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Segunda ronda de investimento em parceria

O quinto maior destino de investimento chinês na Europa quer acolher mais capital nas suas indústrias para trabalhar em conjunto os mercados lusófonos. A China vê futuro na relação. Mas a expansão do Porto de Sines continua a ser um projeto adiado. 

Pequim e Lisboa antecipam uma segunda etapa de relacionamento económico, menos assente na compra de participações financeiras e mais apostada no investimento industrial e na realização de parcerias para alcançar outros mercados lusófonos. O futuro, após uma década de parceria global estratégica, é visto por Portugal e China como seguindo a pauta do plano de ação sino-lusófono, assinado no último mês em Macau, aquando da presença dos primeiros-ministros António Costa e Li Keqiang na 5ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

A confiança política mútua entre os dois lados tem vindo a aprofundar-se com o aumento do intercâmbio e visitas de alto nível tendo como base as vantagens das duas economias”, indicou Cai Run, o embaixador da China em Lisboa, na inauguração do primeiro Fórum-China Portugal. 

“No futuro, esperamos a ampliação do investimento bilateral e a expansão do investimento para mais vastas áreas. Isto quer dizer que é uma parceria para o futuro”, acrescentou o representante de Pequim.

O Fórum Portugal-China, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) e Associação Industrial Portuguesa (AIP), recebeu delegações de Cantão, Xangai e da província de Jiangsu cuja vinda foi facilitada pelo diplomata e manteve várias sessões de debate com alguns dos principais agentes económicos em sectores que vão da energia aos transportes, passando pela banca, tecnologia e educação. Nalguns destes sectores, as empresas chinesas – com um stock de investimento total superior a 6,9 mil milhões de dólares em Portugal nos últimos anos – detêm já posições importantes. Noutros, Portugal procura agora fazer com que os interesses convirjam para garantir mais investimento.

“Há muitas oportunidades de investimento trilateral que podem ser aproveitadas em que a capacidade técnica e a dimensão das empresas da China, aliada ao conhecimento da língua, da cultura e dos mercados da África e da América do Sul que as empresas portuguesas têm, pode ajudar”, defendeu o ministro da economia de Portugal, Manuel Caldeira Cabral, perante as delegações empresariais portuguesas e chinesas. 

A expansão do investimento, o estabelecimento do centro logístico de Macau para o comércio sino-lusófono e o aumento dos fluxos turísticos à boleia dos novos voos diretos entre Portugal e China – foram referidos pelo governante português para pintar o retrato futuro da relação. 

“O Porto de Sines é uma porta importante para o mundo e é uma porta importante para a estratégia Uma Faixa, Uma Rota que a China desenvolve. Esta estratégia – uma estratégia de afirmação global – é a estratégia mais correta no mundo de hoje”, insistiu o ministro, depois de já em Outubro o primeiro-ministro português, António Costa, ter sublinhado o mesmo durante a sua participação no encontro do Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. 

“É extremamente importante que Portugal, que é membro fundador do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, se associe a este processo [da iniciativa Uma Faixa, Uma Rota]. Este é um processo gerador de investimento, criador de emprego, criador de oportunidades”, reforçou também Marques da Cruz, presidente da CCILC e membro do conselho de administração da EDP, onde a elétrica China Three Gorges detém uma participação de 21,35 por cento.

Sines sem interessados

Em Outubro último, o país assinou com duas entidades financeiras, Haitong Bank e Banco Chinês de Desenvolvimento, um acordo para uma linha de crédito dirigida a empresas chinesas que queiram fixar-se na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS). Algo que a AICEP Global Parques, entidade responsável pela estrutura, acredita que possa acontecer até 2019. 

“Nos próximos dois a três anos o investimento chinês em Portugal, como na Europa, vai deixar de ser um investimento tão-só financeiro e passar a ser um investimento também de localização. Aí, acho que vai haver mudanças significativas, tanto em investimento industrial como em investimento-presença logística em Portugal – e especificamente em Sines”, entende Francisco Palma Mendes, presidente da comissão executiva da AICEP Global Parques. Segundo o responsável, foram já tidas conversas técnicas com os agentes de financiamento para que estes possam informar potenciais interessados.

“O que estamos à espera é que, neste caso Haitong e China Development Bank, possam identificar interessados para os quais temos uma resposta técnica e comercial imediata de maneira a fazer com que esse investimento se possa concretizar”, diz Mendes Palma.

“É suposto à volta do Porto de Sines desenvolver-se plataformas logísticas, e seria ideal que houvesse também plataformas de processing trade, ou seja, de integração industrial. E obviamente que isto precisa de comunicação, e uma das comunicações que precisa é dos caminhos-de-ferro para mercadorias para entrar depois na rede europeia”, comenta Fernanda Ilhéu, responsável da consultora China Logus, associada ao Instituto Superior de Economia e Gestão em Portugal.

A zona de Sines espera melhorias no transporte ferroviário na ligação a Madrid, para uma futura redução do tempo de circulação em cerca de duas horas e aumento do comprimento das composições, de 450 metros para 750 metros. “É importante, não é essencial. Não é por isso que se justifica a não existência do investimento”, afirma a AICEP Global Parques.

A maior empresa chinesa de navegação de transporte, a Cosco, tem o investimento limitado ao porto que detém hoje na Grécia, Pireus, e admite que não será uma melhor ligação ferroviária a mudar as circunstâncias. “A Cosco investir em Portugal não depende propriamente do comboio”, afirma Mário Leão, chefe do departamento de navegação da Cosco em Portugal. “A Cosco tem estado a investir em Pireus porque o Porto de Pireus pertence-lhe. Portanto, tem de valorizar o Porto de Pireus”, explica.

Mas um eventual investimento em parceria em portos portugueses – não necessariamente o de Sines – não está descartado desde que a Cosco se agrupou na Ocean Alliance, que integra também a francesa CMA CGM, a Evergreen e a Orient Overseas. As operações conjuntas passarão a fazer-se em Abril do próximo ano, com Lisboa a segurar o último ponto europeu nas rotas entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte. A CMA detém hoje o terminal da Liscont, em Alcântara, na capital portuguesa, o que poderá potenciar novos investimentos, entende Leão.

“Vai existir agora uma mudança de parceiros e vai depender dos investimentos que os parceiros queiram fazer. Aí é que poderá haver um investimento. E, depois, depende dos próprios resultados financeiros das próprias empresas, porque as empresas de navegação neste momento estão todas muito constrangidas”, afirma o responsável da Cosco em Portugal.

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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