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China a crédito

O último mês foi moderado na expansão do financiamento que tem vindo a estimular o crescimento do país dentro das metas definidas por Pequim. Os analistas dividem-se quanto à possibilidade de 2017 ser marcado por novas medidas de controlo do crédito.

Os novos empréstimos concedidos pelos bancos chineses cresceram em Novembro 22 por cento face ao mês anterior, para 795 mil milhões de yuans, (115 mil milhões de dólares) de acordo com dados divulgados na última quarta-feira. O aceleramento do crédito é mitigado quando comparado com os valores de financiamento do ano anterior, havendo um crescimento de apenas 12 por cento face ao mesmo mês de 2015, e em linha com a expansão dos últimos meses em novos créditos concedidos no país. Numa comparação anual, o stock total de financiamento dado pelos bancos até Novembro traduz também uma subida de 13,1 por cento.

“A subida é inteiramente sazonal”, considera Julian Evans-Pritchard, economista para a China da Capital Economics. A consultora vê o crescimento de Novembro como efeito do ciclo anual do crédito bancário, que no mês passado favoreceu o financiamento às famílias para compra de habitação, ainda que as autoridades centrais tenham vindo a impor medidas para constrangimento do imobiliário. Perto de dois terços dos novos contratos de financiamento de Novembro, 72 por cento, são crédito hipotecário – um valor de 569,2 mil milhões de yuans (82,4 mil milhões de dólares).

O Fundo Monetário Internacional estimava que no final do ano passado o nível de endividamento das famílias chinesas se situasse em cerca de 40 por cento de um PIB nacional próximo dos 70 biliões de yuans (10,1 mil milhões de dólares). O nível de endividamento do país situa-se, segundo os dados oficiais do primeiro trimestre, em 255 por cento da produção económica anual, com as empresas a terem o grande ónus das obrigações – 169 por cento do PIB. Ainda assim, há alertas para os crescentes encargos das famílias, fruto de uma maior flexibilidade no crédito ao consumo durante o último ano. Um inquérito recente do Financial Times Confidential Research estimava para 2016 um valor total de novos créditos hipotecários da ordem dos quatro biliões de yuan (579 milhões de dólares), cerca do dobro dos valores concedidos em empréstimos para habitação no ano anterior.   

Os bancos são ainda o grande meio de financiamento para a compra de habitação no país. Já as empresas têm optado cada vez mais por canais de financiamento direto, com a emissão de obrigações e oferta de ações em bolsa a crescerem 38 por cento em termos anuais em Novembro, de acordo com os dados do Banco Popular da China relativos ao chamado financiamento social total.

Em Novembro, o financiamento social total – que exclui dívida emitida pelo governo na forma de obrigações e inclui crédito das instituições financeiras, mercados e banca informal – cresceu 13,3 por cento face ao mesmo mês do ano passado. Se o novo endividamento por via de ações e obrigações cresceu acentuadamente, o financiamento por canais informais registou uma subida anual de apenas 4,6 por cento. 

“O panorama geral é de que, após um aceleramento a partir de meados de 2015 com um pico em Abril deste ano, o crescimento de crédito tem vindo a desacelerar”, defende a Capital Economics, considerando que não são de prever para já medidas de arrefecimento monetário. “Marginalmente, pode encorajar a que o Banco Popular da China continue a permitir subidas nas taxas de juros interbancárias. Dito isto, não esperamos qualquer passo para um aumento das taxas diretoras ou no rácio de reservas bancárias”, diz a consultora. 

Os elevados níveis de endividamento do país mantêm-se, porém, como uma das principais preocupações não apenas dos observadores internacionais, mas também da política económica de Pequim, sucessivamente aconselhada à realização de reformas com o potencial de colocar em causa – pelo menos temporariamente –  os níveis de crescimento económico chinês (de 6,7 por cento no final de Setembro). 

Vários analistas estimam que serão precisamente os bancos a suportar os custos da alta alavancagem, com um crescente recurso a estruturação de produtos financeiros tóxicos e aumento dos níveis de crédito malparado – com uma taxa de 1,76 por cento em Setembro último. A Moody’s está entre as agências que têm vindo a alertar para a crescente deterioração dos ativos dos bancos chineses.

É por estas razões que alguns economistas sugerem que 2017 será um ano de abrandamento no financiamento da economia, com eventuais estímulos necessários a serem dados pelo lado do investimento público. Um sinal poderá ser dado nos próximos dias, durante os quais a liderança económica do país se reúne em Pequim para delinear as metas económicas do próximo ano. Os objetivos de crescimento poderão no entanto ser apenas conhecidos em Março, aquando da reunião da Assembleia Popular Nacional.

O consórcio Institute of International Finance, um think-tank participado pelas principais instituições financeiras globais, antecipa que em 2017 a China deverá desviar-se de uma política de ‘crescimento a todo o custo’ para medidas de controlo de riscos, perante o multiplicar dos alertas relativos ao nível de endividamento das empresas e particulares, para além das administrações locais.

“Esperamos que o crescimento abrande mais em 2017, para 6,4 por cento. Os booms financeiros e do imobiliário, que suportaram o crescimento em 2015 e 2016, não deverão repetir-se no próximo ano”, escreve Gene Ma, do IIF. “Se forem ainda necessárias políticas de apoio, a ajuda virá mais provavelmente do lado fiscal”, prevê o economista-chefe para a China na organização. 

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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