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Uma maratona já com 35 anos

Chegámos ao estádio de Macau, devidamente engalanado, por volta das 5h30 do último domingo, e já uma enorme algazarra se instalava no local. O trânsito estava um caos devido aos condicionalismos impostos pelas autoridades para a realização da prova em condições de segurança. A fila de cabeças mais parecia uma marcha de formigas a acotovelarem-se para a entrada do formigueiro. Este ano a temperatura ajudou: 23 graus e uma humidade de 78 por cento, ideal para os melhores fundistas.Trinta e cinco anos depois, mais do que a simples competição, a Maratona Internacional de Macau afirma-se como evento incontornável no calendário turístico e desportivo da cidade.

Estava toda a gente vestida a rigor, com os seus melhores fatos de treino, fazendo lembrar o traje domingueiro com que os crentes se apresentam à hora da missa. Foi preciso quase uma mini maratona para encontrar o Media Center, mas às 5h55 já lá estavam os convidados oficiais, com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura à cabeça. Alexis Tam caminhou prontamente para meta, onde deu o sinal de partida no meio de uma excitação entre os atletas, que enchiam a pista por completo. As inscrições esgotaram em poucos dias e houve quem ficasse triste por não fazer parte dos 10.000 inscritos em todas as provas. Dado o sinal de partida, logo se ouviram palmas e vivas aos participantes. Era tal o amontoado de pernas que parecia provável que os atletas tropeçassem uns nos outros. Felizmente, nada aconteceu. Após a partida, os jornalistas foram transportados de autocarro para acompanharem, ao vivo e a cores, os melhores momentos do percurso.

Em frente à marginal, com vista para a Torre de Macau, já era possível verificar a supremacia dos atletas do Quénia, com Peter Kimeli Some à cabeça, que levava já ,um avanço significativo. A atleta da Coreia de Norte, Kim Ji Hyang, passou também por ali como uma seta. Alguns minutos depois passava a atleta portuguesa Doroteia Peixoto, que acabaria por vencer a meia maratona. O autocarro seguiu depois viagem voltando a parar na Rotunda da Av. dos Jogos da Ásia Oriental, na Taipa, onde foi possível observar um dos vários postos de abastecimento colocados ao longo do percurso. Há sempre momentos hilariantes, pois cada participante testa a pontaria que tem para sacar bebidas e alimentos. Houve quem não conseguisse agarrar os abastecimentos, houve quem se atirasse para cima das mesas, derrubando tudo, mas também houve quem tivesse aproveitado para refrescar o corpo todo, despejando copos de água como se tomasse um duche em andamento.

De volta ao estádio, o compasso de espera até à chegada dos atletas. De repente, um enorme burburinho: repórteres a correr com as máquinas na mão, outros de caneta e papel em punho corriam para ver chegar o campeão queniano, absolutamente isolado. Palmas, gritos, pompons no ar… Logo Some deixou de se ver, afundado num mar de gente. Depois foi esperar e ver chegar a conta gotas os atletas das mais diferentes categorias. Seguiu-se um rol de cerimónias, com as gentes ilustres de Macau a presentearem os diversos campeões, taças e cheques eram intercalados com espetáculos de dança, música, artes marciais e acrobacia. Rosa Mota, campeã olímpica da maratona, sempre sorridente e bem disposta, confidenciou ao Plataforma o “enorme prazer” que teve em participar no evento como embaixadora da mini maratona, que aliás acabou por vencer. A antiga atleta, hoje com 58 anos, aproveitou ainda para enaltecer “os laços que Macau mantém com os países de lingua portuguesa” (ver caixa).

Portugal esteve representado por Doroteia Peixoto e Miguel Ribeiro. A vencedora da meia-maratona feminina mostrou-se “feliz” com a vitória, assumindo que tinha vindo a Macau, pela primeira vez, com o claro objetivo de ganhar. Falhou entretanto o objetivo de bater o recorde da prova. “O percurso este ano (…) foi alterado e nas pontes sobe-se bastante”, explicou Doroteia Peixoto, já focada nos grandes objetivos para 2017, que passam pelo regresso à Maratona de Sevilha – onde na última edição conquistou o quarto lugar – e aí tentar garantir os mínimos para o Campeonato do Mundo. Miguel Ribeiro esteve pela segunda vez na meia-maratona de Macau, tendo terminado precisamente no mesmo segundo lugar que conquistou há três anos. Desta vez “estava à espera de ganhar”, tendo contudo percebido, “logo no início, que iria ser muito difícil” por causa de Joseph Ngare, um queniano “muito forte, que arrancou com bastante facilidade”. Miguel Ribeiro fez os primeiros 19 quilómetros à cabeça do pelotão que corria a maratona, mas a parte final “foi um bocadinho complicada” porque era preciso “correr em ziguezague”, no meio de quem fazia a mini maratona, muitos em passo de caminhada. Ainda assim “foi um bom resultado”, considera Miguel Ribeiro, que quer voltar a Macau dentro de dois ou três anos, mas para cumprir a maratona. Vera Nunes, também portuguesa, mostrou-se contente com o sexto posto, depois de ainda há 15 dias ter corrido uma maratona nos Estados Unidos. Chegou a Macau “um pouco cansada”, confessou. Muitas vezes o que está em causa nestas provas é o próprio sacrifício dos atletas, que tentam a superação individual, utilizando muitas vezes estas provas para saberem qual é o seu limite em determinado momento da carreira.

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Rosa Mota aplaude a lusofonia

Rosa Mota, de 58 anos, venceu a mini-maratona de Macau, tendo concluído os 5,5 quilómetros em 00:24:49. Presença assídua em Macau, a campeã olímpica e mundial da maratona ganhou o bronze na primeira maratona olímpica feminina, em 1984, Los Angeles. O ouro chegou quatro anos depois, em Seul.

“Estive aqui várias vezes e sinto-me muito bem; tratam-me bem e encontro muitos portugueses, o que é ótimo”, disse ao Plataforma. “Fui convidada para participar na mini maratona pelo secretário Alexis Tam e pelo IDM para ser a embaixadora da prova; convite ao qual acedi com enorme prazer. Tive um ano atarefado, mas tive tempo para me preparar e vir correr. Este ambiente é fantástico, os atletas portugueses estão de parabéns e ficaram bem classificados”, comentou Rosa Mota, destacando a propósito a especial relação de Macau com a lusofonia. “Os atletas dos PALOP, na meia maratona, são convidados a participar e é fantástico que Macau mantenha os laços que tem com os países de expressão portuguesa. Veja bem que, nesta edição, ganhou uma portuguesa e uma timorense ficou em segundo lugar, garantindo uma ótima participação lusófona”. Quanto à organização, comentou, tudo “está ótimo e está a correr muito bem”. Se voltar a ser convidada, remata, ficará “muito feliz”.

A são-tomense Jamila Tavares veio pela quinta vez a Macau, tendo ficado 7º lugar na meia maratona. “Desta vez foi mais difícil, chegámos só no dia anterior, à noite, e não houve tempo para descansar. Fiquei muito cansada e isso viu-se na prestação na corrida, tendo feito um tempo pior que o ano passado. Por isso não fiquei feliz com a minha participação nesta prova. 

Rosalita Rodrigues Silva, de Cabo Verde, corre desde 2012 em Macau, onde já ganhou três medalhas de bronze e uma de prata. “A mini maratona é diferente todos os anos porque encontramos atletas diferentes, mais exigentes e de maior nível. A prova este ano foi ainda mais difícil por causa de uma gripe que causou muitos problemas. A experiência é sempre boa porque, para mim, correr em Macau é como correr em casa”. 

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Resultados

A prova da Maratona começou no Estádio de Macau, na Taipa, tendo os atletas atravessado a Ponte Nobre de Carvalho em direção à península de Macau. Seguiram depois para a Torre de Macau, passando pelo Templo A-Má e regressando à Taipa pela Ponte Sai Van, num total de 42.195 km. A Maratona teve início às 6h00 e a Mini Maratona às 6h15. Presidiram à cerimónia da partida o Secretário Alexis Tam, o presidente do Instituto do Desporto, Pun Weng Kun, o presidente da Associação Geral de Atletismo de Macau, Ma Iao Hang, o vice-presidente do Galaxy Entertainment Group, Francis Lui, e Neto Valente, consultor da administração do Galaxy.

Maratona

Na classificação geral da maratona masculina o primeiro lugar foi conquistado pelo queniano Peter Kimeli Some, com o tempo de 2:12:52, seguido de Dominic Kangor Kimwetich e Suleiman Kipkesis Simotwo, também do Quénia, com 2:13:19 e 2:15:21, respetivamente.

A prova feminina foi ganha pela norte-coreana Kim Ji Hyang, que finalizou a prova em 2:36:16. Em 2º lugar ficou a queniana Joan Jepchirchir Kigen, com 2:36:48; e em 3º Chemtai Rionotukei, também do Quénia, com 2:38:19.

Foram vencedores na Maratona, nas diferentes categorias os seguintes atletas: 

Masculinos – Yuki Yagi do Japão na categoria A.

Nos Femininos – Marcia Zhou dos Estados Unidos da América na categoria A.

 Quanto ao prémio especial, foi atribuído um prémio ao atleta mais idoso que terminou a prova da maratona dentro do tempo estipulado, foi vencedor Kuan Kam Tong, de 79 anos.

Meia maratona

Foram vencedores na Meia Maratona, nas diferentes categorias os seguintes atletas: 

Nos masculinos – Joseph Ngare do Quénia na classificação geral e na categoria C, 

Nos femininos – Doroteia Alves Peixoto de Portugal na classificação geral e na categoria B

Mini maratona

Na Mini Maratona, foram vencedores 

Nos masculinos –  Wong Chin Wa na categoria A.

Nos femininos – Tang Xiaoying na categoria A.

Na Mini Maratona, a Taça por Grupos ganharam as seguintes equipa/grupos: 

Escolas – Cham Son

Organizações Colectivas/Desportivas – Care Action  

Serviços Públicos/Serviços Privados – Galaxy Entertainment Group.

Entidades presentes

Estiveram presentes na cerimónia da entrega de prémios o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Doutor Alexis Tam, o Presidente do Instituto do Desporto, Pun Weng Kun, O Presidente da Associação Geral de Atletismo de Macau, Ma Iao Hang, O Vice-Presidente do Galaxy Entertainment Group, Francis Lui, o Presidente do Conselho Administrativo de IACM, José Tavares, a Directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, os Vices-Presidentes do Instituto do Desporto, Allen Lau e Christine Lam, o Presidente da Direcção da Asssociação Geral de Atletismo, Lam Hin Fu, o Presidente do Comité Olímpico e Desportivo de Macau, Charles Lo, a Vice-Presidente do Comité Olímpico de Portugal, Rosa Mota,entre outros. 

1204 圖2  蘇美奪男子全場冠軍。

Campeão Some e segue

Nascido em 5 de junho de 1990, Peter Kimeli Some é um corredor de longa distância do Quénia que compete sobretudo em provas de estrada, incluindo a maratona. O seu melhor tempo na maratona é de 2:05:38; na meia maratona é de 1:00:21 horas. Venceu a Maratona de Paris, em 2013, e a Maratona de Brighton, em 2012. É irmão de outro corredor famoso, Matthew Kisorio, e filho do ex-corredor Some Muge.

Some cresceu numa família com uma forte história de atletismo. O pai foi o primeiro medalhista do Quénia no Campeonato do Mundo de Cross Country da IAAF. Seguiu os passos do pai na distância que correu, como aliás fizeram o irmão mais velho, Matthew Kisorio, e o mais novo, Nicholas Kipchirchir Togom. Some levou o Quénia ao título de juniores, ao lado de seu irmão Kisorio, tendo estabelecido o recorde do mundo nos 10.000 metros: 28:10:08 e conquistado a medalha de bronze no Campeonato Africano de Atletismo Júnior, em 2009. 

A primeira vitória de Some na maratona aconteceu em 2012, na Maratona de Brighton, onde bateu o recorde anterior por mais de quatro minutos, cumprindo a distância em 2:12:03. A controvérsia atingiu a sua família nesse ano, quando o seu irmão Matthew Kisorio acusou o uso de esteróides nos campeonatos nacionais. Kisorio adensou o escândalo, ao admitir o recurso ao doping, mas sobretudo porque denunciou que os médicos sistemáticamente dopam atletas no Quénia. 

Some começou 2013 em plena forma, ganhando a meia maratona de Eldoret. O seu melhor tempo nesta distância, 1:00:21, foi conseguido na Meia Maratona de Lisboa, onde ficou em segundo, atrás de Bernard Koech. Na Maratona de Paris Some surpreendeu tudo e todos, levando o título com o melhor tempo pessoal de sempre: 2:05:38, à frente do favorito Tadese Tola. 

Nuno Ferraria e Nunu Wu

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