O carater “He” na Diplomacia da Caligrafia

por Arsenio Reis

Durante a reunião do G20 em Hangzhou, Peng Liyuan, a esposa do presidente Xi Jinping, na capacidade de anfitriã, levou as esposas dos líderes das delegações estrangeiras numa visita a uma academia de arte, convidando-as também a escrever o carater chinês “he” (paz e harmonia).

A caligrafia chinesa é executada com pincel, embora a escrita moderna já tenha transitado da caneta para os teclados de computador. A função da escrita de registar e comunicar sentimentos já foi ocupada pelas novas tecnologias, mas na China continental e em muitos países e regiões da Ásia como o Japão, Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Hong Kong e Macau, muitas crianças começam desde cedo a praticar a caligrafia. Muitas escolas em Hong Kong e Macau oferecem aulas de caligrafia, cultivando desde a tenra idade o interesse dos alunos por esta arte. A Academia do Cidadão Sénior do Instituto Politécnico de Macau e muitas organizações sociais disponibilizam também workshops de caligrafia, permitindo aos mais idosos continuarem a usar a arte caligráfica como forma de cultivar a harmonia interior, a retidão, a concentração, a honestidade e mesmo o caráter moral. Naturalmente, estas atividades têm como alvo os cidadãos chineses ou de etnia chinesa.

Entre as esposas dos líderes das delegações estavam a esposa do presidente indonésio, Iriana Joko Widodo, a esposa do presidente do Laos, Khammeung Vorachith, a esposa do primeiro-ministro da Singapura, Ho Ching, e a esposa do secretário-geral das Nações Unidas, Yoo Soon-taek, todas elas asiáticas e com algum conhecimento da caligrafia chinesa. Em particular, acredito que a esposa do secretário-geral das Nações Unidas estivesse já bem familiarizada com esta arte, uma vez que Ban Ki-moon é ele próprio um calígrafo.

Embora a Coreia do Sul tenha há já muitos anos passado por uma “desinização”, o secretário-geral das Nações Unidas, de nacionalidade Sul-coreana, possui um enorme interesse pela cultura chinesa. Ban Ki-moon possui particularmente uma paixão pela caligrafia chinesa, e para além de a praticar como hobby, também estuda caligrafia com o professor Zhou Bin da East China Normal University.

O professor Zhou Bin, falando da caligrafia chinesa de Ban Ki-moon, comentou: “O secretário-geral Ban Ki-moon, com o seu profundo conhecimento e incomparável experiência de vida, encontra durante os seus estudos caligráficos muita matéria para reflexão. Disse uma vez, por exemplo, que a caligrafia e a diplomacia têm muito em comum, uma vez que ambos exigem enormes esforços e diversas tarefas subjacentes. Perante uma obra notável de caligrafia, quando o observador admira e se deixa encantar pelo trabalho, poucos pensarão nas raízes amargas que deram origem a estes doces frutos, nos anos de estudo assíduo e prática árdua. Numa situação de paz, estabilidade e harmonia, quem sabe o quanto trabalham arduamente os diplomatas das Nações Unidas para que tal se concretize? Daqui se pode concluir que um belo objeto, uma obra extraordinária, seja ela uma caligrafia em papel ou a paz e harmonia mundiais, são o fruto do suor do seu criador.”

O interesse de Ban Ki-moon pela cultura chinesa é extremamente profundo, o que se reflete também nas suas escolhas caligráficas. Como secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon admira particularmente o conceito de “he” na cultura chinesa. Por isso, durante a gala em direto do Festival da Primavera de 2015 da CCTV, Ban Ki-moon, com a ajuda de Zhou Bin, escreveu a pincel o provérbio “Numa família em harmonia, tudo prospera”. Numa ocasião anterior, encontrando-se pela primeira vez com o presidente Xi Jinping em Pequim em 2013, Ban Ki-moon ofereceu-lhe uma obra de caligrafia com os carateres “Tian Di He Yong”. Estes quatro carateres representam o que pode ser considerado o objetivo último do conceito de “he”, paz e harmonia no Céu e na Terra. Embora usando uma via distinta, o convite da primeira-dama chinesa Peng Liyuan à escrita do carater “he” tem em vista o mesmo objetivo.

Ban Ki-moon deixará este ano o seu cargo e regressará à Coreia do Sul, tencionando candidatar-se à presidência do país em 2017. Estará o conceito de “he” ligado às suas intenções políticas?

DAVID Chan

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