Renminbi offshore com “perspetivas promissoras”

por Arsenio Reis

Em 2015, os serviços em renminbi prestados a instituições financeiras lusófonas representaram pouco mais de um por cento do volume de compensações realizadas pelo Banco da China de Macau. Mas a instituição acredita que o negócio irá crescer com a nova aproximação chinesa às economias de língua portuguesa.

Os volumes de renminbi negociados entre o Banco da China de Macau e bancos dos países de língua portuguesa são ainda marginais no conjunto das operações da instituição financeira que detém autorização exclusiva para comprar moeda no mercado interbancário chinês. Mas o banco vê “amplas oportunidades” para o sector financeiro de Macau com o apoio manifestado pelo primeiro-ministro Li Keqiang à afirmação de Macau como um centro de compensação do renminbi para os mercados lusófonos.

No ano passado, os serviços de compensação para os mercados de língua portuguesa realizados pelo Banco da China de Macau representaram pouco mais de um por cento no conjunto das operações de compensação da instituição, fixando-se num valor de 7,6 mil milhões de yuans, equivalente a 1,12 mil milhões de dólares. “Embora não constituam uma grande parte do volume comercial anual de quase 100 mil milhões de dólares, as perspetivas são promissoras”, entende o banco, em resposta escrita ao PLATAFORMA MACAU.

Bancos de Angola, Portugal, Brasil e Moçambique possuem atualmente contas de compensação em renminbi no Banco da China de Macau. Na primeira metade deste ano, os serviços a mais de três dezenas destas instituições representaram apenas a um volume de compensações de 2,67 mil milhões de yuan, de acordo com dados divulgados pelo Banco da China de Macau em Agosto e citados pelo canal de rádio de língua chinesa da TDM. No total, nos primeiros seis meses deste ano foram regularizadas operações em renminbi num valor de 523,7 mil milhões de yuan – ou 77,25 mil milhões de dólares ao câmbio atual.

“Em Outubro deste ano, Li Keqiang, visitando Macau pela primeira vez, trouxe com ele um enorme presente em termos políticos, anunciando que o governo central apoia a transformação de Macau num centro de compensação do RMB para países lusófonos. Isto oferece uma importante via para a integração de Macau na estratégia nacional de internacionalização do RMB, podendo no futuro aumentar de forma exponencial o peso e notoriedade de Macau e do seu sector financeiro a nível internacional”, afirma o Banco da China.

O banco cita os dados também apresentados por Li Keqiang durante a última conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, para recordar que há neste momento cerca de mil empresas de capitais oriundos dos países de língua portuguesa estabelecidas na China. Em direção contrária, a carteira de investimentos chineses nesse grupo de países ronda os 50 mil milhões de dólares, com o volume de projetos de construção chineses na mesma geografia a superar 90 mil milhões de dólares. Já as trocas comerciais bilaterais alcançaram no ano passado 98,47 mil milhões de dólares, caindo 25,73 por cento face ao ano anterior. 

Apesar da tendência de desaceleração – que se mantém este ano com uma quebra de 12,25 por cento no volume de comércio bilateral até Julho, de um valor total de 51,5 mil milhões de dólares –, o Banco da China de Macau reflete a expectativa de que a relação de trocas entre China e bloco lusófono contribua para uma maior utilização do renminbi.

“As trocas comerciais entre a China e os países lusófonos não são só uma parte importante da cooperação económica e comercial a nível internacional, mas também são uma via para o uso internacional do RMB”, afirma a instituição, que acredita numa adopção maior da divisa nas reservas internacionais, pagamentos e investimentos após a inclusão no cabaz de direitos de saque especiais do Fundo Monetário Internacional no início deste mês.

“Acreditamos que, com a abertura da China ao mundo, a cooperação económica e comercial entre a China e os países lusófonos irá inevitavelmente continuar a intensificar-se. Ao mesmo tempo que irá ajudar o processo de internacionalização do RMB, serão também proporcionadas amplas oportunidades de desenvolvimento no sector financeiro”, defende o Banco da China de Macau, apontando três fatores.

Em primeiro lugar, estão a dimensão das economias e mercados nesta relação: China e países lusófonos representam 17 por cento da produção económica e 22 por cento da população mundial, sublinha. A instituição realça também as relações de complementaridade entre a China e os países em desenvolvimento no grupo de cooperação, que precisam de infraestruturas e de avançar nos respetivos processos de industrialização. Por fim, está o apoio de Pequim à afirmação de Macau como plataforma de serviços.

“[Este apoio] contribui para uma maior participação por parte do sector financeiro de Macau nos projetos de cooperação sino-lusófona em serviços como a liquidação comercial, investimentos ou empréstimos transfronteiriços”, diz o Banco da China de Macau.

O Banco da China de Macau encontra-se autorizado a conduzir operações em renminbi desde 2004, funcionando como instituição de compensação para os restantes bancos com operações na divisa em Macau. O estatuto permite-lhe aceder diretamente ao mercado interbancário chinês, gozando de uma quota para compra da moeda e permitindo que contorne eventuais faltas de liquidez no mercado offshore de renminbi. Possui igualmente maior margem para criar novos instrumentos de financiamento denominados em renminbi do que bancos cujas provisões de moeda dependem dos volumes que circulam fora do país.

A instituição financeira da RAEM é uma das 19 que em todo o mundo operam com autorização do Banco Popular da China como centros offshore de compensação da moeda do país – neste caso, por intermédio da casa-mãe, Banco da China, na China continental, e através de acordo celebrado com a Autoridade Monetária de Macau. Já o Banco da China de Hong Kong, primeira instituição autorizada a prestar estes serviços, em 2003, acede diretamente ao banco central chinês para as suas operações.

Hong Kong é o principal centro offshore de compensação do renminbi, concentrando mais de 70 por cento dos valores transaccionados – por norma, remessas dirigidas a empresas da região administrativa especial vizinha e da China Continental. O segundo maior centro offshore da moeda é desde este ano o Reino Unido, que destronou o lugar de Singapura e cativa mais de 6 por cento das operações em valor, de acordo com dados do grupo SWIFT divulgados no final do primeiro trimestre. Nesse período, Macau ocupava a 10ª posição no ranking dos centros offshore de compensação da moeda, com uma quota de apenas 0,4 por cento dos volumes de renminbi transaccionados mundialmente, ao mesmo nível da Bélgica.

Dados da mesma organização, relativos a Junho, indicam que o principal canal das operações de compensação da moeda chinesa diz respeito a fluxos  entre Hong Kong e Reino Unido, com um peso de 25,8 por cento. Seguem-se as operações realizadas entre Hong Kong e Estados Unidos, com um peso de 9,9 por cento, e as que ocorrem entre Hong Kong e Singapura, com um peso de 6,4 por cento.

O renminbi era em Setembro a quinta moeda mais usada em pagamentos internacionais, com um peso de 1,86 por cento, atrás do dólar americano (42,5 por cento), euro (30,17 por cento), libra (7,53 por cento) e iene japonês (3,37 por cento).  

Maria Caetano

Pode também interessar

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!