Relações obviamente internacionais

por Arsenio Reis

Há uma aparente contradição entre a natureza constitucional da Região Administrativa Especial e a sua obrigação de promover relações económicas e culturais entre a China e os países de língua portuguesa. Se, por um lado, a autonomia de Macau exclui a política externa; por outro, a missão de ser plataforma não pode ser cumprida sem relações internacionais.
Na conferência interministerial, entre 10 a 12 deste mês de Outubro, a estrela maior é o primeiro-ministro Li Keqiang, anfitrião em solo nacional, que seduziu os primeiros-ministros lusófonos a garantirem ao evento o mais alto nível político. Contudo, sejam quais forem os compromissos alcançados – esperam-se novidades importantes ao nível do fundo lusófono e dos acordos triangulares – a conferência tem um caráter simbólico e diplomático que não substitui o trabalho do dia a dia. Aliás, o Fórum Macau é uma estrutura multilateral que muitas vezes sofre o ónus de uma culpa que nem sempre lhe cabe, pois os resultados dependem sobretudo das relações intergovernamentais e do empreendedorismo privado.
Do ponto de vista da promoção da estratégia e da dinâmica relacional, o governo de Macau tem de se mostrar fora de portas, plantando a bandeira da plataforma onde quer que ela faça sentido. Como é óbvio, as viagens organizadas pelo Instituto para a Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, o Centro de Produtos Portugueses e o site para a cooperação não resolvem o problema.
Há um caso curioso no Brasil, onde o Estado de São Paulo, pela sua relevância económica, assume uma política externa agressiva – no bom sentido – fazendo acordos com países como os Estados Unidos, a França ou a Alemanha. Não os que lhe apetece, mas aqueles que se inserem nas competências estaduais, negociadas com o governo federal.
É esse o caminho de Macau: as deslocações oficiais não podem ser circunstanciais, muito menos tímidas; os contatos têm de ser consistentes e ambiciosos; a coordenação com Pequim tem de ser permanente. Não pela sua importância económica, mas pela geoestratégia em que se insere, Macau tem de perder o medo de ultrapassar competências, sob pena de ser incompetente no cumprimento dos objetivos que, de facto, servem a diplomacia chinesa.

Paulo rego

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