado de capital canalizado para a economia norte-americana desde 2000 atingisse 109,5 mil milhões de dólares, com os sectores de imobiliário e hotelaria, tecnologias da informação e energia a liderarem a captação de investimento.

A Rhodium destaca a forte atração da área dos serviços e das indústrias avançadas num ano marcado pela compra de algumas das principais cadeias hoteleiras de luxo norte-americanas, como a Strategic Hotels, Carlson Hotels e Hilton pelos grupos chineses Anbang e HNA, ou pelo investimento nos estúdios Legendary Entertainment de Hollywood pelo grupo Wanda Dalian. O grupo HNA esteve também por trás de um dos principais negócios do ano, na compra da empresa de logística e consumíveis electrónicos Ingram Micro por um valor superior a seis mil milhões de dólares. No mesmo sector, o fabricante de chips Omivision foi adquirido por um consórcio de fundos de investimento chineses liderado pelo CITIC, e um grupo de Zhuhai, a APEX Technology, comprou a Lexmark. A Haier, um grupo de Qingdao, adquiriu ainda a divisão de electrodomésticos da General Electric.

O relatório da consultora norte-americana destaca que, além da diversificação de sectores de investimento, se manteve a tendência de uma maior atividade por parte das empresas privadas chinesas, responsáveis por 79 por cento do volume aplicado, e se assistiu por seu turno a uma redução da atividade dos fundos de capital, refletindo investimentos estratégicos com origem em empresas com efetiva atividade industrial.

Para 2017, a tendência de altos volumes de investimento direto nos Estados Unidos deverá manter-se, ainda que não nos níveis de 2016 numa altura em que crescem as reações protecionistas dentro do Congresso americano e também o clima de desconfiança entre Pequim e uma Casa Branca liderada por Donald Trump a partir de 20 de Janeiro.

“A economia chinesa está a abrandar e as empresas estão interessadas em diversificar; a pressão sobre as empresas chinesas para atualizarem tecnologia e construírem marcas e presença para o consumidor local tem apenas tendência a aumentar; as perspetivas de crescimento dos Estados Unidos são maiores do que na Europa e noutras economias avançadas; e a expectativa de maior apreciação do dólar do renminbi soma razões para aumentar ativos norte-americanos”, elencam os autores do relatório da consultora. 

Além do investimento já realizado ao longo de 2016, negócios no valor de 21 mil milhões de dólares aguardam autorização dos reguladores, ao mesmo tempo que a China assumiu compromissos no valor de sete mil milhões de dólares para novos investimentos em capacidade produtiva em território norte-americano. Para a Rhodium, o atual contexto político apresenta riscos negativos. 

“As recentes nomeações pelo Presidente-eleito Trump sugerem uma abordagem de maior confronto nas políticas de comércio e investimento em relação à China”, avançam os consultores. Por outro lado, membros do Congresso americano têm vindo a defender alterações ao mandato do Comité de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (CFIUS na sigla inglesa), o órgão sob a dependência do Tesouro americano que tem a missão de emitir recomendações relativamente à segurança dos investimentos feitos por empresas de países terceiros. O objetivo é que este fique dotado de maiores poderes para vetar negócios e a nova Administração norte-americana poderá ditar alterações nesse sentido.

Por outro lado ainda, a consultora recorda as diretivas recentes das autoridades chinesas para escrutínio dos investimentos no exterior numa altura em que a China enfrenta desafios em controlar a saída de capitais do país e em gerir a pressão para a desvalorização da sua moeda.

“Ainda que Pequim continue a garantir apoio ao legítimo investimento direto no exterior, recentemente apertou os controlos administrativos sobre certos tipos de transações, em particular sobre alguns dos sectores que mais capital chinês receberam nos Estados Unidos (como o imobiliário e o entretenimento)”, notam os analistas da Rhodium. “Estas alterações e a incerteza sobre a implementação das novas regras podem ter impacto nas transações pendentes assim como no ritmo dos novos investimentos anunciados durante os próximos meses”, alertam. 

As novas regras da Administração Estatal de Câmbio Externo (SAFE, na siga inglesa) foram referidas pelo órgão central no final de Novembro e deverão visar sobretudo investimentos por empresas chinesas em sectores que se encontram fora da sua atividade tradicional, bem como situações nas quais o volume de capital a aplicar seja superior a dez mil milhões de dólares, de acordo com informações veiculadas por vários órgãos da imprensa internacional.  

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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